Cassem e processem: deputado quer Lula morto e tenta impedir meio de defesa
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Nesta terça, um deputado federal afirmou que torce pela morte de Lula. Mas ele foi além. Cometeu crime. Vamos ver.
Jair Bolsonaro passou 28 anos na Câmara a dizer barbaridades. Ninguém dava muita bola para ele. Dispensava-se àquele senhor, desprezado também por militares graduados, o tratamento de um bufão irresponsável. E era. Mas não só isso. Pisoteava o Código de Ética e Decoro Parlamentar e ia ficando por lá, fazendo fama e fortuna e pendurando a família toda na política: uma verdadeira dinastia; uma estirpe de bravos. O patrimônio da turma teve um crescimento formidável. Logo, mau negócio não era, ainda que o, por assim dizer, patriarca não tivesse chegado ao topo. A voragem da Lava Jato e seu adernamento ideológico destruíram o ecossistema político, e o "clown" da extrema direita alcançou a Presidência, de onde tentou articular um golpe de Estado. E, como deixou claro por esses dias, não desistiu do golpismo nem depois de se tornar réu por... tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes! Será que a cadeia cura? A esta altura, é preciso proteger a sociedade. Por que isso?
A Comissão de Segurança Pública da Câmara aprovou ontem, por 15 votos a 8, um projeto de lei que propõe desarmar a segurança do presidente da República e de todos os ministros de Estado. É inconstitucional. Mas essa questão fica para outra hora. O autor da proposta é o deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP), um bolsonarista fanático. Em maio de 2023, este senhor ocupou a tribuna da Câmara para entoar loas a um avô ucraniano por ter integrado a SS, a polícia do Estado nazista que espalhou terror e morte. Tentou justificar: o seu antepassado estava "em uma guerra mundial para libertar a Ucrânia das garras do comunismo..." Entenderam? Por que não a SS?
Lembro essa circunstância porque sempre é bom saber quem quer o quê. O relator da matéria foi o deputado Gilvan da Federal (ES), também do PL. Ao defender o texto, afirmou:
"Por mim, eu quero mais é que o Lula morra. Eu quero que ele vá para o quinto dos infernos. É um direito meu. Não vou dizer que eu vou matar o cara, mas eu quero que ele morra, que vá para o quinto dos infernos. Porque nem o diabo quer Lula. É por isso que ele está vivendo aí, superou o câncer... Tomara que tenha um ataque 'cardia" [quis dizer "cardíaco]. Porque nem o diabo quis essa desgraça desse presidente, que está afundando nosso país. E eu quero mais é que ele morra mesmo! E que andem desarmados. Não quer desarmar o cidadão de bem? Que ele ande com o seu segurança desarmado".
Gilvan Aguiar Costa resolveu adotar o nome "Gilvan da Federal" porque já foi agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e era agente da PF quando se licenciou para fazer política. Sabem como é... O cara é um patriota e só discursa com uma bandeira do Brasil nos ombros. Pertence àquela safra de fanfarrões perigosos que, volta e meia, transformam o Congresso num picadeiro de maus palhaços.
QUEBRA DE DECORO
Trata-se de evidente quebra do decoro parlamentar. Vamos ver?
Define o Código de Ética da Câmara:
Art. 4º Constituem procedimentos incompatíveis com o decoro parlamentar, puníveis com a perda do mandato:
I - abusar das prerrogativas constitucionais asseguradas aos membros do Congresso Nacional (Constituição Federal, art. 55, § 1º);
Art. 5º Atentam, ainda, contra o decoro parlamentar as seguintes condutas, puníveis na forma deste Código:
II - praticar atos que infrinjam as regras de boa conduta nas dependências da Casa;
X - deixar de observar intencionalmente os deveres fundamentais do Deputado, previstos no art. 3º deste Código.
