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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Íntegra desconstruída das mentiras de Bolsonaro na ONU, feita de palanque

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

21/09/2021 16h46

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O presidente Jair Bolsonaro fez o pior dos três discursos na abertura da Assembleia Geral da ONU. Mentiu sobre o passado e o presente e teve a audácia, que se confunde com sandice, de defender o comprovadamente fraudulento tratamento precoce contra a Covid-19.

Fez um discurso, conforme ele mesmo havia prometido, para animar a sua militância. Usou a ONU como palanque e se expôs ao ridículo e ao vexame — como se os três dias em Nova York já não nos tivessem brindado o suficiente com ridicularias.

Segue o seu discurso em vermelho. Com intervenções minhas em azul.

Senhor Presidente da Assembleia-Geral, Abdulla Shahid;

Senhor Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres;

Senhores chefes de Estado e de governo e demais chefes de delegação;

Senhoras e senhores, é uma honra abrir novamente a Assembleia-Geral das Nações Unidas. Venho aqui mostrar um Brasil diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisões. O Brasil mudou, e muito, depois que assumimos o governo em janeiro de 2019.
Já começa mal. A verdade não estaria no que reporta a imprensa nacional e internacional. Ainda que possa haver distorções aqui e ali, os veículos têm mecanismos de checagem e compromisso com as informações objetivas. Mais: abrigam diversidade de opiniões e se abrem ao contraditório.

Vale dizer: é tudo o que o bolsonarismo não faz. As referências de verdade, para o presidente, são os desatinos que seus lunáticos publicam nas redes sociais, onde inexistem a contradita e a contestação. Ao contrário: os que ousam desafiá-los acabam vítimas de correntes organizadas de desqualificação. E o próprio presidente bloqueia em seus perfis aqueles jornalistas que não seguem sua cartilha de sandices. Seria parte do jogo se ele utilizasse tais canais apenas para cuidar de questões pessoais: "Hoje comi muita banana"; "Sai nos jardins do Alvorada para soltar um pum"; "Acabo de ter uma ideia". Mas não. Ele recorre a esses instrumentos para anunciar atos de governo.

Estamos há dois anos e oito meses sem qualquer caso concreto de corrupção. O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição, valoriza a família e deve lealdade a seu povo. Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo.
Lá vem a conversa estúpida de que o país estava à beira do socialismo. É puro investimento no delírio dos seus seguidores. O "liberal" Bolsonaro é aquele que pretende ter o controle estatal das redes sociais. O "liberal" Bolsonaro é aquele que privatiza a Eletrobras impondo, ao mesmo tempo, um plano de socialização de investimentos -- porque apela ao dinheiro público -- para garantir benefícios privados. A privatização da Eletrobras resultará em encarecimento da energia.

Como? Estamos há quase três anos sem casos de corrupção? A afirmação não vale nem como piada depois que a CPI da Covid começou a expulsar os vendilhões de cadáveres que se homiziavam no Ministério da Saúde. O Orçamento secreto constitui, por si só, um caso notável de corrupção política porque implica a relação de compra e venda de votos no Congresso. E há casos notórios de desvios de recursos, por exemplo, na compra de tratores — daí que o esquema tenha sido apelidado de "tratoraço".

Uma palavra serve para designar a prática política da família Bolsonaro: "rachadinha". Flávio e Carlos Bolsonaro são formalmente investigados. E Bolsonaro só não o é porque o crime, que teria sido cometido também em seu gabinete, é anterior ao exercício da Presidência. É bem verdade que jurisprudência do STF permite a investigação, sim. Só impede a apresentação da denúncia. Mas aí precisaríamos de uma outra PGR.

Nossas estatais davam prejuízos de bilhões de dólares no passado, hoje são lucrativas.
O "passado" dos bilhões de dólares de prejuízo das estatais é uma das falácias do bolsonarismo. Aliás, convém que aqueles que enfrentam essa máquina de mentiras formem, desde já, uma comissão de especialistas, realmente plural e independente, para pôr os números na ponta do lápis. 1996 foi o último ano em que o Banco do Brasil ficou no vermelho.

