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Imunização não causa autismo; post divulga desinformação de site antivacina

29.out.2024 - Não há relação entre vacinas e autismo, conforme comprovaram pesquisas com milhares de crianças Imagem: Arte/UOL sobre Reprodução Instagram

Do UOL, no Rio

29/10/2024 16h34Atualizada em 30/10/2024 18h15

É falso que uma criança de 5 anos de idade tenha desenvolvido autismo depois de ser obrigada a tomar 18 vacinas em um dia. Posts nas redes sociais reproduzem o conteúdo do site de uma organização antivacina dos EUA.

Não existe menção ao caso na grande imprensa nem relação entre vacinas e autismo, conforme comprovaram outras pesquisas com milhares de crianças.

A desinformação sobre o tema se baseia em um estudo de 1998 com dados falsos e que foi considerado uma fraude. O médico responsável pelo trabalho teve o registro cassado pelo Conselho Médico do Reino Unido em 2010.

O que diz o post

A publicação traduz um texto do site "the Defender", da organização antivacina dos EUA Children's Health Defense.

Segundo o texto, uma criança de 5 anos de idade teria desenvolvido autismo ao ser obrigada a tomar 18 vacinas em um dia.

Por que é falso

O UOL Confere não encontrou relatos do caso na imprensa profissional. Uma busca pelos termos "Todd Burnett", o juiz que supostamente ordenou a vacinação, e "vaccines" (vacinas em inglês) não retorna com notícias da imprensa profissional, apenas um site nigeriano (aqui, em inglês), um site fundado e administrado por um ativista político conservador (aqui, em inglês) e um site de uma jornalista autodenominada independente, reconhecidamente contrária às vacinas (aqui, em inglês). Uma pesquisa pelos termos "5 years old boy" (menino de 5 anos) e "vaccines" também não revela nenhuma reportagem sobre o caso, exceto as citadas anteriormente.

Desinformação que relaciona vacina e autismo se baseia em pesquisa fraudulenta. A origem foi um artigo publicado em 1998 com informações falsas. O estudo preliminar publicado na revista científica The Lancet, pelo médico Andrew Wakefield, analisou 12 crianças que apresentaram sinais de autismo e inflamação intestinal grave. Onze delas haviam supostamente tomado a vacina da tríplice viral, pois teriam vestígios do vírus do sarampo no organismo (aqui).

Médico reconheceu 'hipótese' e que crianças não tinham vírus do sarampo. Wakefield relacionou a manifestação de autismo nas crianças à vacinação, mas reconheceu que se tratava de uma hipótese. A tese dele era de que as vacinas poderiam causar problemas gastrointestinais, os quais levariam a uma inflamação no cérebro -e, talvez, ao autismo (aqui). Ele omitiu, no entanto, que não foram encontrados vírus do sarampo nas crianças.

Conflito de interesses do médico. Em 2004, uma investigação jornalística revelou que Wakefield havia sido pago por advogados interessados em ações contra indústrias farmacêuticas para manipular informações (aqui). Além disso, antes da publicação do artigo, o médico tinha solicitado patente para uma vacina contra o sarampo que concorreria com a tríplice viral —a que ele erroneamente associou à causa do autismo.

Wakefield perdeu o direito de exercer a medicina. Em 2010, ele foi julgado como inapto para o exercício da profissão pelo Conselho Geral de Medicina do Reino Unido pela postura antiética, irresponsável e enganosa (aqui). No mesmo ano, a revista Lancet se retratou pela publicação do artigo (aqui). O estudo de Wakefield é considerado uma fraude (aqui).

Site que publicou conteúdo é conhecido por divulgar desinformação antivacina. A organização Children's Health Defense, dona do site onde o texto desinformativo foi publicado, é liderada por Robert F. Kennedy Jr. Ele é sobrinho do ex-presidente dos EUA John Kennedy. Durante a pandemia, Robert Kennedy Jr promoveu e ganhou ainda mais projeção com desinformação antivacina (aqui, em inglês). Ele é um antigo defensor do movimento que contraria a ciência.

RFK Jr. é considerado um "conspiracionista". Várias vezes ele já comparou a vacinação com um "holocausto" e afirmou que os imunizantes "causam autismo" em crianças, o que é falso. Em 2021, o Instagram suspendeu a conta dele por "repetidamente compartilhar informações falsas sobre a covid-19". Este ano, ele concorreria como candidato independente à Presidência dos EUA, mas desistiu para apoiar Donald Trump.

Estudos posteriores não acharam relação entre vacina e autismo. Em 2015, uma pesquisa publicada no The Journal of the American Medical Association analisou 95 mil crianças americanas, todas com irmãos, e concluiu que não há vínculo entre autismo e vacina. Outra pesquisa, divulgada em 2019, analisou mais de 650 mil crianças dinamarquesas e concluiu que dos cerca de 6.500 diagnósticos de TEA, nenhum tinha sinais de relação com a vacina da tríplice viral.

A principal hipótese para a causa do TEA (Transtorno do Espectro Autista) é uma combinação de fatores genéticos e ambientais (leia aqui e aqui).

Viralização. No Instagram, um post com o conteúdo desinformativo registrava mais de 109 mil reproduções e mais de 2 mil compartilhamentos nesta terça-feira (29).

Este conteúdo também foi checado por Estadão Verifica.

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