Raquel Landim

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Opinião

Erro de Lula não é se vacinar contra a dengue, mas esconder

Reportagem da Folha de S.Paulo informa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se vacinou contra a dengue no dia 5 de fevereiro, sem divulgação e antes do Sistema Único de Saúde (SUS) iniciar a campanha de imunização. Especialistas em saúde pública ouvidos pela coluna afirmam que o erro de Lula não é se vacinar, mas não dar transparência a esse fato.

A dengue mata e o Brasil vive um surto sem precedentes. Até agora foram 2.197 mortes confirmadas e outras 2.276 em investigação, superando todos os números registrados de 2000 para cá. Há vários motivos para o surto: introdução de novos tipos de vírus no país, mudanças climáticas e o arrefecimento nas medidas de combate ao mosquito transmissor pelos governos federal, estadual e municipal.

Do ponto de vista individual e de saúde pública, faz todo sentido se vacinar, quando há imunizante disponível. No caso do presidente, Lula tem 78 anos e a vacina da dengue na rede pública só é indicada para pessoas até 59 anos. Portanto, o acesso para essa faixa etária seria pela rede privada. Ele viajou para o exterior, logo é recomendável que se vacine para evitar levar o vírus para outros países.

Então por que o sigilo? O motivo é político. Como explicar que o presidente se vacine se os brasileiros não encontram acesso ao imunizante porque não tem oferta - nem mesmo na rede privada? O Ministério da Saúde comprou praticamente todo o lote disponível no fabricante e ainda assim é suficiente para atender apenas a faixa de 10 a 14 anos.

Mas daí não tem outro caminho senão a verdade. Lula tem uma recomendação médica expressa, que demonstra que ele está em maior risco do que os outros? Mostrem para a população. Aproveitem o momento da vacinação do presidente para exemplificar que a vacina é segura e eficaz mesmo para pessoas acima de 59 anos.

Expliquem que vale a a pena tomar o imunizante ainda que no setor privado se houver poder aquisitivo para tanto. Apontem os investimentos para que a vacina da dengue seja produzida no país e chegue a todos os brasileiros. Peçam desculpas pelos erros no combate ao mosquito e demonstrem o que está sendo feito para melhorar.

O Planalto fez o contrário. Não só escondeu que o presidente tomou o imunizante, como, questionado pela reportagem via Lei de Acesso à Informação, não divulgou a clínica privada que o atendeu. Esse sigilo dá margem a suspeita - não confirmada e gravíssima - de que o imunizante possa ter vindo do SUS. Lula é o presidente da República, mas ninguém tem o direito de furar a fila.

Na pandemia da covid-19, o comportamento de Jair Bolsonaro, obviamente, era muito pior. Ele zombava da vacina, atrasou a compra do imunizante, nunca liberou sua carteira de vacinação, e agora é investigado pela Polícia Federal de ser beneficiado por um esquema para falsificar o documento. Mas o país não deve nivelar seus critérios éticos e políticos por baixo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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