Houve prejuízos, mas também anos de lucro notável e de salto extraordinário na Petrobras e em outras estatais. Reitero: esses números têm de ser postos na ponta do lápis.

Parte do que a gestão Bolsonaro aponta como lucro decorre de desinvestimento — isto é, da venda de ativos. E é claro que os "espertos" sabem disso. A diferença entre o valor do ativo fixado em balanço e do quanto se capta no mercado com a venda total ou de parte das ações entra como lucro.

Nosso Banco de Desenvolvimento era usado para financiar obras em países comunistas, sem garantias. Quem honrava esses compromissos era o próprio povo brasileiro. Tudo isso mudou. Apresento agora um novo Brasil com sua credibilidade já recuperada diante do mundo.
Há aí um apanhado de mentiras. Reproduzo levantamento detalhado do Estadão Verifica:
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que é uma empresa pública federal, realizou 148 operações em 15 países por meio do mecanismo de crédito para exportação de bens e serviços. A afirmação de Bolsonaro é falsa porque todos os contratos tiveram garantias e as inadimplências não foram cobertas por impostos dos contribuintes.

Nesse tipo de operação, o dinheiro público é emprestado para as empresas brasileiras que realizam as obras no exterior. Depois, fica sob responsabilidade dos países estrangeiros fazer o pagamento da dívida com o banco. Essa devolução é feita com juros, em prazo determinado nos contratos. A União é quem estabelece as operações, países de destino, principais condições contratuais e mitigadores de risco, cabendo ao banco a análise e a execução delas.

Os detalhes desse tipo de operação podem ser consultados em uma página criada pela instituição financeira para explicar como funcionam os contratos de exportação firmados a partir de 1998. A maior parte dos empréstimos foi concedida entre 2007 e 2015, durante os governos Lula (2003-2011) e Dilma Rousseff (2012-2016).

De acordo com o BNDES, o projeto do Porto de Mariel, em Cuba, "foi o único que incorreu em 100% do risco soberano de um país, não sendo exigidas garantias de terceiros". O mitigador de risco de crédito, nesse caso, era uma conta corrente em Cuba.

O desembolso total em todos os contratos desde 1998 foi de US$ 10,5 bilhões, e US$ 12,4 bilhões foram recebidos de volta pelo BNDES em pagamentos de dívida e juros até junho de 2021. O saldo a vencer era de US$ 1,3 bilhão, e as parcelas em atraso e não indenizadas, de US$ 29 milhões, divididas entre Cuba e Venezuela.

Além disso, US$ 830 milhões foram indenizados pelo Fundo de Garantia à Exportação (FGE), diante de casos de inadimplência de Venezuela (US$ 555 milhões), Moçambique (US$ 122 milhões) e Cuba (US$ 153 milhões). O FGE é composto por prêmios pagos por empresas exportadoras que contratam o seguro, e não por impostos pagos pela população.

O Brasil possui o maior programa de parceria de investimentos com a iniciativa privada de sua história. Programa que já é uma realidade e está em franca execução. Até aqui, foram contratados US$ 100 bilhões de novos investimentos e arrecadados US$ 23 bilhões em outorgas.

Na área de infraestrutura, leiloamos, para a iniciativa privada, 34 aeroportos e 29 terminais portuários. Já são mais de US$ 6 bilhões em contratos privados para novas ferrovias. Introduzimos o sistema de autorizações ferroviárias, o que aproxima nosso modelo ao americano. Em poucos dias, recebemos 14 requerimentos de autorizações para novas ferrovias com quase US$ 15 bilhões de investimentos privados.

Em nosso governo promovemos o ressurgimento do modal ferroviário. Como reflexo, menor consumo de combustíveis fósseis e redução do custo Brasil, em especial no barateamento da produção de alimentos.

Grande avanço vem acontecendo na área do saneamento básico. O maior leilão da história no setor foi realizado em abril, com concessão ao setor privado dos serviços de distribuição de água e esgoto no Rio de Janeiro. Temos tudo o que o investidor procura: um grande mercado consumidor, excelentes serviços, tradição de respeito a contratos e confiança no nosso governo.

