Reinaldo: Brasil não pode ser passivo ante entrada da Venezuela no Brics

O colunista Reinaldo Azevedo disse no Olha Aqui! desta segunda-feira (21) que o Brasil deve usar seu poder de veto para barrar a entrada da Venezuela no Brics e evitar que um governo não legitimado pelas urnas acesse o bloco. A posição brasileira é decisiva também para manter sua soberania na América do Sul.

O Brasil não pode aceitar a presença da Venezuela, embora outros países queiram -- a China apoia etc. --, já que não reconhece nem sequer a vitória do [Nicolás] Maduro. (...) E é bom que não concorde. Aliás, é bom que se tome muito cuidado. O Brics está lá: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A China tem a importância que tem na economia. A Índia também é um ator global hoje, dialoga em várias frentes. A África do Sul é um país importante na África. A Rússia poderia ser muito mais importante, está aí afinal, mas tem hoje a questão incômoda que é a guerra da Ucrânia, que é posterior, obviamente, à formação dos Brics.
Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Reinaldo destaca que o Brics não pode se caracterizar como um bloco antiocidente, de oposição ativa à União Europeia e aos Estados Unidos. E que a posição contrária do Brasil à entrada da Venezuela vai endurecer ainda mais a relação entre esses dois países, abalada depois das eleições presidenciais venezuelanas.

Não é conveniente que seja assim [a formação de um bloco antiocidente]. Vamos ver que papel esses outros atores terão. Irã já está lá. Mas a Venezuela é uma piada. Não porque seja uma ditadura, porque a China não é uma democracia. A Rússia não é uma democracia e está lá. (...) O Brasil não pode ser espectator passivo da eventual entrada da Venezuela nos Brics, até porque como a Venezuela está na América do Sul, o Brasil exerce um papel de liderança queira ou não na América do Sul, em razão do tamanho do território, da população, da força militar, da economia. Escolha-se o critério, o Brasil é o país líder da América do Sul, com a Venezuela na fronteira, criando as dificuldades que vem criando.

O Brasil, que foi fiador de um processo de transição que naufragou pela falta de compromisso do Maduro com aquilo... com o qual ele mesmo havia concordado. E a gente vê agora que não era uma concordância, era uma fraude, ele estava enganando as pessoas. Não só não cumpriu nada do que foi combinado, como em relação ao Brasil passou a assumir uma postura absolutamente hostil ao Brasil. (...) A hora que o Brasil tiver essa posição, a Venezuela se tornará ainda mais hostil ao Brasil. O governo da Venezuela mais hostil ao Brasil diminuem as chances de haver um interlocutor, que não tem. Quem será o interlocutor, hoje? Quem conversa com a Venezuela e tem peso no jogo político? O Lula era o único. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Ele ressaltou que o Brasil deve manter firme sua posição, mesmo correndo o risco de incomodar outras potências.

O Brasil não vetaria Cuba, porque o Brasil não se meteu como fiador de nenhum processo de transição envolvendo Cuba (...). O envolvimento do Brasil com o processo político cubano interno é nenhum. O Brasil não participou de nenhuma negociação para isso ou para aquilo. No caso da Venezuela, sim. E com posições hostis do senhor Maduro. Então, o Brasil não tem realmente que aceitar. E espero que mantenha firmemente essa posição. O que cria constrangimento para outros.

O Brasil nesse caso se bate com a China, que é um parceiro importante. Mas, é a mesma China que, por exemplo, não dá a menor bola para a postulação do Brasil sobre a mudança do conselho de segurança da ONU. Não só não dá a menor bola como é contra. Aliás, é contra, a Rússia é contra. Os contendores de sempre querem manter o conselho de segurança também como está e aí não pensam em parceria com o Brasil de nenhuma natureza. Então, nesse caso, tem mais é que ser muito firme e dizer não. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

O veto do Brasil pode ser problemático na relação com a China, mas, sem ele, a posição do país na América do Sul fica ameaçada, avalia Reinaldo.

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Não acho que enfraqueça propriamente [a relação entre Brasil e China], mas fica uma ralação tensa, necessariamente. Mas, o Brasil sendo contrário, se abre mão de seu poder de veto para a entrada da Venezuela, isso fortalece o Brasil? Também não fortalece. Então, é melhor que haja uma crispação com o Brasil exercendo seu poder de veto, do que o Brasil abrir mão dele para não haver a crispação, porque aí, sim, vira sinal de fraqueza. E de algum modo o país se desmoraliza na América do Sul. Eu insisto, o Brasil foi um dos fiadores da transição. Transição que não ocorreu. A ditadura se fechou ainda mais. Isso precisa ter uma resposta política. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

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