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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Adivinhei a fala de Mourão, a esfinge sem segredos. E a crítica a Bolsonaro

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Colunista do UOL

31/12/2022 22h11

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Se tal habilidade servisse para alguma coisa, eu poderia reivindicar a condição de adivinho do que vai dizer Hamilton Mourão, ainda presidente em exercício e futuro senador. Mas convenham: isso prestaria para quê? Melhor ter uma folha de jornal velho quando levar o totó para passear, não? Não me oruglho de antecipar o que alguém como o general diz, mas de entender, aí sim, quem é essa gente. Oscar Wilde errou feio ao dizer que as mulheres são esfinges sem segredo. Mas e Mourão?

Publiquei um texto às 17h39apontando o absurdo de este senhor convocar rede de rádio e TV para um pronunciamento e pontuei o que haveria de dizer. Acertei tudo, né? Não mudei uma vírgula do texto. Nem vou. Vejam lá. Disse que:
- defenderia a alternância de poder, a seu modo;
- tentaria conectar a oposição das ruas ao PT com o fiscalismo burro que hoje pauta a quase totalidade da imprensa;
- buscaria tomar de Jair Bolsonaro o lugar de líder da extrema-direita.

E ele fez rigorosamente isso tudo. No primeiro caso, é verdade, convidou os fanáticos a aceitar o resultado. Mas qual seria a alternativa?

E, sim, como o esperado também, passou a mão na cabeça de golpistas. Afirmou:
"A falta de confiança de parcela significativa da sociedade nas principais instituições públicas decorre da abstenção intencional desses entes do fiel cumprimento dos imperativos constitucionais, gerando a equivocada canalização de aspirações e expectativas para outros atores públicos que, no regime vigente, carecem de lastro legal para o saneamento do desequilíbrio institucional em curso."

É ataque velado ao Supremo, evidentemente, que seria o responsável por haver celerados nas ruas. Estes, por sua vez, esperam que as Forças Armadas reajam — aquelas que "carecem de lastro legal para o saneamento do desequilíbrio institucional em curso"... Qual desequilíbrio?

Como ele quer o lugar de Bolsonaro, distribuiu entre o Judiciário ("protagonismo inoportuno") e o próprio presidente (o do "silêncio") as responsabilidades pelas tensões que há no país:
"Lideranças que deveriam tranquilizar e unir a nação em torno de um projeto de País deixaram com que o silêncio ou o protagonismo inoportuno e deletério criasse um clima de caos e de desagregação social e de forma irresponsável deixaram que as Forças Armadas de todos os brasileiros pagassem a conta, para alguns por inação e para outros por fomentar um pretenso golpe."

Como se nota, o vice-presidente, um general quatro estrelas da reserva, resolveu fazer uma espécie de pronunciamento em nome das Forças Armadas, que teriam sido injustiçadas, de modo a que "pagassem a conta, para alguns por inação e para outros por fomentar um pretenso golpe."

Ousaria dizer que essa fala de Mourão é o "canto do cisne" do "novo poder militar", que teria sido ressuscitado com a chegada de Bolsonaro ao poder. Sabem por que as Forças Armadas não deram golpe? Porque não puderam, não porque não quiseram...

Quanto ao esforço de conectar a extrema-direita ao pensamento liberal, bem..., isso está ao longo de todo o texto. Mourão reivindica a condição de um pensador e de um formulador da políticas públicas.

CELERADOS BRAVOS
"Ah, Reinaldo, os bolsonaristas celerados estão atacando a fala de Mourão e você também?" E daí? Desde quando bolsonarista é critério de verdade ou filtro moral para o que presta e não presta? Eles estão vertendo baba hidrófoba porque Mourão disse que não haverá golpe.

E eu estou lustrando a civilização democrática ao deixar claro que não haverá golpe porque não há condições internas e externas para uma quartelada. E não devemos isso aos generais ou a Mourão em particular. Nego-me a ser grato por aquilo que a Constituição nos dá em razão da luta do povo brasileiro.

Segue a íntegra da fala de um dos candidatos a liderar a extrema-direita brasileira. Os "liberais" à moda da casa ficarão certamente emocionados. É que liberais não são, mas reaças salta-pocinhas aos quais falta, além de leitura, um tanto de intimidade com o povo brasileiro. Perderam.

Feliz Ano Novo!

ÍNTEGRA DA FALA DE MOURÃO
"Brasileiras e brasileiros, boa noite!
1. No momento em que concluímos mais um ano pleno de atividades e de intensos engajamentos de toda a ordem, na condição de Presidente da República em exercício, julgo relevante trazer uma palavra de esperança, de estímulo e de apreço ao povo brasileiro, especialmente na ocasião em que o nosso governo conclui o período constitucional de gestão pública do País, iniciado em 1º de janeiro de 2019.

