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Reinaldo Azevedo

Assessor do "Mito" enviou "está por pouco" a Witzel na madrugada de domingo

Ministro autorizou operação na quinta. Na madrugada de domingo, assessor de Bolsonaro já mandava um "não perde por esperar" para Witzel; deputado bolsonarista falou em operações da PF ainda no domingo. Polícia só entrou em ação na terça - Reprodução/Twitter
Ministro autorizou operação na quinta. Na madrugada de domingo, assessor de Bolsonaro já mandava um "não perde por esperar" para Witzel; deputado bolsonarista falou em operações da PF ainda no domingo. Polícia só entrou em ação na terça Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

27/05/2020 08h27

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O ministro Benedito Gonçalves, do STJ, autorizou o mandado de busca e apreensão nos endereços de Wilson Witzel e de sua mulher no dia 21 de maio, uma quinta-feira. Deve ter chegado à Polícia Federal na sexta, dia 22. Antes que deputados bolsonaristas demonstrassem ter o dom da premonição, um assessor palaciano enviou um enigma a Witzel na forma de um desenho.

No Twitter, o governador havia feito uma crítica a Jair Bolsonaro, acusando-o de não respeitar a independência entre os Poderes. E diz esperar que, num futuro muito próximo, "o povo brasileiro entenda que, do que ele me chama, é essencialmente como ele próprio se vê".

Lembrem-se de que, no vídeo da reunião tarja-preta, o presidente se referiu a Witzel como "estrume".

Pois bem... Filipe Martins, assessor internacional de Bolsonaro, militante de extrema direita e membro do gabinete do ódio, respondeu ao governador com uma imagem: um relógio!

O sentido parece mais do que claro: "Sua hora está chegando".

Duvidar por princípio de que tenha havido safadeza no Rio e em outros Estados? Eu não! Que se apure tudo.

Ignorar, no entanto, que os indícios de vazamento são escandalosos é fazer papel de trouxa.

Atenção! Essa mensagem de Martins foi enviada aos 38 minutos do sábado. A operação só foi deflagrada na terça.

FILIPE BARROS
Tão ou mais intrigante do que a premonição da deputada Carla Zambelli (abaixo) foi a do também deputado Filipe Barros, do PSL do Paraná. Já do domingo, às 22h25, ele recebeu uma mensagem do divino, dirigindo uma provocação a Sergio Moro:
"Seu Sérgio diz que @jairbolsonaro não teve compromisso com a pauta de combate à corrupção.
Mais uma vez, os FATOS desmentem sua narrativa mentirosa.
Bastou sair do Ministério da Justiça que a Polícia Federal voltou às ruas em operações de combate à corrupção, agora no
COVIDÃO."

Por falar em "narrativa", palavra que eles adoram empregar, notem que o apelido da dita-cuja já estava definido porque empregado por Carla só na segunda.

CARLA ZAMBELLI
A deputada Carla Zambelli (PSL-SP), intimíssima do bolsonarismo, dispõe também dos dons da premonição. Exercita artes divinatórias. Um verdadeiro assombro.

Em entrevista na segunda-feira de manhã à Rádio Gaúcha, ela resolveu ler cartas. E anteviu:
"O presidente Jair Bolsonaro colocou um delegado da Polícia Federal, a gente já teve algumas operações da Polícia Federal que estavam ali na agulha para sair, mas não saíam. A gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar talvez de '
Covidão', ou de... né? Não sei qual vai ser o nome que eles vão dar, mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal".

Em nota, ela tentou se justificar:
"Informações já conhecidas e publicadas na mídia de que em vários estados estavam sendo realizadas investigações da Polícia Federal e das respectivas polícias civis sobre esquemas de corrupção com recursos públicos federais".

De fato, aqui e ali, havia notícia de preços elevados de respiradores, de aparelhos que não eram entregues, mas iminência de operações da PF? Bem, desafia-se a deputada e exibir que "informações publicadas na mídia" a levaram a essa conclusão.

E há o dado que é do balacobaco. Zambelli recorre ao apelido "covidão", que já tinha sido usado por seu colega de bancada.

Carla é casada com o coronel Aginaldo de Oliveira, comandante da Força Nacional de Segurança. O agora desafeto Moro foi padrinho do enlace.

ANDERSON MORAES
Informa o Globo:
O deputado estadual Anderson Moraes (PSL), da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), afirmou em uma transmissão ao vivo realizada em 13 de maio, há quase duas semanas, que tinha certeza de que a Polícia Federal (PF) bateria em breve na porta do governador Wilson Witzel (PSC) no âmbito da investigação sobre contratos da Saúde fluminense. Nesta terça-feira, 13 dias após a declaração de Moraes, agentes da PF estiveram em endereços ligados a Witzel para cumprir mandados de busca e apreensão autorizados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A corporação foi parabenizada pelo presidente Jair Bolsonaro após a ação.

CONCLUO
O palco principal da manobra que resultou na operação contra Witzel -- e podem se preparar que vem agora uma, se me permitem o paradoxo, tempestade a conta-gotas -- é a Procuradoria-Geral da República. Já o vazamento pode, sim, ter origem na PF, uma vez que se nota que a operação contra o governador era dada como certa.

Com ou sem motivos, o objetivo é derrubá-lo. Para deixar claro quem manda.

Nasce uma nova cruzada do "Jair contra a corrupção".

Sobre uma montanha de cadáveres.