Nota de Flávio informa a PGR e STF: um Bolsonaro são todos, e todos são um
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O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) divulgou uma nota sobre a entrevista concedida por Paulo Marinho a Mônica Bergamo, na Folha. Segundo o empresário, o senador contou a ele e a outros que foi alertado, ainda em outubro de 2018, entre o primeiro e o segundo turnos da eleição, que Fabrício Queiroz seria alvo da Operação Furna da Onça. Leia o texto conforme o original. Volto em seguida.
O desespero de Paulo Marinho causa um pouco de pena. Preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão. Trocou a família Bolsonaro por Dória e Witzel, parece ter sido tomado pela ambição. É fácil entender esse tipo de ataque ao lembrar que ele, Paulo Marinho, tem interesse em me prejudicar, já que seria meu substituto no Senado. Ele sabe que jamais teria condições de ganhar nas urnas e tenta no tapetão. E por que somente agora inventa isso, às vésperas das eleições municipais em que ele se coloca como pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio, e não à época em que ele diz terem acontecido os fatos, dois anos atrás? Sobre as estórias, não passam de invenção de alguém desesperado e sem votos.
COMENTO
Antes de entrar no mérito da nota, faço uma observação que precisa ser levada em conta pelo Poder Judiciário, em todas as suas instâncias.
Quando se trata dos Bolsonaros, qualquer individualização das condutas corresponde a fraudar os fatos. Observem que é o próprio Flávio quem diz que ou se está com a "família Bolsonaro" ou não se está. Escolher um corresponde a escolher todos. A imputação a um afeta a todos. O eventual crime de um é o crime de todos.
"Ah, Reinaldo, na esfera penal, isso é impossível..." Eu sei. Ao fazer um julgamento, no entanto; ao considerar as circunstâncias de um crime envolvendo alguém do clã; ao evocar o contexto em que se deu o malfeito, é preciso que os juízes jamais se esqueçam de que a única maneira que têm de ser objetivos é considerar que eles atuam como mosqueteiros clânicos: um por todos e todos por um. Inexiste, para eles, o "eu não sabia". E são eles, sempre!, a deixar isso claro, como faz a nota de Flávio. Quem existe politicamente é a "família Bolsonaro".
Aliás, o próprio presidente já deixou isso claro quando mandou seu porta-voz, Rego Barros, anunciar que jamais atuaria contra "o sangue do seu sangue". Nunca ninguém anunciou algo nem remotamente parecido na República. Jair deu início a uma aristocracia.
Por essa razão, o foro da necessária investigação é o Supremo. Por essa razão, a Procuradoria-Geral da República está obrigada a agir. O senador deixa claro que se trata de um "sim" ou um "não" à "família Bolsonaro". Assim, o eventual vazamento de investigação da Polícia Federal buscava proteger a família, e seu chefe é o agora presidente da República. A investigação sobre eventual interferência indevida do presidente na PF está no Supremo. Adiante.
Sim, Paulo Marinho era um aliado de Bolsonaro e muito cedo deixou de ser. A "família" confiava nele, supõe-se. Tanto é assim que uma propriedade sua servia de QG da campanha, e Marinho era um dos figurões que abria caminhos para o grupo naquilo que antigamente se chamava "alta sociedade". Aliás, essa turma não vai recuperar facilmente essa designação, não é? Ou era "alta" e não abrigava a turma ou a abrigava e "alta" jamais tinha sido. Abrigou. Bingo!
CANDIDATO
Sim, é verdade, Marinho é hoje um aliado de João Doria e se coloca como pré-candidato à Prefeitura do Rio. Essa condição não está sendo omitida de ninguém. E que se note: uma e outra coisa não são crimes, não é? Aliás, nem mesmo a palavra de criminosos é descartada numa investigação policial e numa ação judicial. Fosse assim, não haveria, por princípio, delação premiada. Ou esta serviria para consagrar santos, não para revelar esquemas criminosos.
Então esse negócio de tentar desqualificar uma informação ou acusação porque aquele que as anuncia tem seus próprios interesses é conversa para boi dormir. A coisa não para por aqui.
Marinho fez mais do que afirmações vagas. Ele deixa claro que as, por enquanto, "supostas" revelações de Flávio contaram com testemunhas. Ele acrescenta circunstâncias ao "quê": quando e onde.
A qualificação "desesperado" não cabe ao empresário. É candidato porque quer, não porque esteja tentando se salvar de alguma coisa. Se denunciar a "família Bolsonaro" pode trazer votos, isso diz mais, então, da fama e da reputação do clã do que do "desespero" do pré-candidato.
Marinho, é fato, assumiria a vaga no Senado hoje ocupada por Flávio caso este tivesse seu mandato cassado. Também isso não anula fatos pretéritos, se houve, ou dispensa que se ouçam as pessoas que tiveram, então, ciência do possível crime.
É compreensível e esperado que Flávio rechace as afirmações feitas por Marinho. Mas suas respectivas assessorias jurídica e política deveriam lhe recomendar cuidado para que, ao fazê-lo, as palavras não soem mais como uma chancela do que como uma contestação.