Não há protocolo com ivermectina, mebendazol e fenbendazol contra câncer
Posts compartilhados nas redes sociais enganam ao afirmar que exista um protocolo mundial e oficial orientando o uso dos antiparasitários ivermectina, mebendazol e fenbendazol para tratamento do câncer.
As publicações citam artigo publicado em uma revista científica controversa. Não há registro de que o método abordado no trabalho tenha sido reconhecido por alguma organização de saúde.
O UOL Confere considera distorcido conteúdos que usam informações verdadeiras em contexto diferente do original, alterando seu significado de modo a enganar e confundir quem os recebe.
O que diz o post
Uma imagem é compartilhada com o seguinte texto sobreposto: "Agora é oficial: Primeiro protocolo oficial sobre ivermectina, mebendazol e fenbendazol no câncer".
A publicação é acompanhada da seguinte legenda: "O primeiro protocolo mundial sobre o uso de Ivermectina, Mebendazol e Fenbendazol no tratamento do câncer foi publicado e está nas manchetes! Revisado por pares e lançado em 19 de setembro de 2024, este artigo abre as portas para novas perspectivas no enfrentamento do câncer. Dr. William Makis lidera essa inovação, agradecendo aos brilhantes autores Ilyes Baghli e Pierrick Martinez por sua dedicação e visão. A colaboração com o Dr. Paul Marik do FLCCC destaca a importância dos medicamentos reaproveitados, mostrando que o futuro do tratamento oncológico pode ser transformador".
Por que é distorcido
O artigo existe, mas não há protocolo mundial baseado nele. O post faz referência a um artigo publicado na revista canadense "Journal of Orthomolecular Medicine" (aqui), dedicada à medicina ortomolecular, um tema controverso e sem comprovação científica. Em uma busca em outras fontes, não foi possível encontrar informações que corroborassem a alegação. Não há informação no artigo de que ele tenha sido revisto por pares, o que poderia conferir validade aos resultados apresentados.
Revista não é indexada por base de dados de fontes científicas. O Journal of Orthomolecular Medicine não é indexado nem no Medline nem no Scopus (aqui e aqui). Para constar nessas bases, que reúnem publicações científicas de diversos países e são consideradas referências, é necessário cumprir alguns critérios.
Sem evidências científicas. Ao UOL Confere, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) disse que desconhece o protocolo citado no post desinformativo e reafirmou que não existe qualquer evidência científica de que os medicamentos ivermectina, mebendazol e fenbendazol sejam eficazes no tratamento do câncer. "São antiparasitários indicados para tratar infecções causadas por vermes e parasitas", esclarece a instituição.
Pesquisas que existem são em cultura de células e camundongos. Ao UOL Confere, a diretora de Corpo Clínico do Instituto do Câncer de São Paulo, Maria Del Pilar Diz, explicou que as pesquisas em andamento sobre o uso de antiparasitários para tratamento de câncer não foram feitas em humanos. "Na questão da ivermectina, todos os artigos são baseados em dados de laboratórios, em estudos pré-clínicos, seja em cultura de células, seja em camundongos. A gente não pode transpor dados de cultura de células ou dados em camundongos para o homem", afirma a especialista. "Não temos evidências científicas de que esses medicamentos tenham uma ação consistente no tratamento de câncer."
Viralização. No Instagram, um post com o conteúdo desinformativo registrava mais de 17 mil curtidas.
Este conteúdo também foi checado por Estadão Verifica.
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