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Reinaldo Azevedo

No queixo do Mito: Trump não quer brasileiros infectando americanos. Amigo!

Sempre há um tolo nas manifestações pró-Bolsonaro brandindo a bandeira americana. Ainda que Trump fosse um doce de coco com o Brasil, isso é de uma estupidez ímpar, certamente inédita no mundo - Foto: Ueslei Marcelino - 3.mai.20/Reuters
Sempre há um tolo nas manifestações pró-Bolsonaro brandindo a bandeira americana. Ainda que Trump fosse um doce de coco com o Brasil, isso é de uma estupidez ímpar, certamente inédita no mundo Imagem: Foto: Ueslei Marcelino - 3.mai.20/Reuters

Colunista do UOL

20/05/2020 08h37

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Pois é... Jair Bolsonaro se ajoelhou aos pés de Donald Trump. E agora leva uma joelhada no queixo. Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, também faz sua genuflexão — nesse caso, ao Deus de Trump. E está sendo chutado da "igreja" do Grande Sacerdote do Ocidente.

O presidente americano afirmou nesta terça que pensa em proibir os voos oriundos da América Latina, especialmente os do Brasil:
"Eu me preocupo com tudo, eu não quero pessoas vindo para cá e infectando nosso povo. Eu também não quero que o povo lá [no Brasil] fique doente. Nós estamos ajudando o Brasil com respiradores. O Brasil está tendo alguns problemas, sem dúvida."

Nem a embaixada americana nem o Itamaraty sabem dizer como os EUA ajudam o Brasil com respiradores. A razão é simples: tal ajuda simplesmente inexiste.

Informa a Folha: "Horas depois da fala do americano, a embaixada dos EUA em Brasília anunciou que o governo americano, por meio do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), vai destinar US$ 3 milhões (cerca de R$ 17 milhões) para o combate à pandemia no Brasil. Os recursos, porém, não se referem aos respiradores, mas serão empenhados, segundo a embaixada, "para melhoria do rastreamento de casos, no controle de surtos e no fornecimento de dados para uma reabertura segura no Brasil. Há pouco mais de um mês, em 14 de abril, o secretário de Estado, Mike Pompeo, disse que os EUA ajudariam o Brasil com insumos somente quando a situação melhorasse entre os americanos —hoje são mais de 1,5 milhão de casos de Covid-19 confirmados nos EUA, com 91,5 mil mortes."

Eis aí. O Brasil é aquele país que mandou às favas o princípio a reciprocidade — contra os próprios interesses — e, com sabujice inédita, resolveu dispensar visto para a entrada de americano em seu território, embora a restrição à entrada de brasileiros nos EUA tenha, na prática, aumentado.

A ameaça de Trump é um despropósito porque, por ora, o epicentro da crise do coronavírus, hoje, são os EUA. Isso não quer dizer que o Brasil de Bolsonaro não caminhe celeremente para o pódio.

Confrontados com os dados do seu país, diz o presidente americano:
"Quando nós temos muitos casos, eu não vejo isso como uma coisa ruim. Eu vejo, em certo aspecto, como uma coisa boa porque significa que estamos testando melhor. Eu vejo como uma medalha de honra. É uma grande mostra da nossa capacidade de testagem e de todo o trabalho que muitos profissionais estão fazendo."

A fala é digna de um falastrão irresponsável. Como tardou para tomar as medidas de restrição social e subestimou os riscos do vírus, agora tenta exibir com orgulho a sua montanha de mortos. Em plena campanha eleitoral, resolveu abrir guerra contra a OMS e mantém o dedo apontado contra a China.

O que esperar de quem diz tomar cloroquina preventivamente, tendo já especulado sobre uma forma de injetar desinfetante para matar o vírus?

Os americanos também têm o seu poeta da "cloroquina com tubaína"...

Ainda que os EUA não suspendam os voos oriundos do Brasil, o amigão de Bolsonaro transformou o país no território do vírus. Pior: nesse particular, não está errado.

A cada vez que a extrema direita vai babar verde às portas dos palácios, em Brasília, sempre aparece um Zé Mané carregando a bandeira americana...

É gente infectada pelo vírus da burrice.