Também anuncio que, nos próximos dias, realizaremos o leilão para implementação da tecnologia 5G no Brasil. Nossa moderna e sustentável agricultura de baixo carbono alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo e utiliza apenas 8% do território nacional.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getúlio Vargas, entre julho de 2020 e o mesmo mês de 2021, o investimento estrangeiro recuou de US$ 67,2 bilhões para US$ 23,8 bilhões.

Há dados importantes que contestam a visão romanceada que Bolsonaro tem do próprio governo. A nossa economia estava em sexto lugar no ranking da ONU de atração de investimentos em 2019. Ao fim de 2020, estava em 11º lugar, recuando ao padrão de há 20 anos. Em 2012, no governo Dilma — fazer o quê, né, Bolsonaro? — a Unctad (Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento) colocou o Brasil em terceiro lugar no ranking dos mais citados como destino dos investimentos. A partir de 2010, o país ficou entre a quarta e a quinta posições. A reversão começou em... 2019, primeiro ano da gestão do "Mito". Mais detalhes aqui.

Nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa quanto a nossa. Nosso Código Florestal deve servir de exemplo para outros países. O Brasil é um país com dimensões continentais, com grandes desafios ambientais. São 8,5 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 66% (dois terços) são vegetação nativa, a mesma desde o seu descobrimento, em 1500.

Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta.

Lembro que a região amazônica equivale à área de toda a Europa Ocidental. Antecipamos, de 2060 para 2050, o objetivo de alcançar a neutralidade climática. Os recursos humanos e financeiros, destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais, foram dobrados, com vistas a zerar o desmatamento ilegal. E os resultados desta importante ação já começaram a aparecer!

Na Amazônia, tivemos uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior. Qual país do mundo tem uma política de preservação ambiental como a nossa? Os senhores estão convidados a visitar a nossa Amazônia!

O Brasil já é um exemplo na geração de energia com 83% advinda de fontes renováveis. Por ocasião da COP-26, buscaremos consenso sobre as regras do mercado de crédito de carbono global. Esperamos que os países industrializados cumpram efetivamente seus compromissos com o financiamento de clima em volumes relevantes.

O futuro do emprego verde está no Brasil: energia renovável, agricultura sustentável, indústria de baixa emissão, saneamento básico, tratamento de resíduos e turismo.
Ai, ai, há muitos modos de contar algumas verdades para mentir. O país possui, de fato, um Código Florestal que considero exemplar -- que, obviamente, nada deve a Bolsonaro. Foi gestado e aprovado em governos petistas, na contramão do que queriam os agrorreacionários que hoje estão com Bolsonaro, mas com o apoio do agronegócio de ponta.

O problema é que a atual gestão se encarregou de agredir o Código dia sim, dia também. Bolsonaro fala para a sua base e sabe que ninguém acredita no que diz.

Há algumas questões objetivas sobre dados de desmatamento, exemplarmente tratados pelo Estadão Verifica. Reproduzo:
Bolsonaro citou números recentes do sistema de alertas de desmatamento Deter, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). A plataforma indica que, em agosto de 2021, foram emitidos alertas para uma área total de 918 km², uma redução de 32% se comparado aos 1.359 km² registrados no mesmo mês em 2020.

A comparação, entretanto, omite fatos importantes sobre o contexto da preservação ambiental no País. Apesar do recuo das estatísticas em agosto, março, abril, maio e junho de 2021 registraram recordes de alertas de desmatamento para esses meses desde o início da série histórica iniciada em 2015.

Como já informado pelo Estadão, o Deter é um sistema de monitoramento por satélite em tempo real que serve para indicar tendências do desmatamento nos biomas brasileiros. Os dados oficiais são consolidados por um outro sistema do Inpe chamado Prodes, que informa as estatísticas anuais. A área desmatada na Amazônia Legal em 2020, segundo o Prodes, foi a maior desde 2008.

