Glauco trouxe frescor aos quadrinhos brasileiros, diz Adão Iturrusgarai
Glauco Villas Boas, 53, um dos maiores quadrinistas brasileiros, morreu na madrugada desta sexta-feira (12), em Osasco (SP). Para Adão Iturrusgarai, amigo de Glauco e seu parceiro na criação das histórias dos "Los 3 Amigos" (que na verdade eram quatro, pois Angeli e Laerte completam o grupo), Glauco trouxe frescor aos quadrinhos brasileiros.
"Vou falar uma coisa que o Angeli me falou: era uma época (a da ditadura militar) em que o quadrinho era muito sisudo", diz Adão. "E o Glauco veio com frescor no trabalho, que influenciou o próprio Angeli. Talvez ele tenha inventado o quadrinho rock and roll brasileiro, ao lado do próprio Angeli."
O quadrinista Jal, presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil, concorda com a análise de Adão. "A irreverência dele foi uma das mais fortes, com seu humor corrosivo", afirma Jal. "Esse é talvez o humor mais bem aceito no Brasil. Um humor corrosivo, comportamental. O desenho dele sobrevive e pode estar ajudando muito mais gente a não sofrer com a violência."
"O impacto do humor do Glauco não é sentido apenas nos quadrinhos. A TV, os sitcoms sobre relacionamento, devem muito ao Casal Neuras, por exemplo", comenta o quadrinista Bennett, que publica charges na "Folha de S.Paulo". É simplesmente fascinante o que ele fez."
"O impacto do trabalho do Glauco afetou toda a geração de cartunistas que cresceu lendo o Los 3 Amigos, e acho que todos somos seguidores da tríade Angeli, Laerte e Glauco, de sua visão de mundo crítica e de uma filosofia de vida libertária muito clara, que existe na obra desses três", diz Bennett. "Eles delinearam a maneira de pensar o mundo, de todos os que vieram depois deles."
Além de suas histórias em quadrinhos, Glauco também publicava charges políticas. "A maioria não lembra por causa do Geraldão, mas ele era um exímio chargista", comenta Jal. "Ele tinha uma forma jocosa de olhar o poder, como chargista político."
Faquinha
Um dos personagens de Glauco era o Faquinha, cujas histórias eram ambientadas em uma favela e abordavam a questão da violência.
"O Faquinha é pura crítica a uma situação insustentável de violência, do garoto que trabalha de avião para o tráfico e que apanha da polícia", afirma Bennett.
"Ele tinha um jeito particular de falar as coisas", comenta Adão. "O Glauco sempre foi muito fechado, na dele, mas a violência devia passar pela sua cabeça, senão não estaria nas histórias do Faquinha".
"Glauco tinha uma característica de trabalhar contra a violência, que ele colocava nos personagens, como o Faquinha. O humor é uma forma de você arrefecer um pouco toda a violência e a desgraça que existem no mundo", afima Jal. "A parte mais forte do trabalho dele talvez seja avisar que a violência existe, mas pode ser vencida."
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