Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Plenário aprova Aras. Lembro: sem CPI, Saúde seguiria como Casa de Horrores
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O plenário do Senado aprovou a recondução de Augusto Aras ao comando da Procuradoria Geral da República — na verdade, do Ministério Público da União — por 55 votos a 10. Há dois anos, o placar foi mais entusiasmado a seu favor: 68 a 10.
Era o esperado.
Já disse aqui quase tudo que considero que havia a ser dito. Se Aras colaborou, sim, para desmobilizar a Lava Jato, mãe do aparelho fascistoide que resultou em Jair Bolsonaro — e, pois, fez muito bem nesse particular —, não é menos verdade que o considero omisso no enfrentamento dos crimes cometidos pelo presidente. E, por isso, se eu votasse, teria dito "não" à recondução.
"Ah, mas Bolsonaro sempre poderia incidir numa escolha ainda pior". Não tenho razões para duvidar disso.
Ocorre que olho o desempenho da PGR no que concerne aos ataques de Bolsonaro aos valores mais comezinhos da civilização e da ciência e, por óbvio, não tenho como anuir com aquilo.
Uma evidência basta: não fosse a CPI da Covid-19, nada saberíamos das insanidades criminosas que se praticavam no Ministério da Saúde: da desídia na compra de vacinas que existem à arquitetura criminosa para comprar as que não existem, tudo ficaria escondido.
O comitê criado na PGR para acompanhar o combate à Covid ameaçou se tornar uma nova Lava Jato, mas aí mirando os governadores, como se a responsabilidade primordial por coordenar os esforços de combate à doença não fosse do governo federal.
Não vou cair nas tramas do moralismo babaca: "Ah, políticos votaram em Aras em busca da impunidade". É mesmo? E aqueles que reconduziram Rodrigo Janot? Buscavam o quê? O punitivismo que afundou a República? Recebeu 59 votos. Eu, por exemplo, em lugar de Dilma Rousseff, nem teria feito a indicação para a recondução. Mas ela o fez.
A menos que alguém articule, de fato, a derrubada de um nome, organizando partidos, conclamando a que atuem como ordem unida, a aprovação acontece mesmo. Não foi das mais entusiasmadas, mas se deu. Vamos ver como se comportará o procurador-geral quando chegar às suas mãos o relatório da CPI.
Terá ele, ao menos, a curiosidade que todos temos de investigar os muitos silêncios que garantiram a não-autoincriminação? Por certo, não se autoincriminariam por crimes cometidos por terceiros, não é mesmo, ou que lhes fossem atribuídos, do nada, pelos membros da comissão.