Já o Sistema de Alerta de Desmatamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) detectou que a devastação na Amazônia Legal aumentou 7% em agosto de 2021, em relação ao mesmo mês do ano passado. Assim como o Deter, o sistema gera alertas mensais sobre o desmatamento, mas adota uma metodologia diferente.

Quanto à preservação de 84% do bioma, há controvérsias. O número, que pertence à base dados da Embrapa, soma "áreas protegidas na Amazônia, registros autodeclaratórios de proprietários rurais no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e vegetação nativa em áreas de imóveis rurais não cadastrados e terras devolutas. Só assim se chega aos 84,1% de áreas "protegidas ou preservadas" no bioma. O que os especialistas apontam é que esse número não considera a degradação em curso em áreas que, em tese, são protegidas.

Ratificamos a Convenção Interamericana contra o Racismo e Formas Correlatas de Intolerância. Temos a família tradicional como fundamento da civilização. E a liberdade do ser humano só se completa com a liberdade de culto e de expressão.

Catorze por cento do território nacional, ou seja, mais de 110 milhões de hectares, uma área equivalente a Alemanha e França juntas, é destinada às reservas indígenas. Nessas regiões, 600 mil índios vivem em liberdade e cada vez mais desejam utilizar suas terras para a agricultura e outras atividades.
Bolsonaro tinha a intenção -- chegou a anunciá-lo -- de levar para a ONU a questão do marco temporal que está em julgamento no Supremo. Não cometeu, ao menos, essa sandice. Mas destacou o percentual do território ocupado por reservas indígenas -- de fato, entre 13% e 14%.

De todo modo, incorreu numa estupidez ao afirmar, de maneira genérica, que os índios querem usar suas terras "para a agricultura e outras atividades". Alguns querem. Outros não. Há comunidades integradas ao sistema econômico prevalecente no país. Mas há as comunidades tradicionais e os povos isolados.

Ao fazer afirmações genéricas como essa, dá a entender que existe uma política oficial incentivando o avanço da agricultura e da pecuária em terras indígenas. Oficial, ao menos, não há. Mas sabemos que há avanços criminosos nas reservas.

O Brasil sempre participou em Missões de Paz da ONU. De Suez até o Congo, passando pelo Haiti e Líbano. Nosso país sempre acolheu refugiados. Em nossa fronteira com a vizinha Venezuela, a Operação Acolhida, do governo federal, já recebeu 400 mil venezuelanos deslocados devido à grave crise político-econômica gerada pela ditadura bolivariana.

O futuro do Afeganistão também nos causa profunda apreensão. Concederemos visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e juízes afegãos. Nesses 20 anos dos atentados contra os Estados Unidos da América, em 11 de setembro de 2001, reitero nosso repúdio ao terrorismo em todas as suas formas.
Dados do próprio Ministério da Justiça de abril deste ano diziam haver 260 mil venezuelanos residindo no Brasil nas mais diversas modalidades: refugiado, solicitante de refúgio ou residente. A Operação Acolhida, propriamente, interiorizou 50 mil indivíduos daquele país. Pode até ser que 400 mil tenham atravessado a fronteira -- não encontrei esses dados. Mas depois buscaram outro país.

Em 2022, voltaremos a ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Agradeço aos 181 países, em um universo de 190, que confiaram no Brasil. Reflexo de uma política externa séria e responsável promovida pelo nosso Ministério das Relações Exteriores. Apoiamos uma Reforma do Conselho de Segurança da ONU, onde buscamos um assento permanente.
Bem, acho que nem me entregarei a digressões. Este país teve um ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que afirmou orgulhar-se da situação que o Brasil chegou a ocupar no mundo: pária.

A pandemia pegou a todos de surpresa em 2020. Lamentamos todas as mortes ocorridas no Brasil e no mundo. Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial, nos gêneros alimentícios no mundo todo.

No Brasil, para atender àqueles mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos e que perderam sua renda, concedemos um auxílio emergencial de US$ 800 para 68 milhões de pessoas em 2020.
É estupefaciente que vá à ONU para atacar as medidas corretas de restrição de circulação, empreendida pelos governadores, durante a pandemia. E, mesmo assim, estamos perto de 600 mil mortos.

