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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ação da PRF nas estradas é golpe de Bolsonaro, desferido por outros meios

Colunista do UOL

30/10/2022 15h56

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Escrevi um artigo hoje de manhã evidenciando que estas eleições já se dão sob a sombra da ilegalidade e da violência. Pior: comportamentos truculentos e ações criminosas acabam, aos poucos, e sempre um pouco por dia, sendo naturalizados. Paraisópolis, Roberto Jefferson, Carla Zambelli. Os fascistoides estão assanhados. As barreiras de contenção, como se vê, são o Supremo Tribunal Federal e Tribunal Superior Eleitoral. Mas é claro que seu efeito é limitado. Ministros não têm como sair do gabinete para desobstruir estradas ou para impedir que PMs parem ônibus para fazer proselitismo.

Um aparelho do Estado, como a Polícia Rodoviária Federal, foi mobilizado e está criando dificuldades para o voto dos pobres, especialmente no Nordeste. A operação está em curso. A esta altura, não sabemos o que se passa no Brasil profundo. O esforço, e não precisa ser muito bidu para perceber, é para aumentar a abstenção dos brasileiros de baixa renda, que votam majoritariamente em Lula. O bolsonarismo chegou à conclusão de que é esse o caminho para tentar virar o jogo das urnas.

Que nome isso tem? Se a ação criminosa for bem-sucedida, chama-se "golpe". Se malsucedida, "tentativa de golpe". Num caso e noutro, a intenção criminosa é escancarada.

Bolsonaro tentou de tudo. Seu primeiro intento era impedir a realização das eleições, se não fosse à sua maneira, e vocalizou isso mais de uma vez. Não conseguiu. Depois, buscou a adesão dos militares para um autogolpe caso derrotado. Também não deu certo para ele. Armou-se a conspirata de última hora, com a história do complô das rádios, para pregar o adiamento do pleito. A canalha sabia ser impossível. O objetivo era, e é, apontar um suposto complô para mobilizar a militância antes da eleição e questionar o resultado depois se adverso.

Nada foi capaz de garantir uma folga eleitoral para Bolsonaro. Nem das medições de sua própria campanha. Então vem agora o golpe por outros meios: este da Polícia Rodoviária Federal, que está em curso.

Eis aí: sim, está em curso uma forma de golpe no Brasil. Hoje, eleitores pobres do Nordeste, para a PRF, são todos Genivaldos. É preciso prendê-los na capô da indignidade e da truculência para que não exerçam o direito de votar. Afinal, dá-se como certo que o candidato dessa gente não é aquele que asfixia a democracia.

A PRF armou mais de 500 blitze, especialmente no Nordeste. Ao ser indagado a respeito, Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil, reagiu com ironia, rindo: "Será?" E continuou, em tom um tanto enigmático, dizendo que o órgão fará o que PRF determinar.

Que se note: o estrago provocado por ações dessa natureza não diz respeito apenas àqueles que deixam de votar em razão da obstrução das vias. Há o efeito "medo", que se espalha.

Há um outro tipo de golpe em curso no país.