Reinaldo Azevedo

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Opinião

General detalha golpe de Bolsonaro; Eduardo e Michelle já disputam espólio

É, Jair Bolsonaro... O general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, tirou o manto diáfano da fantasia, e fomos apresentados à nudez crua da verdade, como diria Eça de Queirós. "Quem é esse Eça aí?" Você não iria entender, Mito, nem que quisesse saber. Adiante.

Que coisa, não? Então era mesmo tudo verdade!!! Enquanto o cara estava trancado no Alvorada, depois da eleição, cabulando serviço -- o que, em si, não era um mal --, fazia mais do que cuidar de feridas reais e metafóricas:
1: tentava abolir o Estado de Direito;
2: tentava dar um golpe de Estado;
3: empenhava-se numa associação com mais de quatro pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, para praticar crimes.

Crime 1: Artigo 359-L do Código Penal. Pena: prisão de 4 a 8 anos.

Crime 2: Artigo 359-M do Código Penal. Pena: prisão de 4 a 12 anos.

Crime 3: organização criminosa, conforme Lei 12.850. Pena: de 3 a 8 anos.

Sentiu a barra? Pelo mínimo, são 11 anos de cana; pelo máximo, 28; pela média, 19 e meio; pela metade, 14. Em qualquer caso, será regime fechado, o que vai lhe garantir tempo para a reflexão e para a leitura. E é certo que você não terá de se lembrar das muitas vezes em que estimulou que os direitos humanos fossem garantidos apenas "para humanos direitos". Mesmo um torto como você será respeitado.

A melhor coisa que a democracia tem a lhe oferecer, meu senhor, é não submetê-lo às suas próprias convicções — ou, na cadeia, experimentaria o "Método Brilhante Ustra". Não vai acontecer.

A "Veja" traz detalhes do depoimento de Freire Gomes. Parece, e outros dados que vieram a público corroboram suposição, que se comportou com decência, ainda que as Forças Armadas tenham, sim, se deixado contaminar pela pestilência — ou aqueles acampamentos não teriam prosperado.

É fato: tanto o general como Batista Jr., que comandava a Aeronáutica, disseram "não" à conspiração.

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Sim, era tudo verdade:
- no dia 7 de dezembro, o ainda presidente apresentou aos três comandantes militares -- o terceiro era Almir Garnier, da Marinha, ora investigado -- a ideia de decretar uma GLO, falando também em estado de defesa e estado de sítio;

- foi Filipe Martins, então assessor especial de Bolsonaro, a ler o texto; além dos três comandantes, estava presente Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa;

- essa era a minuta, ou que nome tenha, encontrada no celular de Mauro Cid;

- o texto dos "juristas do quartelada" dizia que a legalidade nem sempre é suficiente e que decisões judiciais podem ser "ilegítimas" porque "injustas na prática". E eles seriam os juízes dos juízes;

- era uma versão preliminar. Por ela, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) seriam presos. Ainda voltariam ao assunto. O então presidente mexeu na estrovenga, como se sabe, e manteve apenas a prisão de Moraes;

- Freire Gomes e Batista Jr. falaram sobre a impossibilidade de o troço prosperar. Garnier pôs sua tropa à disposição;

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- numa segunda reunião, o texto já estava "burilado"; acrescentava-se aos instrumentos do virada de mesa uma "Comissão de Regularidade Eleitoral" para "apurar a conformidade e a legalidade do processo eleitoral", marcando novas eleições.

O general deixou claro que não participaria do jogo sangrento e advertiu o presidente de que ele poderia vir a responder por crime. Batista Jr. continuou com seus caças no chão. E Garnier seguia entusiasmado com a quartelada.

Freire Gomes disse ainda que Bolsonaro tinha plena ciência de que o sistema de votação era seguro, o que também lhe foi assegurado pelos militares. Mas sabem como é o "Mito". Ou come, como lobo que é, o cordeiro porque argumentos, afinal, não importam, ou, escorpião sorrateiro, ferroa as costas do sapo que lhe dá carona. Em ambos os casos, estamos diante de uma natureza. A do ex-presidente é ser golpista.

PAULO SERGIO NOGUEIRA NÃO SE SALVA
Não há salvação para o general Paulo Sergio Nogueira, ex-comandante do Exército e ex-ministro da Defesa.

Freire Gomes revela que o colega de farda conduziu, ele mesmo, uma reunião com os três comandantes, com uma terceira versão do tal documento de Martins. Nas suas palavras:
"O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio, apresentou aos presentes a minuta de decreto que era mais abrangente do que a apresentada pelo então presidente Jair Bolsonaro, mas na (sic) mesma forma decretava o Estado de Defesa e instituía a criação da Comissão de Regularidade Eleitoral para 'apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral."

Os respectivos comandantes do Exército e da Aeronáutica afirmaram que não havia possibilidade de condescenderem com o Plano. Garnier se calou.

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Freire Gomes disse também que Nogueira fazia reuniões semanais com os comandantes militares para tratar de eleições. O então ministro da Defesa deixou isso claro na reunião de 5 de julho de 2022.

ANDERSON TORRES
Lembram-se da outra minuta, aquela encontrada na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça -- o que não se lembrava de nada e nem sabia como o troço teria ido parar entre os seus guardados. Freire Gomes confirmou: foi um dos textos que Bolsonaro debateu com os comandantes.

A aberração previa a decretação de estado de defesa no TSE e nos TREs e a destituição dos ministros do tribunal eleitoral, que seriam substituídos por uma junta composta, na sua maioria, de militares.

A linha de defesa de Torres acaba se desmanchando. Nada surpreendente. Naquela patuscada de 5 de julho de 2022, ele era um dos mais entusiasmados com o "soco na mesa" (by general Augusto Heleno).

CARTA DE MILITARES DA ATIVA
O ex-comandante falou também sobre uma carta de integrantes do Exército da ativa que começou a circular no dia 28 de novembro. Disse não ser uma mensagem oriunda da Força, mas vinda de fora. Lembro um trecho:

"Estamos atentos a tudo que está acontecendo e que vem provocando insegurança jurídica e instabilidade política e social no país. Ademais, preocupa-nos a falta de imparcialidade na narrativa dos fatos e na divulgação de dados, por parte de diversos veículos de comunicação.
Covardia, injustiça e fraqueza são os atributos mais abominados para um soldado. Nossa nação, aquela que entrega os maiores índices de confiança às Forças Armadas, sabe que seus militares não a abandonarão."

Golpistas costumam ter seu próprio entendimento de democracia e honra. A pressão foi inútil, e os militares legalistas passaram a ser vítimas das milícias digitais, insufladas por bandidos.

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ACABOU
Eduardo Bolsonaro foi aos EUA para denunciar que o objetivo dos malvados é prender seu pai. Não é um objetivo, mas é o que vai acontecer porque se trata apenas de aplicar a lei. O tal Zero Três sabe disso.

Tanto sabe que está se movimentando feito doido para ser seu sucessor na política e no clã. E, olhem que desgraça!, disputa com a mulher do pai o espólio do futuro presidiário.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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