Reinaldo Azevedo

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Cretinos? Eis o fato: dólar havia "disparado" na 4ª pré-declaração de Lula

Lula chamou de "cretinos" os que associaram sua entrevista ao UOL na quarta à elevação do dólar. A imprensa deu a informação entre o mero registro e o tom indignado. Só faltou dizer uma coisa: com efeito, a moeda americana já havia chegado a R$ 5,50 antes de a afirmação — dita "polêmica" — do presidente sobre corte de gastos ir ao ar. Chamei a atenção para isso no programa "Olha Aqui", na própria quarta, às 13h.

Não custa lembrar: a cotação já abriu nas alturas (R$ 5,47), dado que a moeda havia fechado no dia anterior a R$ 5,46. E nada teve a ver com o Brasil. Foi uma cortesia de Michelle Bowman, diretora do FED, segundo quem os juros americanos seguirão no atual patamar por muito tempo.

A entrevista ao UOL começou às 9h21, não às 9h, com a moeda já a R$ 5,49. Basta verificar a cotação minuto a minuto do dia 26. Às 9:24:16 (R$ 5,49), Lula fala que o governo está apurando onde há gasto exagerado; às 9:33 (R$ 5,50), que não vai tomar decisões com base no "nervosismo do mercado". Entre 9:25:54 e 9:26:01 (R$ 5,50), diz ser preciso verificar se é preciso mesmo fazer cortes, sustentando a necessidade de aumentar a arrecadação. Consultem as tabelas disponíveis.

Às 9:28, o dólar alcançou R$ 5,51. Já era efeito da entrevista, menos de dois minutos depois? Às 9:33, recuou para R$ 5,49, mesmo valor das 9h42, batendo em R$ 5,52 às 10h24, fechando nesse valor, oscilando ao longo do dia R$ 0,01 para cima e para baixo.

O cretino não é só o idiota, o imbecil. Também é o "insolente", o "inconveniente", o "atrevido". É espantoso o número de "analistas" que tratam, eles sim, como idiota um político que venceu cinco das nove eleições diretas havidas no Brasil depois da redemocratização — em três delas, ele foi o titular; em duas, Dilma. Discordar é do jogo e é o sal da democracia. Tratar o presidente da República como um "penetra", e tenho visto isso muito por aí, é coisa distinta.

Claro, claro! Sempre resta a desculpa de dizer que o mercado já havia elevado o dólar em R$ 0,05 antes de qualquer declaração de Lula porque, dado o caráter antecipador e divinatório dos valentes operadores, eles adivinharam o que o presidente iria dizer. Um dos sinônimos de "especular" e "conjecturar maldosamente, sem base em fatos concretos".

O fato é aquelas manchetes atribuindo a Lula a "disparada" do dólar estavam erradas. E por duas razões:
1: não foi uma disparada -- não na quarta;
2: com muito esforço, consegue-se atribuir a Lula a responsabilidade por uma valorização de... R$ 0,01!!!

Justamente porque a imprensa sabe não ser cretina quando quer, conviria vir a público para dizer algo assim: "Pois é, a gente está se acostumando a bater em Lula primeiro e a só pensar depois; como esse é caminho do erro, a gente errou".

"Mas não dá para afirmar, Reinaldo, que houve uma valorização do dólar de R$ 0,03 durante a entrevista?" Claro que sim! Mas também aconteceu no intervalo em que tomei uma xícara de leite de aveia misturado a um café expresso (uma delícia!) e depois um copo d'água. A questão é saber se o "durante" quer dizer "por causa". E, no caso, não quer! Se a fala teve algum efeito, valeu R$ 0,01.

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Segue o vídeo em que tratei do assunto depois da entrevista, ainda na quarta. Nem tinha visto o gráfico minuto a minuto. Lula está ainda mais certo do que apontei então.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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