Topo

Reinaldo Azevedo

Presidente pisca para bandidos do CE. E censura general Braga indiretamente

General Braga Netto, novo ministro da Casa Civil. Bolsonaro, seu chefe, critica operações de GLO anteriores. A mais famosa, no Rio, foi liderada por... Braga Netto - Beto Barata/PR/Flickr/Flickr
General Braga Netto, novo ministro da Casa Civil. Bolsonaro, seu chefe, critica operações de GLO anteriores. A mais famosa, no Rio, foi liderada por... Braga Netto Imagem: Beto Barata/PR/Flickr/Flickr

Colunista do UOL

28/02/2020 07h41

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Atentem, mais uma vez, para a fala do presidente Jair Bolsonaro sobre a greve da PM do Ceará:
"Apelo ao governador do Ceará, o sr. Camilo [Santana], que entrou em contato conosco, pediu GLO, foi atendido por oito dias que resolva esse problema que é do seu Estado. Isso é melhor para todo mundo. Negocie com a sua Polícia Militar, e chegue a bom termo essa questão. Estamos torcendo para isso porque a GLO minha não é 'ad aeternum'. No passado era, com outros presidentes. Comigo, não é. Então a gente espera que o governador, que tem a sua responsabilidade, que, pelo que a gente está sabendo, está buscando solução, mas que se empenhe o máximo possível para buscar uma solução para esse caso, de modo que os policiais possam voltar a cumprir o seu trabalho normalmente aí no Estado".

Observem que, em nenhum momento, o presidente critica uma greve inconstitucional, que deixa a população do Ceará à mercê de dois tipos de bandido: com farda e sem ela.

A Carta proíbe explicitamente a sindicalização e a greve de policiais militares. Há uma combinação de disposições que resulta nessa proibição. O Parágrafo 6º do Artigo 144 define as PMs e os bombeiros como forças auxiliares e reservas do Exército. O caput do Artigo 42 estabelece que eles são "militares dos Estados". O parágrafo 1ª reza que se aplica a esses entes o que dispõe o Parágrafo 3º do Artigo 142. O inciso IV é definitivo: "Ao militar são proibidas a sindicalização e a greve". É indiscutível….

O presidente joga a batata quente no colo do governador e diz um sonoro "vire-se; resolva aí". Isso corresponde a um convite para que policiais militares de outros estados sigam o exemplo de seus homólogos cearenses. Já não resta a menor dúvida, como já apontei neste blog, de que Bolsonaro considera que a bagunça nas PMs dos Estados é útil a seus propósitos.

Os generais que hoje cercam o mandatário — colaborando para, lentamente, corroer a imagem das Forças Armadas — têm mais uma chance de refletir: insuflar, ainda que por palavras oblíquas e ameaças veladas, movimentos grevistas nas PMs corresponde a ameaçar os brasileiros com um banho de sangue, como vem ocorrendo, diga-se, no Ceará.

O ridículo assume tais proporções que o valentão diz que, com ele, as operações de GLO não são "ad aeternum", como ocorria com outros presidentes... Ora vejam: o seu chefe da Casa Civil é ninguém menos do que o general Braga Netto, que comandou a operação no Rio entre 6 de fevereiro de 2018, nomeado pelo então presidente Michel Temer, até 28 de março do ano passado, depois das respectivas posses do próprio Bolsonaro e do governador Wilson Witzel.