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Reinaldo Azevedo

BADERNA NAS PMs 3: Atenção, governadores! A serpente põe ovos nos quartéis

Senador Cid Gomes é atingido por tiro disparado por policiais militares amotinados no Ceará - Reprodução/Facebook
Senador Cid Gomes é atingido por tiro disparado por policiais militares amotinados no Ceará Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

15/06/2020 01h04

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É impressionante que o novo regime dos generais a que se submete o Brasil esteja assistindo a flagrantes explícitos de indisciplina militar — e da Polícia Militar —, com o estímulo evidente do presidente da República.

No motim armado de parte da PM do Ceará, não foi apenas Moro a elogiar o espírito pacífico dos subversivos. Também o coronel Aginaldo de Oliveira, que, originalmente, pertence aos quadros da Polícia Militar daquele Estado, exaltou os bandidos armados.

Escrevi neste blog:
"O coronel Aginaldo de Oliveira, diretor da Força Nacional de Segurança, que estava no Ceará para garantir o policiamento em razão da greve de policiais militares, discursou como líder sindical e da rebelião de amotinados na assembleia que aprovou o fim do movimento criminoso. Está evidenciado. Está provado. Está demonstrado. O governo federal, por intermédio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, atuou na crise ao lado de uniformizados armados, que tomaram os quarteis, rasgando a Constituição e a lei."

Prestem atenção à fala aos amotinados do homem que comanda a Força Nacional de Segurança:
"Só os fortes conseguem atingir os seus objetivos. E vocês estão resistindo, vocês estão atingindo objetivos. Acreditem: vocês são gigantes, vocês são monstros, vocês são corajosos. Demonstraram isso ao longo desses dez, 11, 12 dias em que estou aqui, dentro deste quartel, em busca de melhorias para a classe, que vão conseguir."

Imaginem se, durante o governo Lula ou Dilma, um motim de policiais militares num estado governado por um adversário do PT merecesse essa saudação de uma autoridade federal que, em tese ao menos, lá estava para a manutenção da lei e da ordem.

O coronel é casado com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP). Sergio Moro, na condição de padrinho, discursou e lascou estas belas palavras, referindo-se à parlamentar:
"Não é todo mundo que sai na rua com coragem para protestar, para manifestar pelo bem do país. Eu, sinceramente, não sei se teria esse tipo de coragem. Mas é uma guerreira. Sem formação de policial militar, mas mereceria aqui uma medalha de caveira honorária de tropa especial".

Zambelli continua a estimular a desordem no país, agora antecipando ações da Polícia Federal contra os governadores. Moro rompeu com a turma e tenta encontrar um lugar para ensaiar um discurso de reação ao bolsonarismo, mas sem expressar arrependimento por ter servido aos fascistoides.

OUTROS SINAIS
O proselitismo bolsonarista nos quarteis é intenso. Se não for contido a tempo, logo haverá policiais enfrentando destacamentos do Exército na base da bala. Ou estarão todos juntos contra o povo.

No dia 31 de maio, no Rio, um grupo que protestava contra Bolsonaro segurava uma faixa com os dizeres "Democracia rubro-negra", produzida por torcedores do Flamengo. O deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ) pede a um PM autorização para chegar até a turma. E ouve a seguinte resposta:
"Meus amigos tá ali (sic), já mandei eles ir lá queimar aquela bandeira ali (sic)".

O próprio Silveira publicou o vídeo nas redes sociais.

A PM de São Paulo investiga duas abordagens estupidamente violentas de policiais militares em São Paulo. Um vídeo mostra PMs agredindo um homem em Barueri, na noite da sexta. O ataque é gratuito e continua mesmo com a pessoa já rendida, no chão. Vizinhos que tentaram protegê-lo também são brutalmente atacados. Seis dos policiais envolvidos na operação foram afastados.

Outro vídeo mostra PMs espancando um jovem, também rendido, no Jaçanã, Zona Norte da capital, na madrugada deste sábado (13). Oito policiais da Força Tática do 43º Batalhão foram afastados das ruas. Um dos policiais chuta o jovem e depois usa as duas mãos para agredi-lo. Pouco depois, outro PM bate com um cassetete no rapaz, que é arrastado para um beco, onde continua apanhando.

Ação da PM de São Paulo durante um baile funk na favela de Paraisópolis, na madrugada de 1º de dezembro do ano passado, resultou na morte de nove jovens. O então comandante-geral, Marcelo Vieira Salles, saiu em defesa dos policiais, entrando em rota de colisão com o governador João Doria, que criticou os excessos. Em março, Sales entregou o cargo. Não sem antes afirmar o seguinte em um discurso de formatura:
"Não esperem reconhecimento daqueles que não conhecem o cheiro da pólvora ou o calor dos incêndios."

Especula-se que o ex-comandante-geral possa vir a disputar um cargo eletivo.

Neste domingo (14), um repórter do UOL foi empurrado por um PM sem identificação, o que é irregular, quando gravava um princípio de tumulto entre três jovens identificados como neonazistas e manifestantes contrários ao governo Bolsonaro.

Ao ser empurrado, o celular do repórter caiu no chão e teve a tela danificada. A comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) lamentou a ação. Não havia aglomeração de pessoas. Segundo testemunhas, o policial empurrou para atrapalhar o registro.

Alô, senhores governadores! Acionem seus respectivos sistemas de Inteligência. A serpente fascistoide andou botando ovos nos quarteis das PMs Brasil afora. E isso tem de ser contido já.

Os senhores generais que integram o novo regime militar em vigência no país estão orgulhosos de sua obra?