Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Ipespe esfria o frenesi reacionário com Datafolha, que já não o justificava
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Ai, ai... Vamos lá. A pesquisa Datafolha veio a público nesta quinta com números compatíveis com aqueles apontados pelo levantamento do Ipespe do dia 11 e da Genial/Quaest do dia 16, e já comecei a ler artigos que passam a impressão de que Bolsonaro está prestes a virar o jogo. Se vai acontecer ou não, bem, isso eu não sei. Mas estaria muito longe.
E, ora, ora, nem se poderia esperar coisa diferente: sabem quem está sendo acusado de ter colaborado para uma certa recuperação de Bolsonaro? Ninguém menos do que o PT. Isto mesmo: o principal adversário do presidente seria o responsável por certo respiro que o dito "Mito" ganhou nos três primeiros meses.
Adverti aqui na manhã desta sexta: o Datafolha de março comparado com o de dezembro traz uma movimentação importante. Mas esta já havia acontecido ao longo de três meses, e outros levantamentos já a haviam apontado. E aí especulei: "E se Bolsonaro tiver crescido um pouco e já tiver empacado de novo?"
Pois bem. O Ipespe, que divulga pesquisa a cada 15 dias, tornou público nesta sexta o levantamento da quinzena, feito entre os dias 21 e 23 de março. A margem de erro é de 3,2 pontos para mais ou para menos.
O Bolsonaro com ascensão irresistível da pena de alguns colunistas ou estagnou ou encolheu em relação à pesquisa de há duas semanas. Na espontânea, Lula (PT) mantém os mesmos 36%; Bolsonaro (PL) oscila de 26% para 25%, e os outros todos se mantêm em 10%. Na estimulada, o petista teve oscilação positiva: de 43% para 44%, e Bolsonaro, negativa: de 28% para 26%. Sergio Moro (Podemos) também varia para baixo, de 9% para 8%, a exemplo de Ciro Gomes (PDT), de 8% para 7%, e de João Doria, de 3% para 2%. André Janones (Avante), Simone Tebet (MDB), Felipe Dávila e Eduardo Leite marcam 1%.
No segundo turno, Lula varia dois pontos para cima contra Bolsonaro, e este, um para baixo: 54% a 31% — há 15 dias, 53% a 33%. Lula bate Moro por 52% a 30% (antes, 51% a 30%) e Ciro por 51% a 24% (há duas semanas, 51% a 25%). Jair Bolsonaro pode ter melhorado um tantinho sua performance contra Moro: 35% a 33% para o presidente (empate rigoroso há 15 dias). Ciro segue vencendo o presidente: 48% a 36% (antes, 47% a 36%). Contra o governador de São Paulo, o presidente pode estar abrindo uma vantagem: 40% a 37% — na anterior, 38% a 37%.
No Ipespe, o governo Bolsonaro é ruim ou péssimo para 54% e bom ou ótimo para 26% — há duas semanas, respectivamente, 52% a 27%. A reprovação ao governo oscilou de 63% para 65%, e a aprovação, de 32% para 31%. Para 63%, a economia está no caminho errado. Só 27% o veem como correto: na jornada passada, respectivamente, 61% a 29%.
Com a devida vênia, parece que há gente confundindo ou seus temores ou o famoso "wishful thinking" com a realidade.
Bolsonaro melhorou no Datafolha porque já havia melhorado. E pode ser que já tenha parado de melhorar.
É bom tomar cuidado com as extrapolações.
Para quem viu o Datafolha como a nova aurora do arranjo reacionário que está no poder — e os números não autorizavam isso —, a pesquisa Ipespe é um banho de água fria. Ou de realidade.