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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Lula lidera 1º turno; petista e Ciro bateriam Bolsonaro no 2º; Huck empata

PoderData/Reprodução
Imagem: PoderData/Reprodução

Colunista do UOL

18/03/2021 07h47

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Muita gente acabou caindo no papo-furado de alguns assessores de Jair Bolsonaro e também no de analistas que sonhavam, assim, com uma candidatura de centro que juntasse, deixem-me ver, um Luciano Huck como titular e um Sergio Moro como vice. Note-se: o apresentador nunca atacou a democracia e o Estado de direito. O outro é um roedor de institucionalidade. E é de extrema direta, não um centrista. Mas volto: quando Lula se tornou elegível — e tudo vai depender de a maioria do STF ter um comportamento digno ou indigno, e é bom que olhem para a Terra dos Mortos —, veio a conversa mole: "Ah, Jair Bolsonaro encontrou seu oponente ideal; isso tudo é coisa do bolsopetismo".

Há até algumas almas ingênuas que acreditam nessa tolice. No mais das vezes, é mesmo má-fé. Escrevi aqui e disse em toda parte tratar-se do exato oposto. Tudo o que Bolsonaro não quer é enfrentar Lula num segundo turno em 2022. Mais: a depender de como se rearranjem as forças políticas, o presidente pode é ficar fora da etapa final da peleja. Mas já tratei disso em outros artigos.

Pesquisa "PoderData/Band", divulgada ontem, traz um cenário eleitoral não muito auspicioso para Bolsonaro. E, sim, Lula lideraria a disputa no primeiro turno se ela ocorresse hoje e o bateria no segundo — nesse caso, não só o petista.

O petista aparece com 34% das intenções de voto no primeiro turno, seguido de Bolsonaro, com 30%. A margem de erro é de 1,8 ponto para mais ou para menos. Logo, a diferença está fora da margem de erro e não caracteriza empate técnico. Em seguida, vêm Sergio Moro, com 6%; Ciro Gomes (PDT), com 5%; Luciano Huck, com 4%; João Dória (PSDB), com 3%; João Amoedo (Novo), com 3%, e Luiz Henrique Mandetta (DEM), com 2%. Brancos e nulos somam 10%; não sabem ou não responderam, 3%. Sim, a eleição ainda está distante, mas Lula se tornou elegível há apenas 10 dias.

SEGUNDO TURNO COM LULA
Bolsonaro também seria derrotado por Lula no segundo turno por 41% a 36%, com os brancos e nulos somando 18%; não sabem ou não responderam 5%. Também nesse caso, a diferença está fora da margem de erro. O petista bateria o presidente em todas as faixas de escolaridade e nas Regiões Sudeste (45% a 30%) e Nordeste (49% a 31%), as mais populosas. Bolsonaro chegaria na dianteira nas outras três: Sul (45% a 32%), Centro-Oeste (57% a 32%) e Norte (47% a 23%).

SEGUNDO TURNO COM HUCK
Huck, que marcaria apenas 4% no primeiro turno, chegaria numericamente à frente do presidente no segundo, mas aí em empate técnico: 40% a 37%. Em dezembro, as posições eram invertidas: 38% a 44%. Houve uma mudança de nove pontos percentuais contra o dito "Mito".

No Sudeste, a dianteira do apresentador é grande 42% a 30%, mas, no Nordeste, ficam em empate técnico (36% a 37%). O Sul poderia se descolar bem do presidente; sua vantagem seria pequena: 39% a 36%. O mesmo se dá no Centro-Oeste: 49% a 48%. O Norte continuaria bastante fiel a Bolsonaro: 53% a 42%.

SEGUNDO TURNO COM CIRO
Ciro Gomes bateria Bolsonaro por 39% a 34%, fora da margem de erro. A particularidade, nesse caso, seria um número expressivo de brancos e nulos: 23%. Disseram não saber 4%. Note-se: em setembro do ano passado, o presidente venceria o ex-governador do Ceará por 48% a 33%.

Com números distintos, Ciro repete o padrão de Lula no corte por regiões: venceria com diferença expressiva no Sudeste (40% a 31%) e enorme no Nordeste (48% a 24%). Nas demais, a vitória seria de Bolsonaro: Sul (41% a 25%); Centro-Oeste (52% a 40%) e Norte (43% a 32%).

Cumpre notar: Sudeste (43%) e Nordeste (27%) compõem 70% da amostra — números correspondentes à distribuição da população no território brasileiro: o Sul representa 15%; o Norte, 8%, e o Centro-Oeste: 7%.

SEGUNDO TURNO COM JOÃO DORIA
Segundo a pesquisa, o presidente venceria o atual governador de São Paulo por 41% a 31%, com 23% de brancos e nulos e 5% que dizem não saber em quem votar.

Doria venceria no Sudeste por 37% a 30% e perderia nas demais regiões: Sul (45% a 30%); Centro-Oeste (53% a 33%). Norte (59% a 24%) e Nordeste (47% a 24%).

É claro que esse é o retrato de um período em que o governador de São Paulo está sob um intenso bombardeio do governo federal. A campanha eleitoral de 2022 certamente passará pela pandemia. Se candidato, Doria terá nas costas milhões de vacinas, que salvaram vidas. Nas de Bolsonaro, pesarão muitos milhares de mortos.

O MICO MORO
A pesquisa autoriza a inferência de que a Lava Jato não terá grande peso na eleição -- a não ser pelo avesso, caso Lula seja candidato. No primeiro turno, o ex-juiz e atual empresário Sergio Moro obtém apenas 6% dos votos. Seria derrotado por Bolsonaro por 38% a 31%, e os votos brancos e nulos entrariam em disparada: 29%. Só 2% não saberiam em quem votar.

No Sudeste, o ex-juiz venceria o ex-chefe por 36% a 30%, e haveria empate no Sul: 35% a 36%. O atual presidente venceria nas demais: Centro-Oeste (48% a 37%), Norte (59% a 27%) e Nordeste (42% a 21%).

Moro conta ainda com uma elevadíssima rejeição: não votariam nele 60% dos entrevistados. Dizem o mesmo sobre Bolsonaro 53%. A rejeição a Lula é a menor entre os nomes testados: 40%.

AVALIAÇÃO DE BOLSONARO E DO GOVERNO
Dispararam tanto a rejeição ao desempenho pessoal do presidente como a seu governo. Dizem que ele faz um trabalho ruim ou péssimo 52%, e 54% pensam o mesmo da gestão. Ele é ótimo ou bom para apenas 24%. Afirmam o mesmo sobre o governo apenas 32%.

AUXÍLIO EMERGENCIAL
Vêm por aí os quatro meses de auxílio emergencial, que vai atingir menos gente, com valores muito menores. Em princípio, ao menos, não parece ter potencial para alterar, por si, de forma substancial, a avaliação sobre o trabalho do presidente. Os próximos dias serão marcados pelo medo e pela incerteza em razão da pandemia.

Nesta quarta, o Banco Central deu uma pancada nos juros, com elevação de 0,75 ponto da taxa. A inflação está prestes a chegar ao teto da meta. E certamente não é por excesso de demanda. É que as loucuras que Jair Bolsonaro andou fazendo no país levaram à disparada do dólar, o que saltou para os preços. Mas não é só: a inflação e alimentos foi brutal.

Como a elevação dos juros vai interferir de maneira tão importante no câmbio, com o quadro que aí está, é um mistério que o Banco Central guarda para si. Uma coisa é certa: a elevação atua contra o crescimento da economia. Não é uma boa notícia para Bolsonaro, com seu "Banco Central Independente"...

A reeleição está mais distante do que nunca. É a boa notícia.