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Reinaldo Azevedo

Depois de processar membro da Corte, Deltan vai ao STF para ser Catarina II

Catarina II: ah, ela mandava mesmo!  Não havia lei deste mundo que contivesse o poder do seu cetro - Reprodução
Catarina II: ah, ela mandava mesmo! Não havia lei deste mundo que contivesse o poder do seu cetro Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

11/08/2020 08h30Atualizada em 11/08/2020 16h41

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E Deltan Dallagnol, sempre ele!, que processou a União porque foi criticado por Gilmar Mendes, ministro do STF — venceu em primeira instância apenas; a coisa vai longe —, recorreu ao próprio Supremo para tentar se manter no cargo de coordenador da Lava Jato de Curitiba.

Leiam o que informa o Estadão. Volto em seguida.
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O procurador da República Deltan Dallagnol, líder da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para travar dois processos do Conselho Nacional do Ministério Público que podem tirá-lo da operação. As ações estão previstas para serem julgadas na terça-feira, 18, e miram a conduta de Dallagnol em relação à publicação nas redes sociais e supostas atitudes de promoção pessoal.

Os dois processos disciplinares foram apresentados pelos senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Katia Abreu (PP-TO). Enquanto Calheiros acusa Deltan de tentar influenciar as eleições para a presidência do Senado no ano passado ao publicar tuítes críticos ao emedebistas, Katia Abreu questionou o acordo firmado pela Lava Jato Paraná com a Petrobras para destinar R$ 2,5 bilhões recuperados pela operação e que seriam geridos por uma fundação dos procuradores.

Ambos os casos foram pautados para a sessão de terça, 18. Ao recorrer ao Supremo, Deltan alega que não tem outra alternativa e pede que a Corte trave o julgamento dos casos e, 'no mérito, seja determinado o seu trancamento, diante dos diversos vícios que o contaminam'.

O chefe da Lava Jato Paraná afirma que suas declarações sobre as eleições do Senado, em 2019, 'apenas relatou um fato objetivo' e 'agrega uma análise de cenário sobre o futuro das reformas anticorrupção'. À época, Deltan afirmou que, caso Renan Calheiros fosse eleito para comandar a Casa, 'dificilmente veremos uma reforma contra a corrupção aprovada'. O procurador ainda destacou que o emedebista tinha 'várias investigações por corrupção e lavagem de dinheiro'.
(...)
O julgamento dos processos contra Deltan está agendado para o próximo dia 18, e o grupo favorável ao afastamento do procurador já conta com ao menos seis dos 11 votos do Conselhão. A estratégia é evitar um pedido de vista, que adiaria a análise do caso, e aprovar já em caráter liminar a saída de Deltan da Lava Jato.

COMENTO
É do balacobaco!

No dia da eleição da Mesa do Senado, Deltan Dallagnol praticamente deu plantão nas redes sociais detonando um dos postulantes ao cargo. Ele pode ter a opinião que quiser sobre Renan Calheiros. Procurador da República é homem de Estado — no caso, do MPF. Posso achar um absurdo que ele continue lá — e acho! Será que fazer campanha contra um postulante à Presidência de uma das Casas Legislativas é papel de um procurador? A resposta, obviamente, é "não!"

No dia da eleição, as hordas bolsonaristas se assanharam contra a candidatura de Renan Calheiros. Até aí, vá lá. A turma fazia política. Mas cabe ao coordenador da Lava Jato de Curitiba se comportar, como se comportou, com um militante político? Foi o que fez.

Quanto à história da fundação, bem... Creio trata-se do maior de todas as aberrações praticadas pela Lava Jato, a tempo impedida porque a própria PGR recorreu ao Supremo, e o ministro Alexandre de Moraes impediu que o valor estratosférico de R$ 1,25 bilhão fosse empregado na criação de uma "fundação de direito privado". Outro tanto ficaria reservado, sob a guarda de Curitiba, para eventuais ações de acionistas minoritários.

Dallagnol, acreditem, costurou com os americanos — já que a multa da Petrobras, originalmente, deveria ser paga nos EUA — o destino que teria o valor pago por uma estatal brasileira. E o acordo escalafobético foi homologado no Brasil pela juíza Gabriela Hardt. Ok. Ela já fez coisa pior.

Até quando este senhor vai se comportar como o Luiz XIV da força-tarefa? Ah, espero que ele não se ofenda por ser associado, por metáfora, a "Luís XIV". Ou com Catarina II da Rússia? Ou com Gengis Khan? Até quando o Conselho Nacional do Ministério Público permitir. Parece que há a disposição para lhe botar algum freio.

E o rapaz apela, então, ao Supremo, esperando que o tribunal impeça, sabe-se lá por qual razão, o Conselho Nacional do Ministério Público de tomar uma decisão, o que seria uma aberração. Mas esse país já viu até boi voador. Somos governados por um coroa-propaganda da cloroquina. Tudo parece ser possível.