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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

STF: Silveira tem de ser preso, e vídeo, tirado do ar. Mianmar não é aqui

Daniel Silveira - Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados
Daniel Silveira Imagem: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados

Colunista do UOL

16/02/2021 22h59

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O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) tem de ser preso imediatamente, por flagrante de crime inafiançável, conforme prevê o Artigo 53 da Constituição. O vídeo que gravou no Youtube tem de ter uma cópia guardada para instruir o processo, mas tem de ser retirado do ar por incitar a violência contra ministros do Supremo. E Arthur Lira, presidente da Câmara, tem de decidir se é mesmo alguém que lidera a mais importante Casa legislativa ou se pretende comandar a arruaça. Já chego lá.

O Brasil passa por eventos inéditos, sabemos todos, e nem é preciso elencá-los aqui. Antes que fevereiro termine, teremos 250 mil pessoas mortas em razão de uma única doença no intervalo de um ano. A institucionalidade está sendo permanentemente afrontada. Aí está a mãe de todos os desatinos. E, por óbvio, sempre há alguém disposto a ir um pouco além. Daniel Silveira (PSL-RJ), deputado federal, gravou um vídeo que tem como alvo principal o ministro Edson Fachin. E não se contentou só com ele. Sobraram ataques inomináveis a Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Roberto Barroso e Marco Aurélio.

O Artigo 53 garante a imunidade parlamentar no exercício do mandato. Mas não para o cometimento de crimes. Silveira já é investigado em dois inquéritos que correm no STF: o aberto de ofício pelo tribunal para investigar a indústria de Fake News e outro, instaurado a pedido da PGR, que apura a organização e financiamento de atos antidemocráticos.

O que se ouve ao longo de quase 20 minutos seria intolerável num regime democrático ainda que ele já não fosse investigado. Acusa abertamente ministros de cometer crimes em penca - incluindo envolvimento com o narcotráfico —, há uma clara incitação à violência contra membros da Corte - Fachin em particular —; desafia os ministro a uma reação na certeza de que nada vai lhe acontecer porque se julga protegido pela imunidade parlamentar; apela a um linguajar que mistura em doses asquerosas calúnia, difamação e injúria; convoca, na prática, as Forças Armadas a depor o Supremo...

Não vou repetir aqui termos de sua linguagem de esgoto. Bem, esse é o cara que rasgou a placa com o nome de Marielle Franco, gesto que, não há escapatória, deve ser lido como solidariedade com seus assassinos. Não é de hoje que ele decide ir além da linha de qualquer limite razoável.

Cometeu crimes. Isso nada tem a ver com liberdade de expressão ou imunidade parlamentar.

Tem de ser preso.

Nesse caso, a Constituição prevê que a prisão seja submetida ao plenário da Câmara em 24 horas. Pode ser referendada ou não pela maioria dos seus membros. É claro que a voz de Arthur Lira (Progressistas-AL), presidente da Casa será importante.

Há ainda, e está em vigor também para eles, a Lei de Segurança Nacional.

Silveira reincide nos crimes. Ainda que venha a ser preso e que os deputados decidam soltá-lo, os inquéritos contra ele continuam. Não me parece possível que escape, especialmente depois do vídeo, de uma condenação, com a consequente condenação, perda do mandato e prisão.

O general Eduardo Villas Bôas sofre de uma doença terrível. Nesse particular, merece solidariedade. Mas ela não afeta o seu juízo. Ele e outros militares têm de se lembrar que palavras têm consequências.

Cadeia já para Silveira. E que a Câmara faça a coisa certa.

Mianmar não é aqui.