Tales Faria

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Delgatti fez da CPI bolsonarista canhão contra militares e Bolsonaro

O depoimento do hacker Walter Delgatti na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) dos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro caiu como um tiro de canhão contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

A CPMI foi articulada - mais que isso, exigida - pela oposição bolsonarista, na suposição de que serviria para corroborar uma narrativa absurda: vítima dos ataques na Praça dos três Poderes, o governo é que teria facilitado o golpe.

Mas eis que o Delgatti trouxe informações em seu depoimento que, se confirmadas, deram nome e sobrenome aos principais personagens da tentativa de golpe contra o estado democrático de direito, com datas, horas e locais da armação.

No caso de Bolsonaro, os dados apresentados por Delgatti na CPMI podem deixar seus aliados envolvidos de tal forma assustados que deflagrem uma onda de delações em outros casos.

Isso aumentaria o risco de aparecimento de novas informações sobre casos como o das joias desviadas do acervo de presentes presidenciais; mais o dos atestados falsos de vacinação contra a Covid; e o caso da interrupção das estradas pela Polícia Rodoviária Federal no dia da eleição presidencial.

Delgatti deixou claro que se encontrou com o ex-presidente, e que Bolsonaro o incentivou forjar falsas provas de que as urnas eleitorais eram passíveis de fraude. Seria base a fake News de uma peça publicitária a ser elaborada pelo marqueteiro da campanha de Bolsonaro, o Duda Lima.

O hacker também disse que o presidente lhe ofereceu a possibilidade de obter emprego e um indulto presidencial. Bastava assumir a autoria de uma suposta gravação de conversas do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Mas, mais grave que tudo - e que não é impossível provar, se for verdade - Bolsonaro teria dado ordem direta ao coronel Marcelo Câmara, assessor especial da Presidência, para levar Delgatti ao Ministério da Defesa, a fim de orientar os militares sobre formas de romper a segurança das urnas eleitorais.

Segundo Delgatti, o hacker foi recebido pessoalmente pelo então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, e frequentou as dependências do Ministério em pelo menos cinco episódios.

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Ele declarou ainda que o relatório do Exército sobre possíveis fragilidades das urnas teria sido elaborado, em sua totalidade, por informações que passou aos técnicos militares.

Mais. O hacker contou que teria mantido contatos com o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes.

Ou seja, jogou a lama das articulações contra a democracia no governo Bolsonaro sobre os ombros da alta cúpula militar da época. Os atuais comandantes militares têm obrigação de apurar se os fatos apontados são verdadeiros. E punir exemplarmente.

Eu procurei o atual ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Ele me disse que não há registros dos encontros com Delgatti. José Múcio conta que, então, pediu à Polícia Federal que informe os nomes das pessoas com as quais Delgatti esteve.

Eu quis saber o que ele fará quando receber esses nomes. Múcio respondeu: "Tomaremos as providências, mas preciso dessas informações."

Bem, se as providências forem de fato tomadas, o país agradece.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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