2. Vislumbro que os acontecimentos políticos, econômicos e sociais que têm marcado a presente quadra da nossa História seguirão impactando a vida da gente brasileira nos próximos anos, tornando a caminhada ainda mais desafiadora, visto que o mundo ainda se ressente da pandemia da Covid-19 e a economia mundial sofre as consequências da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

3. O Governo que ora termina, ao longo de quatro anos, fez entregas significativas na Economia, no avanço da digitalização da gestão pública, na regulamentação da tecnologia da informação, na privatização de estatais, tendo promovido uma eficaz e silenciosa reforma administrativa, não recompletando vagas disponibilizadas por aposentadoria, além da renovação de nosso modelo previdenciário e ainda potencializou o agronegócio e vários campos do conhecimento humano.

4. Juntos, trabalhamos duramente contra a pandemia, auxiliando os mais necessitados, apoiando as empresas na manutenção dos salários de empregados e desonerando suas folhas de pagamento.

5. Apoiamos governos estaduais e municipais com recursos, médicos e medicamentos, independentemente da posição política ou ideológica dos chefes do Executivo, permitindo que seus governos os direcionassem para as áreas onde aquela administração achasse conveniente.

6. Trabalhamos e entregaremos ao próximo governo um país equilibrado, livre de práticas sistemáticas de corrupção, em ascensão econômica e com as contas públicas equilibradas, projetando o Brasil como uma das economias mais prósperas e com resultados mais significativos pós-pandemia, no concerto das nações.

7. Tais iniciativas permitiram pleitear o ingresso do País na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, o que possibilitará a melhoria ao acesso a mercados e a novas parcerias. Cabe destacar que o OCDE tem como princípios básicos a Democracia e o Livre Mercado.

8. Nem todas as empreitadas obtiveram o sucesso que almejávamos. Na área ambiental, por exemplo, tivemos percalços, embora tenhamos alcançado reduções importantes no desmatamento da Amazônia, a região ainda necessita de muito trabalho e de cuidados específicos, engajando as elites e as comunidades locais, cortejadas permanentemente pela sanha predatória oriunda dos tempos coloniais.

9. Dirijo-me agora aos apoiadores de nosso governo, aqueles que credibilizaram nosso trabalho por meio do voto consignado às nossas propostas, sobretudo nas últimas eleições. Muito obrigado por seu voto! Desejo concitá-los a lutar pela preservação da democracia, dos nossos valores, do estado de direito e pela consolidação de uma economia liberal, forte, autônoma e pragmática e que nos últimos tempos foi tão vilipendiada e sabotada por representantes dos três poderes da República, pouco identificados com o desafio da promoção do bem comum.

10. A falta de confiança de parcela significativa da sociedade nas principais instituições públicas decorre da abstenção intencional desses entes do fiel cumprimento dos imperativos constitucionais, gerando a equivocada canalização de aspirações e expectativas para outros atores públicos que, no regime vigente, carecem de lastro legal para o saneamento do desequilíbrio institucional em curso.

11. Lideranças que deveriam tranquilizar e unir a nação em torno de um projeto de País deixaram com que o silêncio ou o protagonismo inoportuno e deletério criasse um clima de caos e de desagregação social e de forma irresponsável deixaram que as Forças Armadas de todos os brasileiros pagassem a conta, para alguns por inação e para outros por fomentar um pretenso golpe.

12. A alternância do poder em uma democracia é saudável e deve ser preservada. Aos eleitos, cumpre o dever de dar continuidade aos projetos iniciados e direcionar seus esforços para que, à luz de suas propostas, o País tenha assegurada uma democracia pujante e plural, em um ambiente seguro e socialmente justo.

13. Aos que farão oposição ao governo que entra, cumprirá a missão de opor-se a desmandos, desvios de conduta e a toda e qualquer tentativa de abandono do perfil democrático e plural, duramente conquistado por todos os cidadãos. Buscando-se a redução das desigualdades por meio da educação isenta e eficaz, criando oportunidades iguais a todos os brasileiros.

14. Destaco que a partir do dia 1º de janeiro de 2023 mudaremos de governo, mas não de regime! Manteremos nosso caráter democrático, com Poderes equilibrados e harmônicos, alternância política pelo sufrágio universal, pessoal, intransferível, secreto, buscando sempre maior transparência e confiabilidade.

15. Tranquilizemo-nos! Retornemos à normalidade da vida, aos nossos afazeres e ao concerto de nossos lares, com fé e com a certeza de que nossos representantes eleitos farão dura oposição ao projeto progressista do governo de turno, sem, contudo, promover oposição ao Brasil. Estaremos atentos!

16. Na condição de Presidente da República em exercício, finalizo estas palavras apresentando-lhes os meus melhores votos de um ano de 2023 pleno de saúde, felicidades e muitas realizações. Que o nosso amado Brasil continue sua caminhada na direção de seu destino-manifesto, tornando-se a mais próspera e bem-sucedida democracia liberal ao Sul do equador.

17. Feliz ano novo, êxito pessoal e prosperidade para cada um de nós que formamos esta grande nação! Muito obrigado!
Boa noite!"