Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A verdade: incompetente, truculento e corrupto. Quem apostou no contrário?
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Ainda que o governo de Jair Bolsonaro fosse exemplarmente honesto no trato com o dinheiro público, deveria ser derrotado pelos eleitores nas urnas e pelos juízes nas cortes. Os motivos são mais do que explícitos: o presidente se nega a estabelecer um compromisso inarredável com a ordem legal. Ao contrário: não passa semana sem que insinue que, sob certas circunstâncias, pode apelar às armas para pôr fim ao que vê como uma farra de adversários: o regime democrático. Tem-se, pois, de saída que honestidade é condição necessária, mas não suficiente para que um governo se sustente.
Ocorre que essa propalada honestidade é tão falsa como a cruzada do presidente em defesa dos bons costumes. Bolsonaro está longe de ser o "Diógenes, o Cínico" — a não ser pelos impropérios que vomita contra as instituições. Ah, não! O homem não fez voto de pobreza nem tem uma barrica como a sua única vestimenta e morada. Aquele andava por Atenas com uma lamparina, à procura de ao menos um honesto. É verdade: assim o veem esses a que chamam "minions" — os "tios" e "tias" do zap que saúdam o "Mito", a quem atribuem virtudes extraordinárias.
Acontece que, ao acender a sua lamparina, Bolsonaro achou a honradez justamente no Centrão, onde triunfa a moral elevada — agora indo para Roma Antiga — de alguns notáveis "Varões de Plutarco": Ciro Nogueira, Valdemar Costa Neto e Arthur Lira, entre outros. O Diógenes original teria se contentado em encontrar um único honesto. Bolsonaro achou logo três. Um verdadeiro prodígio!
Nesta segunda, em entrevista ao Grupo Liberal, do Pará, o presidente fez a seguinte consideração: "Quantas vezes, no Pará, o governador recebeu a visita da Polícia Federal? Diferente do governo federal. Aqui não tem visita da Polícia Federal, não tem o que investigar aqui, não fazemos nada de errado".
É espetacular! Ele se orgulha de uma PF que vai ao encalço de um adversário político e se jacta de que o mesmo não aconteceria com o seu governo — o que, de resto, nem é exatamente verdade. Ele próprio é alvo de inquérito. Ocorre que operações contra o Executivo têm de passar pelo crivo da Procuradoria Geral da República. A PGR vale mais do que qualquer Anjo da Guarda com desvio de senso moral. De toda sorte, isso é conversa mole.
A casa de horrores em que se transformou o Ministério da Educação, particularmente o FNDE, desmoraliza a falácia de "governo livre de corrupção". Não fosse a vigilância da imprensa, uma compra de ônibus escolares teria arrombado os cofres públicos em mais de R$ 700 milhões. Seria uma cortesia de Nogueira e Costa Neto, dois amantes da Educação que mandam no fundo. São parceiros de Bolsonaro neste país sem corrupção...
Em entrevista à Folha, Nogueira disse tratar-se de "corrupção virtual" porque, afinal, a compra não aconteceu. Pois é... Reportagem do jornal sobre uma empreiteira chamada Engefort, do Maranhão, traz informações do balacobaco. A empresa ganha a maioria dos pregões eletrônicos para pavimentação promovidos pela estatal Codevasf, que também é comandada pelo Centrão.
Até agora, o governo reservou cerca de R$ 620 milhões do Orçamento para pagamentos à dita-cuja. Em desempenho notável, venceu 53 de 99 pregões. Quando não concorreu sozinha, enfrentou competição de uma tal Del Construtora Ltda. Ocorre que essa empresa não existe, é fantasma. Quem responde pelo empreendimento de fachada é um irmão do dono da Engefort.
Segundo Bolsonaro, inexiste corrupção no seu governo. Para Nogueira, ela é apenas "virtual". Errado. Virtual, muitas vezes, é só o asfalto empregado por tal empreiteira. Obras recém-concluídas já estão cheias de buraco. Faz sentido: asfaltar vias é diferente de pavimentar projetos políticos, como sabem os Varões de Plutarco do bolsonarismo.
É claro que jamais caí na conversa dos "autoritários do bem", da turma que, em nome do combate à corrupção, flerta com ilegalidades e, no limite, com ditaduras. Fosse assim, eu teria sido, a exemplo de muitos bananas, um entusiasta da Lava Jato. O bolsonarismo, diga-se, como o conhecemos hoje, desenvolveu-se no caldo de cultura do lavajatismo. O "capitão" estridente e corporativista era outra personagem.
Bolsonaro bateu no peito da própria moralidade, acusou os adversários de corruptos e desfilou, na Esplanada, com seus milicianos, seus lobistas de armas, seus defensores da tortura, seus vigaristas disfarçados de liberais, seus mercadores do interesse público, sob o aplauso cúmplice de canalhas que, a pretexto de evitar o suposto mal maior que representaria o PT, escolheram o que seria, então, o menor — sob a proteção espiritual, claro!, de Carlos Alberto Brilhante Ustra. E já há pilantras ensaiando, de novo, manobra parecida.
Volto ao começo: ainda que este governo fosse exemplarmente honesto, não serviria para a democracia. A cada dia, no entanto, fica claro que nem esse conforto podem ter os que escolheram essa chusma de delinquentes ou a eles se associaram.
Acabou a fantasia.
Incompetentes.
Truculentos.
Corruptos.