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Reinaldo Azevedo

FORA DA LEI 3: Principal agente do FBI fala da "queda de governo" no Brasil

Dilma Rousseff logo depois de o Senado cassar o seu mandato, no dia 31 de agosto de 2016. Agente do FBI se referiu ao fato como evidência da eficiência do trabalho do órgão - Bruno Keller/Reuters
Dilma Rousseff logo depois de o Senado cassar o seu mandato, no dia 31 de agosto de 2016. Agente do FBI se referiu ao fato como evidência da eficiência do trabalho do órgão Imagem: Bruno Keller/Reuters

Colunista do UOL

02/07/2020 07h45

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Ah, sim: os americanos têm noção do efeito de seu trabalho nos demais países. Prestem atenção a estes trechos da reportagem:

A expressão usada por Leslie Rodrigues Backschies para descrever o impacto político das investigações do FBI sobre corrupção estrangeira é que são "politicamente sensíveis".

"Esses casos são muito sensíveis politicamente, não somente nos Estados Unidos mas no exterior," explicou a agente especial em entrevista à Associated Press. "Quando você está olhando para oficiais estrangeiros em outros governos — quer dizer, veja, na Malásia, o presidente não foi reeleito. Nós vimos presidentes derrubados no Brasil. Esses são os resultados de casos como esses. Se você está olhando para membros do alto escalão de governos, há muitas sensibilidades."

Resta, claro!, uma questão: por que os Estados Unidos se sentem no papel de polícia do Planeta, atribuindo-se a tarefa de investigar corrupção em outros países?

Nesse caso, como em qualquer outro, a resposta parece óbvia: "Siga o dinheiro". Leslie tenta uma resposta, vamos dizer, de caráter humanitário. Mas parece não ter conseguido lograr seu intento. Leiam.

A explicação de Leslie para o foco do FBI na corrupção internacional - e por que investigar empresas que cometeram corrupção fora dos Estados Unidos ajuda a melhorar a segurança dos cidadãos americanos - é rocambolesca. "Queremos que se cumpra a lei. Se a lei não é cumprida, você terá certas sociedades nas quais eles [os cidadãos] sentem que os governos deles são tão corruptos, que irão buscar outros elementos que são considerados fundamentais, que eles vêem como limpos ou algo contra o regime corrupto, e isso se torna uma ameaça para a segurança nacional [dos Estados Unidos]".

"Uma coisa quando eu falo com empresas, eu digo 'Quando você paga um suborno, você sabe onde o dinheiro está indo? Sua propina está indo para financiar terrorismo?'", completa, sem explicar como isso ocorre.

Em julho de 2019, Leslie Backschies participou de mais um evento para discutir corrupção internacional, dessa vez em Washington, DC, e desvendou mais uma atuação "sensível" da polícia americana no exterior. Segundo o site Market Insight a agente especial afirmou que o FBI tem a estratégia de valer-se de membros de governos de outros países para buscar investigar casos de FCPA.

Ela afirmou que, quando há uma mudança de regime, uma nova administração às vezes pede ajuda para investigar a corrupção no governo anterior. E quando um novo governo chega a um país, pode haver servidores restantes do governo anterior que querem relatar a corrupção.

A atuação do FBI em casos fora do seu território tem gerado diversas críticas entre juristas, que apontam que os Estados Unidos se comporta como "polícia do mundo".

Bem, caros, dizer o quê? Uma cosa é o FBI colaborar com governos ou mesmo com o Ministério Público, sob o crivo dos controles democráticos — onde há democracia. Outra, muito distinta, é isso que agora vem a público.

A Polícia Federal dos EUA, como reconhece Leslie, atua, se for o caso, derrubando governos para preservar os interesses americanos. Quais mesmo?

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