Tales Faria

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Governo depende mais de Arthur Lira para frear oposição nas comissões

O governo admite que o poder de fogo da oposição ficou além do esperado com a definição de que o PL presidirá a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ).

No entanto, o Palácio do Planalto aposta que o problema será minimizado graças ao acordo de cooperação mútua acertado entre o presidente Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Os dois tiveram um encontro reservado na última semana de fevereiro.

Neste encontro, Lira garantiu apoio na tramitação dos projetos prioritários do governo neste ano, especialmente aqueles ligados à economia. Em troca recebeu a promessa de boa vontade do Planalto na escolha de seu sucessor no comando da Casa, assim como na campanha eleitoral em Maceió.

Na distribuição do comando das comissões permanentes da Câmara, além da CCJ o PL também conquistou outra comissão importante: a de Educação.

Na avaliação de um líder governista ouvido pela coluna, a situação na Comissão de Educação não ficará totalmente fora de controle, apesar de o bolsonarista radical Nikolas Ferreira (PL-MG) ter sido indicado para presidir o colegiado.

"A maioria dos integrantes dessa comissão é composta por deputados ligados há tempos ao setor e contrários às ideias do Nikolas. Ele será enquadrado", disse o líder governista.

O caso da CCJ, sim, é considerado preocupante, porque a indicada pelo PL, Carolina de Toni, é outra bolsonarista raiz. Caberá à presidente do colegiado definir a pauta de votações da principal comissão da Casa.

Os petistas esperavam que Arthur Lira usasse de seu poder, como presidente da Câmara, para fazer o PL indicar ao comando da CCJ um deputado da ala menos bolsonarista do partido. Como isso não ocorreu, a avaliação é de que haverá uma pressão maior da oposição sobre o governo.

Todos os projetos passam pela CCJ, exceto aqueles com o carimbo de "urgência constitucional" do Palácio do Planalto e os enviados a comissões especiais por abordarem temas de mais de quatro comissões permanentes.

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Como Arthur Lira é quem define a pauta de votações do plenário geral da Câmara, a expectativa agora do Planalto é de que ele segure os projetos mais delicados contra o governo que vierem da CCJ.

Já os projetos com "urgência constitucional" têm tempo determinado para serem votados em plenário, independentemente da pauta na CCJ. Pelo contrário, se não forem votados eles seguram a fila de votações.

Para o governo, Lira deu sinais de que está disposto a ajudar a diminuir o poder da CCJ nas articulações para a definição da Comissão de Saúde.

O próprio líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), admite que o partido preferia o comando desta comissão em vez da Educação. Mas a Comissão de Saúde acabou ficando para o PT, segundo Côrtes, "porque o União Brasil nos atrapalhou, ajudando o governo".

O líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), é muito ligado a Arthur Lira e o candidato predileto do presidente da Câmara à sua sucessão.

Nos últimos dias circularam notícias de que o PL teria fechado acordo com o União em troca do apoio na definição dos presidentes de comissões. O partido não lançaria candidato ao comando da Câmara e Elmar ajudaria o PL a ficar com as comissões que escolhesse.

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"Esse acordo nunca existiu. Tanto que o União nos atrapalhou na Comissão de Saúde. E mais: o PL lançará candidato próprio a presidente da Câmara. Podem cobrar", disse Côrtes.

De uma maneira ou de outra, o resultado da escolha dos presidentes de comissões deixou o governo mais ainda nas mãos de Arthur Lira.

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