Entre os deveres fundamentais, previsto no Artigo 3º, lê-se:
VII - tratar com respeito e independência os colegas, as autoridades, os servidores da Casa e os cidadãos com os quais mantenha contato no exercício da atividade parlamentar, não prescindindo de igual tratamento;
Gilvan tem de ser cassado. Até onde essa gente pode ir? Num dia, um Gustavo Gayer associa uma ministra de Estado a garota de programa; no outro, seu colega de partido diz querer a morte do presidente. Estamos no território do decoro. Mas há também o do crime.
VAMOS ENTENDER O QUE FEZ O TAL GILVAN?
Ele é o autor do relatório de um projeto de lei absurdo e confessa: quer que Lula morra. Para atingir seu intento, não disfarça: usa a sua condição de deputado para tentar, então, desprover de armas os seguranças do presidente e do ministro.
Não há a menor dúvida de que Gilvan vocaliza um desejo — a morte de Lula — e de que instrumentaliza a sua função pública para facilitar o trabalho de quem quiser concretizar o seu sonho.
A Advocacia Geral da União (AGU) encaminhou notícia de fato à PF e à PGR, solicitando que adotem as providências cabíveis, incluindo possível investigação criminal. Escreve a AGU que as declarações podem configurar, em tese, os crimes de incitação ao crime (art. 286 do Código Penal) e ameaça (art. 147 do Código Penal), merecendo apuração rigorosa pelos órgãos competentes". E acrescenta. "Há de se apurar, ainda (...), se tais manifestações excedem ou não os limites da imunidade parlamentar, de acordo com o art. 53 da Constituição Federal, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que tem entendido que a imunidade material não protege manifestações que configurem crimes contra a honra ou incitação à violência, especialmente quando se voltarem contra instituições democráticas ou agentes públicos investidos em função de Estado."
A OUSADIA
A extrema direita, como sabem, quer a anistia para golpistas por crimes cometidos de 30 de outubro até a data em que a lei entrar em vigor. Não vai acontecer, mas a pretensão delinquente é notável. Uma das evidências que a PF trouxe à luz foi o plano para matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e, claro!, o ministro Alexandre de Moraes. Em meio a essas revelações, 15 deputados de uma comissão aprovam um texto que, se entrasse em vigor, exporia o presidente a risco de vida.
O maior erro que se pode cometer sobre Bolsonaro e seus subordinados ideológicos é achar que podem ter se convertido à democracia. Notem a que miséria o dito "Mito" reduziu a política. Mas qual a surpresa? Em 2015, indagado por um repórter se achava que Dilma concluiria o mandato, o agora inelegível respondeu: "Eu espero que acabe hoje, infartada ou com câncer, de qualquer maneira".
Bolsonaro abriu a tampa do bueiro da política. E é necessário fechá-la. Se Gilvan não for cassado por sua fala e se não tiver de responder na Justiça, outros farão coisa ainda pior. E sempre aparecerá alguém para dizer: "Ah, melhor não fazer nada por enquanto..." Até o dia em que reagir já não será uma opção. Como indagou Hilel, "se não for agora, quando?"
142 comentários
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Lu S Otoni Queir S dos Santos
Essa comissão foi tomada por egressos de um Hospício. Essa proposta de desarmar os seguranças do presidente Lula é só para facilitar um possível crime, ou um golpe de Estado, ela apenas dá voz à sociopatia bozominia, com benefício zero para os Estados e os próprios eleitores deles, prejuízo ao país. Parece uma comissão formada para impedir políticas ou propostas reais que beneficiariam a segurança pública do POVO. Infelizmente esses políticos bolsonaristas sequer fazem oposição, são apenas o resultado de uma grande inversão de valores e de um ledo engano eleitoral.
Victor Hugo Dunstan
Que seja cassado,processado e preso,perder direitos políticos!!
Rita Lira Roque
Ética ?? Este pessoal desconhece , não falo de ideologia de direita mas sim de gente sem noção do cargo que ocupa . Que congresso esse hein ?