Reinaldo Azevedo

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Opinião

Datafolha - Prisão, anistia, pena: é tudo ruim para Bolsonaro e pode piorar

Segundo pesquisa Datafolha, com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos, 52% dos entrevistados — que são, no levantamento, uma amostra dos brasileiros — acham que o ex-presidente Jair Bolsonaro deve ser preso. Pensam o contrário 42%; 7% dizem não saber. Indagados se acreditam que será preso ou não, 52% avaliam que isso não acontecerá; para 42%, a prisão virá. Mais uma vez, 7% não sabem responder.

Correspondendo realmente à vontade da população, o resultado é muito ruim para o mais novo cultor da língua de Shakespeare, que vê declinar a presença de público em seus comícios pró-golpistas.

Uma questão relevante: não se sabe exatamente que pergunta foi feita aos respondentes. Foi seca ("Jair Bolsonaro deve ser preso?")? Agregou-se alguma circunstância ("Jair Bolsonaro deve ser preso já, antes da condenação?")? Ou ainda: "Se condenado, você acha que Jair Bolsonaro deve de ser preso?"

Mais: empregou-se o verbo "ter" ou "dever"? A indagação "Jair Bolsonaro deve ser preso?" carrega ao menos dois sentidos, dado o contexto: o 8.1 do Houaiss: "Chance, esperança, exequibilidade, presumibilidade ou probabilidade de ocorrer (ou não) a ação ou processo, ou de atingir-se o estado, a que se refere esse verbo no infinitivo", e o 8.2: "Obrigação, imposição de ocorrer a ação ou processo, ou de atingir-se o estado a que se refere esse verbo no infinitivo". São coisas distintas, não? Indagar se o presidente "tem de" se preso não traz ambiguidade nenhuma.

Tendo a achar que o emprego do verbo adequado, com a devida circunstância, pode alterar o resultado: "Você acha que Jair Bolsonaro tem de ser preso se for condenado?" Eu apostaria num número maior do que os 52%.

ANISTIA E PENAS
O instituto quis saber o que os brasileiros pensam sobre a anistia. Manifestam-se contra o benefício 56%; 37% são favoráveis. Em janeiro, a diferença era maior: 62% a 33%. Pode ser efeito da vitimização de Débora, a "cabelelera" na língua de Nikolas... Ainda assim, é visível que a pauta não foi adotada pela maioria da população.

O berreiro que os bolsonaristas, com a ajuda da imprensa, promovem sobre as penas aplicadas não comoveu o coração das massas... Segundo entendi, o Datafolha quis saber o que pensam os brasileiros sobre uma pena de 17 anos para os golpistas do 8 de janeiro. O resultado não deixa de ser surpreendente: 34% a consideram adequada; para 25%, deveria ser ainda maior; só 36% a veem como excessiva, e 5% não sabem. Vale dizer: entre aprovação e os que gostariam de ainda mais severidade, chega-se a eloquentes 59%. Ressalte-se: para penas de 17 anos!!!

E olhem que, nesse caso, a pergunta tem um peso brutalmente maior na indução da resposta. Será que os respondentes sabem que, num universo de 1.029 casos, houve 532 acordos de não persecução penal, o que corresponde a 51,7% do total? Vale dizer: ninguém deve mais nada à Justiça. E se forem informados de que penas de até um ano — que resultam, na prática, em pena nenhuma — somam outros 23%? Fala-se aqui de 75%.

Mais um pouco? As penas de 11 a 14 anos alcançam apenas 146 pessoas — 14,1%. As de 16 e 17 — a que, tudo indica, se refere a pergunta do Datafolha — são apenas 10,3% do total: 107 casos. Em razão da progressão, os condenados a tanto ficarão pouco mais de dois anos em regime fechado. Quem já está em preventiva terá esse tempo descontado.

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Entendo que, com as informações sobre os números reais — não a fantasia que os reaças vendem nas redes para aprovar a anistia e garantir a impunidade a Bolsonaro —, aumentaria o número de pessoas favoráveis às penas aplicadas e o daqueles que veem punições brandas demais.

Quando se considera a opinião dos brasileiros sobre esses temas, mesmo com informações precárias sobre as penas por exemplo, vê-se que a presença desses assuntos na imprensa é exagerada, num sinal de que o bolsonarismo está sendo bem-sucedido no seu lobby pró-golpismo ou, sei lá, de que o jornalismo passou a ser mais sensível à metafísica fascistoide.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

1 comentário

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João Luís Nery

Alguem acredita no datafolha ? UOL, Foia, UOL todos sidonios dependentes

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