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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

"Risco de vida" de Alckmin? Que Araújo renuncie já à presidência do PSDB!

Bruno Araújo, presidente nacional do PSDB: fala a grupo de empresários e asqueros e truculenta. Inaceitável! - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Bruno Araújo, presidente nacional do PSDB: fala a grupo de empresários e asqueros e truculenta. Inaceitável! Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Colunista do UOL

13/04/2022 05h06

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O deputado Bruno Araújo (PE), presidente do PSDB, perdeu o juízo e deveria deixar a função. Não comanda um partido, mas um naufrágio. Seja porque, na condição de presidente, é o primeiro a não respeitar os procedimentos que a própria legenda escolheu para definir o candidato, seja porque anda a dizer coisas insanas, perigosas.

Leio na coluna de Bela Megale, no Globo, que o doutor fez duras críticas a Geraldo Alckmin, hoje no PSB e potencial vice na chapa de Lula, do PT. Estava numa conversa com empresários do Esfera Brasil. A própria página do grupo diz tratar-se de "uma organização criada para fomentar o pensamento e o diálogo", constituindo-se num "think tank que reúne empresários, empreendedores e a classe produtiva". Declaram sobre si mesmos: "Somos independentes e apartidários - e temos a missão de engajar líderes em prol do Brasil, gerando discussões que vão permitir a construção de um País melhor."

Então a turma não merecia ter ouvido o que lhe disse Araújo, sem desmentido até agora.

Escreve a colunista, reproduzindo fala atribuída ao presidente do PSDB:
"Na campanha, eu garanto, será absolutamente irrelevante a participação dele [de Alckmin]. No Nordeste ele não teve 1%, não vai fazer nada. No interior de São Paulo, não pode andar, porque corre risco de vida".

Não vou entrar no mérito de Araújo como gestor da carreira de Alckmin. Afirmar que um político, qualquer um, corre risco de vida porque, afinal de contas, deixou um partido para se filiar a outro costeia a fala criminosa. Aliás, deixo aqui uma sugestão a João Doria, o nome que o PSDB escolheu em prévias partidárias para ser o seu presidenciável: repudie a fala do presidente do seu partido! Ela é incompatível com a democracia e com a civilidade política.

Imaginem se Lula ou mesmo Bolsonaro tivessem dito algo parecido. Tentou-se armar um terremoto porque o ex-presidente, num erro político óbvio, sugeriu que sindicalistas passassem a pressionar os parlamentares em suas respectivas casas. Não sei que ideia Araújo faz do interior de São Paulo. Mas, que me lembre, os assassinatos políticos não estão entre as suas características mais notáveis.

Como Araújo está obviamente criticando Alckmin, tratando-o como se tivesse feito algo impróprio, vê-se que considera o seu assassinato um desdobramento possível, quem sabe até lógico, de uma escolha que ele, Araújo, pensa ser errada. Fico me perguntando em que outro momento de sua trajetória o partido de FHC, Mário Covas, José Serra e Alckmin (no passado) teve um presidente capaz de tal enormidade. E falou isso a empresários que dizem sobre si mesmos: "Somos independentes e apartidários - e temos a missão de engajar líderes em prol do Brasil, gerando discussões que vão permitir a construção de um País melhor." Imagino o mal-estar.

PRÉVIAS
Ao mesmo grupo de empresários, segundo outra reportagem de O Globo, Araújo afirmou:
"João Doria venceu as prévias e é o pré-candidato. No momento que fazemos um pacto e João Doria disse 'eu topo', nossas prévias estão contidas dentro de um acordo. O contrato estabelecido é com essa coligação e é maior do que as prévias do PSDB".

As palavras fazem sentido. E eu gosto de me ater a ele. Parece que o doutor está mais interessado hoje em rifar o candidato que venceu as prévias do que em fazer a luta política para tornar seu nome viável. Como a incompetência do comando do PSDB, a esta altura, dispensa demonstração, Araújo houve por bem ser ombudsman das escolhas de Alckmin, alertando para o risco de que seu suposto erro poderia levá-lo à morte.

Agora só falta anunciar que suas palavras foram tiradas do contexto.

Deveria renunciar ao comando do partido.

"Quos Deus perdere vult, prius dementat". A quem Deus quer perder, primeiro tira-lhe o juízo. E, junto, se perde a decência.

Desculpe-se ao menos, senhor Araújo! Ou passe a defender a assassinato político como justa punição por aquilo que Vossa Excelência considera um erro.

É asqueroso!