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Reinaldo Azevedo

Na Folha: Advirta o otimismo da vontade com o pessimismo da inteligência

Foto: Roman Tarasevych
Imagem: Foto: Roman Tarasevych

Colunista do UOL

20/11/2020 08h04

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Saúdo alguns sinais que vêm das urnas como auspícios de sanidade. Mas estamos ainda lendo o voo das aves e fazendo interpretações. Convém não confundir presságios com realidade, bom augúrio com antevisão do futuro. "O mundo é para quem nasce para o conquistar/ E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão." Os versos pertencem ao poema "Tabacaria", de Fernando Pessoa, no heterônimo Álvaro de Campos. Não se trata de autoajuda para tontos, mas de autoironia para sábios. No verso seguinte, escreve: "Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez". O poeta conquistou o mundo como inapto e sonhador. A literatura, felizmente, consagra o erro porque não é tabela trigonométrica. A política é quase.

O eleitorado, na média, manteve distância da estupidez encarnada pelo presidente da República. O sobrenome "Bolsonaro" agregado a candidatos (re)elegeu apenas o vereador Carlos, que obteve 35.657 votos a menos do que em 2016, quando Jair era só um postulante à Presidência, de sucesso então improvável. O poder do pai tirou votos do filho. Até o bolsonarismo Nutella do Novo levou uma sova. Os laranjas que faziam a dança do acasalamento da antipolítica com férias em Miami não conseguiram eleger nem um miserável prefeito. Seus candidatos obtiveram menos de 392 mil votos no país. Ou mudam o CEO ou chamam de volta o antigo, sei lá.
(...)
Há fatores de risco para a sobrevivência do presidente como candidato, mas também os há para o seu fortalecimento. Não cabem neste texto. O que, nesse cenário, independe de artes divinatórias? Se esquerda e centro-esquerda preferirem a balcanização à federação e se centro e centro-direita juntarem mais vaidades do que objetividade --flertando, inclusive, com a antipolítica--, os auspícios da sanidade podem dar na terra dos mortos. Eleições municipais e federais têm variáveis distintas, eu sei. Estas estão muito mais sujeitas à guerra de valores. As abstrações ideológicas tomam o lugar dos buracos nas ruas. Cresce, pois, o perigo do flerte com a estupidez. Não quero ser o chato da festa, leitor, eu juro! Mas não custa lembrar que a "cadela do fascismo está sempre no cio". Melhor que o "pessimismo da inteligência" torne prudente o "otimismo da vontade".

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