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Tales Faria

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Estava tudo pronto para um grande happening de Jefferson durante a prisão

Colunista do UOL

26/10/2022 11h00

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Roberto Jefferson aparentemente agiu como louco. Mas ele não rasga dinheiro.

Tudo leva a crer que Jefferson estava esperando a chegada da Polícia Federal à sua casa. Daí porque a divulgação em tempo real da chegada dos policiais com o mandado de recondução à prisão, expedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre Moraes depois que divulgou vídeo chamando a ministra Carmen Lúcia, do STF, de prostituta.

O mandado foi expedido não por causa do simples xingamento, como insistem os bolsonaristas. O mandato foi expedido devido ao descumprimento explícito das regras de prisões domiciliares, entre as quais a de que não cabe ao detento lançar mão de meios de comunicação. Sem contar o farto armamento que revelou estar de posse. Jefferson é advogado e conhece essas regras todas.

A presença do ministro da Justiça, Anderson Torres, enviado pelo presidente Jair Bolsonaro à casa do ex-deputado, serviria como palanque para transformar a prisão num verdadeiro ato de campanha com o detento apresentando a todo o país as teorias conspiratórias dos bolsonaristas radicais contra o Supremo e a Justiça eleitoral.

Seria uma excelente peça de campanha.

Mas as granadas e os tiros desferidos pelo ex-deputado contra a Polícia Federal, que atingiram dois policiais, acabaram desmontando tudo. Jefferson atacou forças de segurança, justamente eleitores a que Bolsonaro mais se agarra. O comando da campanha acabou convencendo o presidente a abortar a ida do ministro.

Anderson Torres não chegou à cidade de Comendador Levy Gasparian, onde Jefferson o esperava para discursar cercado pela imprensa. Seria uma desobediência às determinações do mandado expedido pelo STF. Mas se poderia argumentar que ele falou sem autorização.

Não falou. Mas foi tratado com uma consideração jamais dispensada a qualquer malfeitor que faça uso de artilharia pesada contra a polícia.

O resultado de tudo isso é que os tiros saíram pela culatra. A cena de violência explícita e exacerbada dos bolsonaristas — inclusive com aliados agredindo repórteres em frente à residência — serviu para assustar eleitores que estavam indecisos, mas que não comungam da agressividade e do radicalismo de aliados do presidente da República, como o Roberto Jefferson.