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Reinaldo Azevedo

Russomanno já era; Bruno teme Boulos, mas PT vira aliado objetivo do tucano

Datafolha/Folha
Imagem: Datafolha/Folha

Colunista do UOL

23/10/2020 08h40

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O prefeito Bruno Covas (PSDB) já não precisa mais se preocupar com Celso Russomanno (Republicanos). Como de hábito, ele derreteu. E olhem que as emissoras que se negaram a fazer debate colaboraram com a sua candidatura, querendo ou não. Bastou um único, na Band, para começar esse derretimento. Depois, o abraço de Jair Bolsonaro e o entendimento muito particular que ele tem do coronavírus — afirmando que a falta de banho imuniza a população de rua — fizeram o resto. Agora Bruno, tudo indica, só tem mesmo a temer é um eventual segundo turno com Guilherme Boulos (PSOL) e, mais improvavelmente, com Márcio França (PSB). Mas, pelo visto, o tucano pode contar com a ajuda do PT e de Lula, que insistem em Jilmar Tatto, o nome inviável.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta, Russomanno já está com 20% das intenções e voto. Tinha 29% em 21/22 de setembro e 27% em 5/6 de outubro. Se o derretimento continuar, pode nem disputar o segundo turno. Bruno tem agora 23%. Antes, 20% e 21%. Como se nota, o crescimento é modesto.

Hoje, aponta o Datafolha, o tucano venceria Russomanno com folga no segundo turno: 48% a 36%. Houve uma inversão espetacular. Há pouco mais de duas semanas, o candidato do Republicanos venceria por 46% a 40%. Isso dá uma medida, vamos a outra metáfora, do esfarelamento do seu nome.

A margem de erro e de três pontos percentuais para mais ou para menos. O Datafolha não fez outras simulações de segundo turno.

O abraço de urso que Bolsonaro deu em Russomanno e a sabujice do candidato ao "Mito" ajudam a explicar o resultado. O presidente é rejeitado na cidade por 46% dos paulistanos, segundo Datafolha de setembro. Alguns dirão: "Doria tem rejeição de 39%". Pois é.

Ocorre que a campanha de Bruno conseguiu acertar o tom. Ele aparece como um político autônomo. A abordagem é suave, evitando estridência, baixaria, ataques, bate-boca. Já a linguagem adotada pela turma de Russomanno esbarra no populismo cru.

Resultado: sua rejeição disparou: há um mês, era de 21%; saltou para 29% há duas semanas e agora está em 38%. Com Bruno, aconteceu o contrário: 31%, 31% e agora 25%.

BOULOS, PT ETC.
Praticamente sem horário na TV, contando só com a militância e com as redes sociais, Guilherme Boulos está com 14% -- antes, 9% e 12%. Nos limites extremos da margem de erro, está em empate técnico com Russomanno, embora isso seja pouco provável. Em quarto lugar numérico, aí em empate técnico, também improvável, com o candidato do PSOL, está Márcio França, que marca 10% -- antes 8% nas duas pesquisas.

O PT não conseguiu, até agora, tornar viável o nome de Jilmar Tatto. Só um milagre — que é o acontecimento sem causa — o colocaria no segundo turno: sim, pode-se dizer que ele quadruplicou seus votos em duas semanas: ocorre que tinha 1% e agora está com 4%, para uma rejeição de 23% — a de Boulos é de 24%. O candidato do PT está, assim, empatado com Arthur do Val, nome do MBL que concorre pelo Patriota.

Quem tem mais chance de eventualmente ultrapassar Russomanno se este continuar em queda? Boulos ou França? O candidato do PSB tem horário na televisão; o do PSOL mal tem tempo de dizer "olá". Mas há a favor de Boulos o trabalho nas redes sociais, muito mais intenso, com uma linguagem mais moderna e vibrante.

Mais: no voto espontâneo, há um empate técnico entre os três primeiros da pesquisa estimulada: Russomanno aparece com 13%, e Boulos e Bruno, com 11%. Para notar: o candidato do PSB é conhecido por 65% dos eleitores; o do PSOL, por apenas 46%. Aí o horário eleitoral faz falta, não é mesmo? Parece que o PT não quis, mais uma vez, correr o risco de ganhar uma eleição com um candidato que não é do partido.

Vamos ver. Os petistas esperavam chegar ao fim deste mês com o seu candidato com ao menos 10%. Nada indica que vá acontecer. O tucano está numa situação confortável: parece impensável a hipótese de não ir para o segundo turno. Acontecendo, será mamão com açúcar enfrentar Russomanno. Se Bolsonaro der uma forcinha a seu candidato, tanto melhor...

Tudo o que Bruno não quer é surpresa: enfrentar Boulos, com a presumível união das esquerdas — e aí o apoio explícito do PT — ou mesmo Márcio França, que atrairia adesões de lideranças de centro. Por enquanto ao menos, o tucano pode contar com o PT como um aliado objetivo.