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Bienal nega ter pressionado pela detenção prolongada de pichadora

Rodrigo Bertolotto<br>Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

11/12/2008 07h08

Respondendo a declarações de artistas de que a Bienal teria que tomar alguma medida após 45 dias de detenção de Caroline Pivetta da Mota, o advogado da Fundação, Alexandre Toledo, afirmou que a entidade se limitou a comunicar às autoridades a ação dos pichadores no prédio da exposição e que agora o caso está nas mãos da Justiça.

PICHAÇÃO NA BIENAL...

  • Talita Virginia/Folha Imagem

    O grupo de 40 pichadores grafitou o segundo andar da BienaL mas...

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    ...Caroline foi a única detida na ação no primeiro dia da mostra

"O prédio foi vítima de um ato de vandalismo. Nosso papel foi avisar o fato às autoridades. A polícia veio e logrou fazer o flagrante no autor. Agora o processo está fora do nosso alcance", disse Toledo, que foi à 36ª delegacia de polícia fazer a queixa naquele domingo 26 de outubro, dia de abertura da exposição de artes mais tradicional de São Paulo.

O advogado declarou que "não teria o menor sentido" a Bienal mudar de lado e ajudar na libertação da garota. "Só se o artista fosse louco para imaginar que a vítima passe a defender o agressor. Não tem cabimento. Esses artistas deviam pedir que os pichadores pedissem desculpas públicas pelo que fizeram. Não devemos explicação a nenhum artista, mas queríamos deixar claro ao público nosso lado", declarou Toledo.

Ele também negou a versão de que a Bienal teria pressionado para a garota permanecer presa na Penitenciária Feminina de SantŽAna. "Em nenhum momento houve esse tipo de pressão para prejudicar a menina. Não há nada pessoal. A Bienal não quer nada de mal para ela e não tem nenhum interesse que fique presa, mas é a Justiça que decide se ela vai responder em liberdade", afirma o advogado da fundação.

A Bienal tinha como lema "Em Contato Vivo", e alguns artistas e críticos apontaram que a mostra deveria ter assimilado as pichações feitas no segundo andar, chamado de "planta vazia", porque não tinha obras. "O prédio foi aviltado. Se ficássemos inertes, as autoridades teriam perguntado porque não fizemos nada diante da destruição de um prédio da prefeitura tombado pelo patrimônio público", argumentou Toledo.

...E AS REAÇÕES

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    Polícia Militar chegou após ligação da organização, mas...

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    ...alguns visitantes simpatizaram com a ação e tiraram foto

Ele afirma que os agentes de segurança particular contratados pela Bienal só agiram quando os pichadores tentaram subir ao terceiro andar. "Eles queriam entrar no terceiro andar onde estavam obras que poderiam atacar. Aí descambou. Então, foram controlados, o prédio foi trancado e a polícia foi chamada", relata o advogado. E disse que se houve truculência foi por parte dos pichadores. "No inquérito está que Caroline chutou um segurança", disse o advogado.

Segundo os presentes, os seguranças procuraram conter o grupo de 40 pichadores, que escaparam pulando muretas e rampas e quebrando um dos vidros do prédio. Caroline acabou com a única detida. Na delegacia, o taxista Rafael Martins foi levar documentos dela, foi reconhecido como presente na pichação e acabou detido por oito dias.

"O rapaz apresentou local de residência e está respondendo em liberdade. Ela não apresentou, por isso está detida", disse o advogado. Segundo a mãe de Caroline, Rosemari Pivetta da Mota, a filha não quis envolver o nome de familiares e amigos no caso, por isso não deu os dados para a polícia.

Tocado pela história da garota pedida, o advogado Alberto Cancissu entrou na última sexta-feira com um pedido de habeas corpus, que deve ter decisão nesta quinta-feira. "É um absurdo o que está acontecendo com ela. Não deveria estar reclusa em uma penitenciária", afirmou Cancissu.