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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Uma máscara, duas máscaras, álcool em gel. Ocupe as ruas. Contra o golpe!

Protesto contra Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, no dia 29 de maio. É preciso voltar às ruas. Não só pelo impeachment, mas conta o golpe - NELSON ALMEIDA / AFP
Protesto contra Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, no dia 29 de maio. É preciso voltar às ruas. Não só pelo impeachment, mas conta o golpe Imagem: NELSON ALMEIDA / AFP

Colunista do UOL

22/07/2021 17h18

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Use uma máscara.

Se for o caso, duas.

Evite que alguém venha lhe dizer coisas ao pé do ouvido.

Tente impedir que os valores do grito de indignação de outros passem por suas vias aéreas. Abuse do álcool em gel.

E vá às ruas.

Chegando em casa, tire os sapatos na entrada. Lave as mãos. Coloque a roupa para lavar. Vá tomar um banho.

Mas vá às ruas neste sábado.

Vá às ruas nos sábados vindouros.

Agora já não é mais só pelo impeachment. Também é pela democracia.

A rigor, convenham, sempre foi por isso. É esse o valor que Jair Bolsonaro ameaça já desde a campanha eleitoral. Sua postulação usou como fachada algumas teses liberais, que ele abraçou na última hora. A conversa mole servia apenas para seduzir os mercados, usando Paulo Guedes como fachada. A postulação sempre foi essencialmente mentirosa.

Este escriba nunca caiu na conversa, como sabem. Sempre viu naquele a quem chamavam "Mito" — e também por causa desse apelido ridículo — o mal absoluto na política porque, por óbvio, o que "mito" pretende ser nega a essência da própria política. É claro que não poderia dar certo.

Sempre foi golpista. Mas não hostilize os que caíram na conversa. Se ninguém mudar de voto, ele se elege de novo.

Bolsonaro cometeu mais de 30 crimes de responsabilidade. Então vá às ruas pelo impeachment. É uma pauta legítima, democrática, legalista. Mas agora há um motivo a mais: leve também a sua indignação contra a ameaça golpista.

Sim! Braga Netto, ministro da Defesa, ameaçou com a não realização de eleições em 2022 se o voto impresso for rejeitado, O alvo da investida foi Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara. Este deixou claro a Jair Bolsonaro que ele seu grupo não desertariam das hostes presidenciais até a última hora. Mas dentro das regras do jogo.

A questão chegou a Luiz Fux, que chamou o presidente para um papinho no dia 12. Marcou-se a tal reunião entre os Poderes para o dia 14. Bolsonaro se internou. E o resto a gente sabe. Tentou se reeditar, de maneira canhestra e ainda mais farsesca, a "agonia" de 2018. Não colou. O presidente logo levantou, andou e voltou a atacar as instituições.

Os militares apostaram que Lira iria se mexer para garantir o voto impresso. Não aconteceu. Esperto, preferiu alertar os que deveriam ser alertados. As tentações golpistas ainda não passaram, mas passaram a ser menos prováveis. E então se optou por um outro arranjo. O centrão, por intermédio de Ciro Nogueira, vai assumir o comando da política. Oferecerá a Bolsonaro uma espécie de seguro e proteção em favor da manutenção do mandato. Mas sem tropas ameaçando o pleito.

FATOR LULA
Que fique claro: os militares estão pouco se lixando se o voto é impresso ou não. Eles não gostaram é do que apontam as pesquisas: se a eleição fosse hoje, Lula venceria as eleições -- como, aliás, teria vencido em 2018 não tivesse sido condenado por um juiz incompetente e suspeito, tendo essa condenação sido referendada pela segunda instância.

Parte dos militares, no Brasil, se sente à vontade para dizer em quem o povo pode e não pode votar. Estão insatisfeitos com o Supremo por causa da elegibilidade de Lula. Assim, esses fardados colocam-se como juízes dos eleitores e, suprema ousadia, como juízes também dos juízes.

Em nenhuma democracia relevante do mundo os fardados exercem hoje essa função de tutela. O arreganho autoritário de agora é desdobramento dos tuítes absurdos de autoria do general Villas Bôas, em abril de 2018, exigindo que Lula fosse mantido na cadeia ao arrepio da Constituição. Não aconteceu nada. Os quarteis foram tomando gosto pela coisa.

Os desmentidos em curso não bastam para debelar a ameaça. Que fale Augusto Aras, procurador-geral da República. Releiam a nota de Lira, não há desmentido nenhum.

AS RUAS
A ameaça aconteceu. Os que defendem a democracia não tem outro caminho que não evidenciar a sua vigilância.

Coloque uma máscara.

Coloque duas máscaras.

Abuse do álcool em gel.

Proteja-se do coronga.

E vacine o país contra o vírus do autoritarismo.

Ocupe as ruas. Contra o golpe. E em paz. A paz dos vivos.

Não a paz dos cemitérios que nos deu o militarizado Ministério da Saúde.