É uma canalhice afirmar que a inflação de alimentos decorre do "lockdown" — que, de resto, não chegou a existir no país. O preço dos alimentos está nas alturas, embora o Brasil tenha batido recorde nas safras de 2019 e 2020.

Na cotação de hoje, chega-se a algo em torno de US$ 800. Mas eis uma conta que mereceria uma auditoria. O Portal da Transparência informa que, no ano passado, foram gastos R$ 293,3 bilhões com o auxílio emergencial, destinados a 67,9 milhões de beneficiários, numa média de R$ 4.313,86 per capita. Ocorre que, nesse número, há muitos que não receberam todas as parcelas de benefícios.

Lembro que terminamos 2020, ano da pandemia, com mais empregos formais do que em dezembro de 2019, graças às ações do nosso governo com programas de manutenção de emprego e renda que nos custaram cerca de US$ 40 bilhões. Somente nos primeiros sete meses desse ano, criamos aproximadamente 1 milhão e 800 mil novos empregos. Lembro ainda que o nosso crescimento para 2021 está estimado em 5%.
Empregos foram criados, sim. A comparação com 2019 é falha porque houve mudança de critério. De resto, há um estoque formidável de desempregados, o que já levou Paulo Guedes a se indispor com o IBGE. De fato, podemos crescer um pouco acima de 5% neste ano. Mas há quem preveja risco de recessão no ano que vem.

Lembro: a OCDE calcula o crescimento mundial neste ano em 5,7%. A ONU calcula o da América Latina em 5,8%. Trata-se de efeito estatístico em razão da recessão do ano passado. No segundo trimestre deste ano, já houve um encolhimento de 0,1% na atividade no Brasil. De todo modo, estaremos mesmo encalacrados é no ano que vem.

Até o momento, o governo federal distribuiu mais de 260 milhões de doses de vacinas e mais de 140 milhões de brasileiros já receberam, pelo menos, a primeira dose, o que representa quase 90% da população adulta. Oitenta por cento da população indígena também já foi totalmente vacinada. Até novembro, todos que escolheram ser vacinados no Brasil serão atendidos.

Apoiamos a vacinação, contudo o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada à vacina.

Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina. Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off label. Não entendemos por que muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial. A história e a ciência saberão responsabilizar a todos.
Meus caros, os números da vacina, ainda que tarde, são reais -- ou perto disso, com variação irrelevante. E sabemos o custo para que se chegasse a isso. Quantas das quase 600 mil vidas poderiam ter sido poupadas se o Ministério da Saúde tivesse comprado prontamente as vacinas que existiam em vez de se entregar ao assalto de uma quadrilha que queria traficar as que nem existiam?

Quanto ao tratamento precoce, dizer o quê? Que o mundo conheça o que diz o maluco. Fala a seu eleitorado e tenta, sei lá, se antecipar a eventual contratempos no Tribunal Penal Internacional. Se ficar demonstrado que brasileiros foram usados como cobaias de drogas sabidamente inúteis, sob o estímulo do governo, é lá que ele vai parar.

No último 7 de setembro, data de nossa independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história, mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo.

Como demonstrado, o Brasil vive novos tempos. Na economia, temos um dos melhores desempenhos entre os emergentes. Meu governo recuperou a credibilidade externa e, hoje, se apresenta como um dos melhores destinos para investimentos.

É aqui, nesta Assembleia-Geral, que vislumbramos um mundo de mais liberdade, democracia, prosperidade e paz. Que Deus abençoe a todos.
Bolsonaro mente sobre o suposto recorde de público nas manifestações em seu favor.

Bolsonaro mente sobre o caráter patriótico e pacífico dos atos que ele mesmo convocou.

Bolsonaro mente sobre o suposto lugar de destaque do Brasil entre os emergentes.

Bolsonaro vive numa realidade paralela.

Usou a ONU como palanque, conforme o prometido; isolou-se ainda mais no mundo e expôs o Brasil a um vexame inédito.