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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Cadê Bolsonaro para debater arcabouço, reforma tributária e Mercosul-UE?

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

03/07/2023 22h57

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Tentando manter Jair Bolsonaro politicamente vivo, a extrema-direita agora inventa um suposto complô para tirá-lo das disputas eleitorais. Como se realmente estivesse demonstrando ser um hábil articulador, capaz de criar dificuldades para o governo em curso e de acenas com caminhos alternativos. É mesmo? Antes de voltar ao ponto, uma consideração sobre o TCU.

O subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado, do Ministério Público junto à Corte de Contas, entrou com uma representação para que se apure o "dano ao erário decorrente do abuso de poder político e do uso indevido dos meios de comunicação, especialmente por meio de canal público, por parte do ex-Presidente da República Jair Bolsonaro, no contexto da decisão tomada pelo TSE quanto à inelegibilidade".

Segundo a representação, "é possível verificar que se está diante do uso da máquina pública com desvio de finalidade, tanto pelo fato de ter havido a difusão de informações inverídicas quanto ao sistema eleitoral brasileiro, quanto pelo fato de o então presidente ter buscado se beneficiar pessoalmente do alcance que teria a transmissão por meio dos canais oficiais".

Como decorrência da condenação no TSE, Bolsonaro não pode concorrer a cargo eletivo até 2 de outubro de 2030 — uma vez que os oito anos começaram a contar a partir de igual data do ano passado, dia do primeiro turno. Como, daqui a sete anos, a primeira etapa em 6 de outubro, Bolsonaro conseguiria concorrer a algum cargo em tal data longínqua porque na punição expiraria quatro dias antes.

Se, no entanto, a representação de Rocha Furtado for acatada e se o ex-presidente for condenado pelo Tribunal de Contas, o que também resulta em inabilitação eleitoral, o marco para o início da punição seria o trânsito em julgado no TCU. E certamente se estenderia para além de 2030.

Entendo, mas isso é antevisão das circunstâncias, não previsão, que Bolsonaro, então, estará experimentando condenações na esfera penal. Mais: acredito que estará preso. Por ora, o certo é que está inabilitado para qualquer disputa até 2 de outubro de 2030.

FANTASIA DA EXTREMA-DIREITA
A extrema-direita e o esgoto em que correm suas diatribes e fantasias nas redes sociais inventaram um Bolsonaro imbatível nas urnas, que estaria sendo alijado das disputas. É mesmo?

Deixem-me ver. Para tanto, o cara precisaria estar se apresentando para o jogo, certo?

Pergunto: o que tem a oferecer ao Brasil? O que pensa, por exemplo, sobre o arcabouço fiscal? Vocês não sabem, eu não sei, e ninguém sabe. A rigor, nada! Ele e seus valentes ainda estão ocupados em regular o que as pessoas fazem na cama...

Se existe um "bolsonarismo", além dessa esfera do culto do reacionarismo pelo reacionarismo, o que essa gente propõe sobre reforma tributária? E sobre o Plano Safra? Alguma restrição? Não, é certo! Até porque o governo anterior foi humilhado também nessa área, que parecia ser seu bastião de resistência.

Quando o senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição no Senado, se manifestou sobre a inelegibilidade do "Mito", esse que tem aspirações de ser um quadro intelectual da direita preferiu espalhara obscurantismo sobre o aborto.

Insisto: que orientação tem Bolsonaro a dar àqueles que querem se opor ao governo Lula de forma organizada? E, sendo assim, opor-se exatamente a quê?

Vejam o acordo Mercosul-União Europeia. Quem faz a defesa do agronegócio, que seria o setor mais afetado caso se aceitassem cláusulas adicionais impostas pelos europeus, é justamente Lula — que, até outro dia, era vendido pela extrema-direita como o Belzebu contra a produção. E, no entanto, repetindo outros governos do PT, o Plano Safra 2023-2024 será o maior da história, ultrapassando em mais de R$ 40 bilhões as melhores previsões do setor.

Até um governador da oposição, como Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), teve de reconhecer que nunca se fez nada parecido. No dia 28, recebe Lula em Goiânia para encontro com mais de 200 empresários do agro. Não se trata de cooptação, mas de ação conjunta em defesa da economia brasileira.

Pergunto de novo: qual é a proposta de Bolsonaro e a direção para os que se opõem ao governo? Em lugar das medidas em curso, deveria ser exatamente o quê?

Por enquanto, Bolsonaro resolveu exibir uma vez mais a cicatriz no seu abdômen. Que tenha vida longa também para arcar com o peso de suas escolhas. O Brasil precisa mais do que dessa estranha autoglorificação do martírio.