Tarifas de Trump já em vigor e reação do Brasil. E Bolsonaro e seus reaças?
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O governo dos Estados Unidos confirmou ontem a noite que entra em vigor hoje a tarifa de 25% sobre aço e alumínio, o que afeta Brasil, Canadá e outros países. Não há exceção. Não prosperou a tentativa do Brasil de negociar uma cota de exclusão. Donald Trump não está disposto, até agora, a poupar nenhum aliado, e foi ele próprio a dizer que os amigos podem, às vezes, ser mais prejudiciais do que os inimigos...
Não faltam sinais, dados pela própria economia americana, de que está no caminho errado. Em menos de dois meses de mandato — e ele está seguro de que fez os primeiros 30 dias mais fabulosos da história americana, com suas ordens executivas a perseguir imigrantes e trans —, os tais agentes econômicos foram da euforia ao pânico. Enquanto isso, o velho arruaceiro se junta a um multibilionário com traços salientes de psicopatia para fazer gracejos sobre a Tesla, aquela que ganhou US$ 700 bilhões em Bolsa com a eleição e perdeu outro tanto... Isso é um emblema do que o novo governo está fazendo com os mercados.
Voltemos ao Brasil. E agora? Ontem, num evento em Minas com a indústria automobilística, Lula articulou uma fala política, e noto que o país não está esticando a corda. Busca o caminho da negociação, no que está certo. Disse o presidente:
"Pode ter certeza: a economia brasileira vai continuar crescendo. A gente vai continuar gerando emprego; a inflação vai baixar; nós fizemos a maior política tributária que esse país já viu na história, e todo mundo vai ganhar porque nós não queremos o Brasil para nós. Nós queremos o Brasil para vocês. E é por isso que eu digo sempre: não adianta o Trump ficar gritando de lá porque eu aprendi a não ter medo de cara feia. Fale manso comigo, fale com respeito comigo, que eu aprendi a respeitar pessoas e quero ser respeitado. É assim que a gente vai governar esse país; é assim que a gente vai governar esse país".
A reação do presidente tem sido mais cordata e suave até do que a de dirigentes europeus e de outros parceiros que estão sendo atingidos pela política de Trump. Ontem, o presidente americano se reuniu com empresários e investidores, que temem as consequências do desatino em curso. A exemplo do que fazem todos os de sua espécie, o mentiroso compulsivo ignorou a realidade e reafirmou suas escolhas.
Depois do anúncio, Lula convocou uma reunião para discutir o assunto nesta quarta, que deve juntar o presidente e os ministros que despacham no Palácio; Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, e o Itamaraty. Para lembrar: em seu primeiro mandato, Trump impôs tarifa adicional aos mesmos produtos, mas o Brasil negociou cotas que ficavam fora da sobretaxação, numa soma de US$ 5,7 bilhões.
No começo da noite de ontem, comunicado do porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, mandou brasa:
"De acordo com suas ordens executivas anteriores, uma tarifa de 25% sobre aço e alumínio, sem exceções ou isenções, entrará em vigor para o Canadá e todos os nossos outros parceiros comerciais à meia-noite de 12 de março".
O comércio bilateral Brasil-EUA movimenta pouco mais de US$ 80 bilhões entre importação e exportação, e o saldo é deficitário para nós: algo em torno de US$ 250 milhões. Há outros sortilégios à vista se Trump cumprir a sua promessa: aí nas chamada "tarifas recíprocas", que pode atingir o etanol.
É claro que o Brasil deve continuar no caminho da negociação. A estridência retórica não resolve nada. Mas também há uma limite para o entendimento: não sendo possível, resta a prática da reciprocidade, não é? Eles taxam de lá, e a gente taxa de cá. É o caminho, e isso começa a ser percebido com clareza pelos americanos, em que todos perdem — e daí a reação de quase pânico.
Trump vai parar? É difícil saber. Talvez só um resultado muito ruim para a economia — recessão americana, por exemplo, o que será péssimo para todo o mundo — possa forçá-lo a mudar de rota. Mas nem isso dá para afirmar com alguma segurança. Há nas suas escolhas muito de cegueira ideológica. O governo segue os passos, o que é estupefaciente, do tal "Projeto 25", um emaranhado de reacionarismos, alguns pré-capitalistas, da tal "Heritage Foundation". Procurem saber quem é o que pensa Alexandr Dugin, o guru de Vladimir Putin. Trata-se de delírios equivalentes: postulados contra o mundo moderno, contra o capitalismo globalizado e contra o cosmopolitismo cultural. Uma das características dos fanáticos consiste em achar que os maus resultados decorrentes das escolhas que fazem só provam que eles não foram radicais o bastante. E então eles dobram a dose do remédio que está dando errado.
A DIREITA AQUI
É claro que o Brasil tem de reagir. Que seja com serenidade, mas com firmeza. A propósito: notaram como a direita e a extrema-direita por aqui, que meteram na cabeça o boné do MAGA quando Trump venceu, não solta um pio sobre a taxação dos produtos brasileiros? Que isso sirva de alerta ao empresariado nacional.
Quer dizer: Bolsonaro soltou. E aplaudiu a decisão de Trump. Afirmou, no que pretendia ser uma crítica ao ministro Fernando Haddad:
"Trump está taxando os outros, não o próprio povo".
Eis a chamada ignorância complexa. Afinal, "taxar os outros" implica taxar também o Brasil, e o ex-presidente, assim, endossa uma decisão que prejudica o povo do país que ele pretende presidir de novo — o que não vai acontecer. De resto, Trump também está armando uma megataxação do próprio povo por intermédio da inflação.
É claro que as tarifas serão tema em 2026. E será preciso saber quem apoia quem e o quê. Os candidatos pretendem governar para os brasileiros ou para Trump?
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