Uma quinta feliz: Dino no STF; Bolsonaro e golpistas na PF. Todos merecem
Esta quinta-feira será marcada por dois eventos que evidenciam que a democracia venceu — e, pois, foram derrotados aqueles que tentaram solapá-la. É claro, leitor, que devemos comemorar. Só não podemos incorrer num engano: o de achar que o regime democrático é de tal maneira inquebrantável que pode aceitar qualquer desaforo. Não pode. Neste domingo, mais uma vez, os golpistas vão mostrar a fuça na Paulista. Porque sabem que a vigilância está atenta, talvez até se finjam de cordeiros. Mas andam como lobos, uivam como lobos, farejam como lobos e têm fome de lobos. Não se enganem com sua aparência ruminante. Estão sempre com sede de sangue. Planejaram derramá-lo, mas perderam. Até agora. Colabore para que se levantem, e eles lhe arrancarão a cabeça.
OS GOLPISTAS
Às 14h, Jair Bolsonaro e outros treze vão a dependências da Polícia Federal, intimados a depor sobre a tramoia golpista, cuja investigação resultou na operação "Tempus Veritatis". A base da apuração é a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens. Está na lista, por exemplo, Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil, ex-ministro da Defesa e vice na chapa continuísta, que foi derrotada. Dados que vieram a público apontam que ele era um dos defensores mais virulentos do "soco na mesa", expressão com que Augusto Heleno, ex-chefe do GSI e também na lista, definiu a ambicionada quartelada.
Há outros graúdos, como Anderson Torres, que servia ao golpismo na Justiça. Abrilhantam o elenco Paulo Sergio Nogueira, ex-comandante do Exército e titular da Defesa ao tempo em que se tentou melar o jogo; Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, e Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Uma verdadeira plêiade de varões de Plutarco do desatino. Netto, Heleno e Nogueira são generais da reserva.
A POSSE
Nesta mesma quinta, às 16h, toma posse como o mais novo integrante do Supremo o ex-ministro da Justiça Flávio Dino, que se despediu de seu mandato de senador pelo Maranhão. Esperam-se pelo menos 800 pessoas na solenidade, que, desta feita, não será seguida de uma festança, como costuma acontecer em tais ocasiões. Católico fervoroso, ele preferiu ir à missa no começo da noite.
Trata-se de um jurista competente, de um político decente e de um homem honrado. Estava em Brasília naquele 8 de janeiro de 2023 e assistiu de perto a barbárie. No dia seguinte, o golpismo pôs para circular duas versões fraudulentas para testar a que seduzia um maior número de parvos:
1: esquerdistas estariam infiltrados entre os bandidos que atacaram as respectivas sedes dos Três Poderes para jogar a culpa nas costas da direita;
2: o governo federal teria sido leniente com o ataque porque isso daria a Lula a chance de assumir o papel de pacificador.
A primeira abusava da credulidade até dos idiotas. Então se investiu para valer na segunda, até porque ela se assemelha a mais a uma daquelas falsas conspirações que os ditos "patriotas" vivem a anunciar por aí. E Dino, até pela disposição para o combate político, evidenciada à frente do Ministério da Justiça, virou o alvo principal dos fascistoides disfarçados de parlamentares. Foi convocado um sem-número de vezes a falar em comissões do Congresso. Não que o objetivo fosse ouvi-lo. Pretendiam atacá-lo. Respondeu aos que se dispuseram a escutar e submeteu ao ridículo os que se arriscaram a agredi-lo — e ao governo Lula. As sessões chegavam a ser divertidas. Talvez nem tanto para o agora ministro do STF.
A INDICAÇÃO E A MÁQUINA DE DIFAMAÇÃO
Se já provocava o rancor dos reaças, os ódios se exacerbaram quando Lula decidiu indicá-lo para o Supremo. Montou-se uma máquina de difamação contra o ministro como raramente vi. E notórias reputações do golpismo se mobilizaram para tentar reprovar o seu nome no Senado.
E, no entanto, nesta tarde, Dino assume uma cadeira no Supremo, e os aliados de golpismo vão esquentar a dos depoentes na PF, ainda que para ficar em silêncio — um direito garantido pela democracia com a qual não conseguiram acabar. E o pacto civilizatório, pois, tem o que comemorar.
CONCLUO
Volto, no entanto, ao ponto. As instituições seguem sob ataque, e tudo o que não se pode fazer é baixar a guarda. É preciso que fiquemos atentos à gravidade do ato convocado para a Paulista no domingo, pouco importa o público que compareça para vituperar contra o Supremo.
O ex-presidente convocou a patuscada justamente quando se escancararam detalhes da tramoia golpista. A simples negativa estridente soa ridícula diante do que se sabe. Houve, então, por bem chamar seus apoiadores para produzir a tal "fotografia", com a qual intenciona confrontar e intimidar o Supremo. Alguma surpresa?
O dia é feliz: Dino no Supremo; Bolsonaro na PF. A depender do que aconteça no domingo, um permanecerá no tribunal, e o outro fará "check-in" antecipado na Papuda.