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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bivar quer ser o cavalo de troia de Moro em colégio eleitoral improvável

Sergio Moro e Luciano Bivar: a dupla ainda aposta que o suposto insucesso dos demais postulantes vai consagrar o ex-juiz incompente e suspeito - Rui Baron/VEJA; Mateus Bonomi/AGIF/AFP
Sergio Moro e Luciano Bivar: a dupla ainda aposta que o suposto insucesso dos demais postulantes vai consagrar o ex-juiz incompente e suspeito Imagem: Rui Baron/VEJA; Mateus Bonomi/AGIF/AFP

Colunista do UOL

13/04/2022 03h47

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O deputado Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil (UB) na Câmara, lançou o também deputado Luciano Bivar (PE) como o nome da legenda para disputar uma estranha forma de "prévias", num acordo que reuniria o próprio UB, o MDB e o PSDB, que agora formam uma federação com o Cidadania. Parece piada. A seu modo é. Porque nem ele mesmo leva a sério essa condição. Está apenas tentando ser o cavalo de troia de Sergio Moro. A pança de Bivar não lhe pertence. A protuberância esconde um ex-juiz incompetente e suspeito. Ainda que a tentativa de truque não conte, de fato, com a concordância da parte da direção oriunda do DEM. O UB deve formalizar o nome de Bivar amanhã.

Comunicado conjunto dessas siglas diz que definirão um nome comum até 18 de maio. Pelo MDB, quem pleiteia a condição de candidata a esse estranho colégio eleitoral é a senadora Simone Tebet (MS). No PSDB, João Doria venceu as prévias, mas Eduardo Leite diz que elas podem não valer, no que é, na prática, secundado por Bruno Araújo (PE), presidente da legenda, que anda abusando do direito universal de dizer bobagem.

Já imaginaram toda essa gente junta, unida em torno do nome de... Bivar? Até hoje, com a devida vênia, o feito mais notável deste senhor foi alugar o seu antigo partido — o PSL — para Bolsonaro, concordando com todos os seus termos. Fez-se algo único na história: Bivar abriu mão da direção da legenda e a entregou ao finado Gustavo Bebianno. O partido nanico, então com um único deputado, elegeu 52 com o aluvião bolsonarista. Como Bivar recuperou, segundo acordo, o comando da legenda, achou que seria o rei da cocada branca, com uma máquina milionária nas mãos.

Bolsonaro abriu dissidência, decidiu chutá-lo, anunciou rompimento com o partido e passou a ter a sua própria bancada no PSL, que migrou agora para o PL. E Bivar, com evidências de que se dedicou à citricultura em 2018 — criar um laranjal —, juntou-se ao DEM. A rejeição ao atual presidente do UB, cujo nome nunca foi testado em pesquisas, ou é de 0% ou de 100%, a depender da pergunta. Ninguém sabe quem é ele. Supor que seu nome pode ser debatido a sério como alternativa do UB chega a ser uma ofensa à inteligência.

O grupo de ACM Neto, com efeito, não aceita a pré-candidatura de Moro, que nem chegará a ser considerada pelas demais legendas — em se mantendo mesmo esse acordo. Bivar finge que sua postulação é para valer, e os demais também fingem que assim são as coisas. Em havendo a definição de um único nome, o próprio Bivar aposta em João Doria (mais provável), Eduardo Leite (menos provável) ou Simone Tebet. O limite que estabeleceram para essa escolha é 18 de maio.

Ocorre que os partidos têm o período entre 20 de julho e 5 de agosto para fazer suas convenções, definir suas coligações e escolher seus respectivos candidatos. Bivar quer mesmo é Moro. E só por isso o levou para o União Brasil. Avalia que o ex-juiz continuará a ser testado nas pesquisas, que permanecerá à frente dos demais postulantes e que o comando de sua legenda, ainda que em voo solo, descolado dos outros dois, não teria como evitar a sua candidatura. É uma aposta. De fato, Moro nem sequer foi previamente avisado da formalização do nome de Bivar. Isso não tem importância.

Sinceramente, não creio que essa união, com definição de candidatura única, prospere. Bivar, como se nota, tem vocação para cavalo de troia. O PSDB deveria, por óbvio, estar a defender o resultado de suas prévias nesse estranho colégio, mas prefere a bagunça interna. E Tebet já enfrenta, sem nem ter virado candidata, ameaça de cristianização. Parte considerável do MDB quer migrar desde já para a candidatura Lula. Convenham: é muito difícil que essa soma de senões resulte na definição de um único nome.