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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A inexplicável saída do bom Maiurino da PF é má notícia em ano eleitoral

Paulo Maiurino, que deixou a diretoria geral da Polícia Federal. Não é, definitivamente, uma boa notícia - Reprodução/Alesp
Paulo Maiurino, que deixou a diretoria geral da Polícia Federal. Não é, definitivamente, uma boa notícia Imagem: Reprodução/Alesp

Colunista do UOL

25/02/2022 23h02

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A saída de Paulo Maiurino do comando da Polícia Federal, substituído por Márcio Nunes de Oliveira — também, delegado e nº 2 do Ministério da Justiça — é, em si, uma má notícia. Antes que vá a detalhes, uma nota: essa conversa de que a decisão coube apenas ao ministro Anderson Torres é conversa pra boi dormir. Ou alguém acredita mesmo, depois de tudo, que algo dessa importância seria operada sem a anuência do presidente?

Não gosto de uma notícia como essa a oito meses das eleições, especialmente porque estou entre aqueles que avaliam que Maiurino vinha fazendo um bom trabalho à frente da PF, razão por que foi alvo do ódio organizado e sistemático das hostes do lavajatismo. Certa esquerda tomada de idiotia inocente acabou ajudando, numa aliança improvável, mas involuntária, com as milícias moristas.

Sim, Maiurino substituiu delegados em alguns postos, como deve fazer o novo diretor-geral. Tentaram associar a ação a uma interferência da Presidência. Nunca se provou absolutamente nada. Recentemente, Moro fez um ataque à PF, acusando-a de politização e de condescendência com a corrupção, porque não haveria as tais grandes operações.

A PF divulgou uma nota contestando o pré-candidato, e o morismo subjornalístico viu nisso uma politização da Polícia. Pura má-fé. Então deveria ter silenciado diante do ataque? A delegada Denisse Ribeiro havia escancarado a atuação de Bolsonaro na divulgação de inquérito sigiloso havia alguns dias. E ninguém interferiu em seu trabalho. Terá esse caso algo a ver com a saída de Maiurino? Esse e outros inquéritos?

É claro que a mudança nada tem a ver com a resposta dada a Moro. Afinal, a PF cobrou que o ex-juiz apresentasse as provas do que dizia. Provas de que não dispõe, só para não variar. É que o doutor sente falta do tempo em que policiais federais eram extensões de sua atuação incompetente e suspeita à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba. Ele quer novas operações espalhafatosas — e Maiurino conteve o espalhafato.

Houve também a operação, devidamente anulada, contra a Ciro Gomes e familiares. Tratou-se de uma aberração, sim, mas autorizada pela Justiça, o que jamais deveria ter acontecido. De resto, lembrem-se: policiais gozam de autonomia absoluta para levar adiante os seus inquéritos. Maiurino, com o que concordo, era favorável a disciplinamento nos casos em que a autoridade investigada tem prerrogativa de foro no Supremo, nos moldes do que existe na PGR. Foi acusado estupidamente de querer tirar a autonomia de delegados na ânsia de centralizar as apurações.

Sua saída pode mexer ainda com outra área importante: a diretoria de Investigação de Combate ao Crime Organizado, a que pertence o Sinq (Serviço de Inquéritos Especiais), hoje a cargo do respeitado Luiz Flázio Zampronha.

A mudança pegou todo mundo de surpresa. Como não estamos tratando de uma troca de guarda na chapelaria do almoxarifado, se isso existisse, convém ficar ligado. Que Bolsonaro não tem apreço pela estabilidade na PF, bem, disso a gente sabe. PF estável mesmo, não é?, era aquela dos tempos do PT. Talvez Bolsonaro diga: "Eis por que não quero..." E isso me leva a uma outra observação.

Talvez Bolsonaro e outros tenham se decepcionado com Maiurino. Afinal, não era para trabalhar direito.

PS: Ainda que o ex-delegado-geral emita uma nota amanhã dizendo que migrou para a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas a pedido, vou me reservar a licença para não acreditar. A gente sabe que Bolsonaro não confia na Polícia quando ela não entrega o que ele quer. A investigação sobre a facada, por exemplo, está, na prática, na terceira jornada. O presidente exige que ela confesse o que ele deseja ouvir.

Estamos em ano eleitoral.