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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Reeleição, para Bolsonaro, vira impunidade. E os dados alarmantes da Quaest

Tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid conversa com Bolsonaro. E o gráfico da pesquisa Quaest em levantamento estimulado para o primeiro turno -  Dida Sampaio/Estadão; Reprodução
Tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid conversa com Bolsonaro. E o gráfico da pesquisa Quaest em levantamento estimulado para o primeiro turno Imagem: Dida Sampaio/Estadão; Reprodução

Colunista do UOL

28/09/2022 17h16

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Jair Bolsonaro está à beira de um ataque histérico ou finge muito bem. O homem que apareceu na live de ontem está desesperado. Teme as investigações conduzidas por Alexandre de Moraes e exibe um medo evidente — daí ter-se referido ao ministro, mais uma vez, em termos inaceitáveis, mas agora em tom patético.

Ainda que tenha tentado imprimir a marca do desafio ao indagar se Moraes "um dia vai dar uma canetada" para prendê-lo, não é difícil perceber que está a falar ali o medo. A propósito: sendo como ele diz, os folguedos financeiros de seu principal ajudante de ordem — o onipresente tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid — dizem respeito a dinheiro de sua conta privada. Nada a temer, portanto.

Não deixa de ser curioso que mesmo com as facilidades oferecidas hoje pelos meios eletrônicos de pagamento, a família precise recorrer a mecanismos, vamos dizer assim, da era analógica, além da manipulação de dinheiro vivo.

As investigações em curso incomodam, é certo, mas Bolsonaro sabe que não terão consequência se reeleito. Crime de responsabilidade ou crime comum, há, em qualquer hipótese, a necessidade de que dois terços da Câmara deem anuência ao processo. Ademais, no primeiro caso, há o filtro unipessoal do presidente da Câmara: sem que ele coloque uma petição de impedimento em tramitação, nada acontece. No segundo, o dono da bola é Augusto Aras, mato jurídico de onde não sai coelho que assombre o presidente. Assim, para Bolsonaro, a reeleição é um passaporte para a impunidade.

PESQUISA GENIAL QUAEST
E ele está assustado. Números da pesquisa Genial/Quaest divulgados ontem à noite devem trazer razões especiais para apreensão. Lula (PT) oscilou de 44% para 46%; o presidente variou para baixo: de 34% para 33%. Os demais que pontuaram ficaram no mesmo lugar da semana passada: Ciro Gomes (PDT), com 6%; Simone Tebet (MDB), com 5%, e Soraya Thronicke (UB), com 1%. O petista está com 50,5% dos votos válidos. Dada a margem de erro de dois pontos percentuais, teria, sim, chance de se eleger no primeiro turno.

Os dados gerais da pesquisa não diferem muito dos encontrados pelo Ipec no dia anterior — Lula com 48% e Bolsonaro com 31%; os demais são idênticos. No segundo turno, o ex-presidente bateria o atual por 52% a 38% — no Ipec, 54% a 35%.

Aqueles que tenho chamado "paredões intransponíveis" para Bolsonaro se revelam nas duas pesquisas. Os números são diferentes, mas os achados são os mesmos. Na Quaest, Lula bate Bolsonaro no eleitorado feminino por 47% a 31%; no Nordeste, a superioridade é massacrante: 65% a 19%; entre os que recebem até dois salários mínimos, 56% a 24%. Para cotejo, eis os dados do Ipec: mulheres (51% a 26%); até um salário mínimo (57% a 23%); mais de um até dois salários (57% a 23%); Nordeste (63% a 23%).

Assim, a diferença entre Lula e Bolsonaro no primeiro turno é de 17 pontos no Ipec e passou a ser de 13 na Quaest — há uma semana, era de 10. No segundo, a distância é de 19 no primeiro instituto e de 14 no segundo (10 na semana passada).

POR QUE ASSUSTA
As duas pesquisas são, obviamente, ruins para Bolsonaro porque encontram a mesma coisa, ainda que com alguma divergência de número: a distância aumenta em vez de diminuir; há a possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno. Mas há um aspecto a ressaltar: ainda que os números da Quaest possam ser menos favoráveis a Lula, eles podem ser mais assustadores para Bolsonaro. E explico o motivo.

Na composição da amostra do Ipec, os grupos que ganham até dois salários mínimos compõem 57% da amostra; os que recebem de dois a cinco são 24%, e os acima de cinco, 13%. Na Quaest, as respectivas proporções são as seguintes: 38%, 40% e 22%. Esse instituo usa percentuais praticamente idênticos aos da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a saber: 40%, 39% e 22%.

Como a adesão a Lula é maior entre os mais pobres, é compreensível que seus números sejam menos robustos na Quaest do que no Ipec. E, por isso mesmo, essa pesquisa pode preocupar o bolsonarismo até mais: a distância é menor na Quaest do que no Ipec, mas segue sendo gigantesca a menos de uma semana da eleição — e mesmo numa composição amostral que lhe é mais favorável.

A distância que separa o ex-presidente do atual na Quest se explica pelo avanço de Lula no Nordeste (de 60% a 21% para 65% a 19%) e entre os que recebem até dois mínimos: de 51% a 26% para 56% a 24%. O petista também ganhou espaço no eleitorado masculino: de 42% a 39% na semana passada para 45% a 35%

VITÓRIA NO PRIMEIRO TURNO
A expressão da hora é "vitória no primeiro turno". Lula pode esperar artilharia pesada no debate da Globo em razão da aliança explícita entre Bolsonaro e Ciro para impedir que a eleição se resolva no dia 2. Na Quaest, 24% dos eleitores que votam em outros candidatos dizem que poderiam escolher o petista para resolver o assunto na primeira rodada: 27% dos de Ciro e 30% dos de Simone. Nas contas do instituto, isso daria a Lula 49,12% dos votos totais, o que corresponderia a 53,9% dos votos válidos. Que fique claro: assim era entre 24 e 27 de setembro. Mas a eleição é só no dia 2 de outubro. O instituto ouviu 2.000 pessoas.

ENCERRO
O desespero de Bolsonaro, reitere-se, deriva do fato de que, agora, ele precisa de um segundo mandato para lhe garantir a impunidade -- daí seu apelo desesperado a Alexandre de Moraes, vazado a seu modo: como agressão.

As pesquisas, no entanto, insistem em lhe dizer que isso não vai acontecer. E, a cada diz, menos gente se mostra disposta a viver no seu mundo paralelo.