Xandão obriga Musk a tragar democracia contra a gritaria do colunismo chulé
A X já começou a voltar. Em seu despacho na tarde de ontem, o ministro Alexandre de Moraes escreve, depois de deixar claro que a empresa cumpriu rigorosamente todas as determinações judiciais:
"Diante do exposto, DECRETO O TÉRMINO DA SUSPENSÃO E AUTORIZO O IMEDIATO RETORNO DAS ATIVIDADES DO X BRASIL INTERNET LTDA. EM TERRITÓRIO NACIONAL E DETERMINO À ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) QUE ADOTE AS PROVIDÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA EFETIVAÇÃO DA MEDIDA, comunicando-se esta SUPREMA CORTE, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas."
É o fim de uma saga — ou é um interregno? — de uma empresa e de um bilionário salta-pocinhas, o sr. Elon Musk, que resolveu afrontar o que ele via como uma bugrada exposta a seus ímpetos colonizadores. Deu-se mal. Contra todas as suas expectativas, os bugres ganharam por 10 a zero.
Escrevi nesta coluna um texto na madrugada de ontem sobre os absurdos praticados pelo senhor Pablo Marçal e indaguei como ele pôde chegar tão longe. E respondi: é que ninguém o conteve. E ele foi testando para ver até onde poderia chegar. Praticava ilegalidades e via que nada acontecia. Então foi escalando. O Ministério Público Eleitoral de São Paulo foi omisso. O Tribunal Regional Eleitoral também. Se os membros desses entes não decidiram ser coniventes e prevaricadores, conseguiram disfarçar muito bem...
Moraes é um outro tipo de juiz. Faz valer as leis. Elas não funcionam por si mesmas. Nós o vimos em ação contra os atos golpistas. Enfrentou ainda o mandarinato do autocrata amalucado que assombrou a Presidência por quatro anos. Lastimo que seja hoje o alvo de alguns setores da imprensa, que preferem atacar o magistrado a pedir punição para o golpismo. A propósito: vi alguns verdugos de Moraes a apontar a inércia dos órgãos legais diante dos abusos de Marçal. É mesmo? Sentiram falta de Xandão? O juiz omisso é um promotor de injustiças.
Não custa lembrar: ao cobrar do "coach" explicações sobre o uso ilegal da X, no episódio do ataque criminoso a Guilherme Boulos, o ministro alertou para o possível cometimento de crimes de abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação, razão por que oficiou a ministra Cármen Lúcia, presidente do TSE. Nota à margem: o sr. Marçal só continuará elegível, dados os crimes que cometeu, se a Justiça Eleitoral prevaricar. Por um punhado de votos, o cara não chegou ao segundo turno. Tivesse acontecido, e apareceria algum tonto a dizer que um tribunal não pode se sobrepor à vontade dos eleitores. É o legalismo da estupidez. Quando se frauda o processo eleitoral, como fez Marçal, a vontade de quem vota já deixou de ser livre. E era precisamente o que fazia a X em escala abismal: proteger o crime e os criminosos para fraudar vontades.
Um juiz precisa ter a coragem de ser um... juiz! Inclusive contra um multibilionário salta-pocinhas que acredita poder ditar as ordens a Poderes em países que considera, sei lá, ignotos, a exemplo da farra que promove nos EUA em favor de Donald Trump. Com a bugrada daqui, o brancão sul-africano se deu mal.
Atenção! A X só está voltando porque a empresa cumpriu todas, rigorosamente todas!, as determinações de Moraes. E se desrespeitar ordens judiciais de novo? Será suspensa de novo. Boas ou más, certas ou erradas, deve-se recorrer contra elas, nunca ignorá-las. E o mesmo vale para qualquer outra plataforma. É assim que funciona na democracia.
Por que Moraes está na mira da extrema-direita? Porque ousa fazer valer a Constituição. Como é mesmo? A democracia é o regime em que nem tudo pode.
Tudo pode na tirania. Para os tiranos e seus amigos. "Mas e se eu não quiser seguir as regras do regime democrático?" Note bem: inexiste uma lei que estabeleça ser obrigatório cumprir as leis. Prescrevem-se punições para aqueles que decidem desrespeitá-las.
A regra vale também para Musk. Ou sai do ar.
Fosse pelo colunismo chulé, o salta-pocinhas continuaria por aí a fraudar a democracia. Aqui, Xandão o fez tragar a democracia. Não acredito que tenha se convertido à legalidade, diga-se. Vive-se apenas a véspera do próximo embate. A exemplo de seus inspiradores originais, os neofascistas não desistem nunca. E, por isso mesmo, é preciso manter a vigilância.
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