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Assassino confesso de Glauco diz que é profeta; plano era comprar documentos falsos no Paraguai

Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24, assassino confesso do cartunista Glauco Vilas Boas e de seu filho Raoni, é visto em uma cela na sede da Polícia Federal em Foz do Iguaçu (PR) - Christian Rizzi/Gazeta do Povo/AE
Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24, assassino confesso do cartunista Glauco Vilas Boas e de seu filho Raoni, é visto em uma cela na sede da Polícia Federal em Foz do Iguaçu (PR) Imagem: Christian Rizzi/Gazeta do Povo/AE

Arthur Guimarães<br>Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

15/03/2010 15h26

Responsável pelo cárcere de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24, o "Cadu", no Paraná, o delegado da Polícia Federal (PF) Marcos Paulo Pimentel descreveu o assassino confesso do cartunista Glauco Vilas Boas – e do filho do desenhista, Raoni – como uma pessoa “agitada que fala coisas fora do senso comum”.

"Aí, atirei nele"

  • Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24, confessa ter atirado no cartunista Glauco e no filho dele

Segundo ele, o rapaz se diz um profeta. “Quando entra no campo da religião, ele fala coisas desconexas. Diz saber que o mundo está acabando e que uma reencarnação de Jesus Cristo está próxima e precisa ser encontrada por ele”, disse o delegado.

Pimentel contou ainda que o jovem tinha como meta ir para o Paraguai, onde acreditava que encontraria formas simples de comprar documentações falsas para viver uma nova vida como clandestino.

Nunes foi preso por volta da 0h dessa segunda-feira (15) na ponte da Amizade. Antes disso, por volta das 23h de domingo (14), o rapaz já tinha trocado tiros com outro grupo de policiais, na altura do município de Santa Terezinha. “Ele foi requisitado a parar, mas continuou pela estrada atirando, atingindo uma viatura. Foi uma fuga com sucesso”, afirmou Pimentel.

Como explica o delegado, ele chegou bastante agitado ao prédio da PF em Foz do Iguaçu, na fronteira com o Paraguai. “Até colocamos ele em outra cela para não arranjar confusão com outros presos.” O assassino de Glauco também estava bastante sujo e com vários arranhões, provavelmente pelo tempo que passou em um matagal em São Paulo planejando a fuga.

Pimentel afirmou que os resultados dos exames de corpo de delito a que o jovem fora submetido na manhã desta segunda-feira (15) ainda não ficaram prontos. Oficialmente, o delegado também alega que não recebeu ainda nenhum pedido para que o criminoso seja transferido para São Paulo. “Não temos nada contra, apesar de ele também responder por crimes aqui, já que baleou um de nossos homens. Mas não recebi essa solicitação e, quando receber, ainda devo pedir o aval do Ministério Público e da Justiça”, argumentou Pimentel.

Prisão
Cadu foi preso em flagrante na noite de ontem quando tentava fugir para o Paraguai pela ponte da Amizade usando um carro roubado em São Paulo. Ao ser abordado pelos policiais rodoviários federais, ele atirou.

Durante a troca de tiros, Cadu atingiu um policial no braço. O agente não corre risco, mas passará por uma cirurgia para remoção da bala na tarde de hoje. Com o acusado, a polícia encontrou uma pistola, supostamente a mesma usada para matar o cartunista e o filho dele, e pequena quantidade de maconha. Ele não possui porte de arma.

De acordo com a PF, o estudante ficou três dias escondido em mata na região de São Paulo planejando a fuga. Em depoimento ao delegado José Alberto de Freitas Iegas, ele confessou o crime. Cadu foi autuado por homicídio e tentativa de homicídio --pelo crime contra o cartunista e seu filho e contra o policial federal.

Caso
O cartunista Glauco e seu filho Raoni foram mortos a tiros na casa do cartunista, em Osasco (Grande São Paulo), na madrugada de sexta-feira (12). Segundo testemunhas, o assassino confesso chegou ao local e rendeu a enteada de Glauco, que mora em uma casa no mesmo terreno.

O cartunista e a mulher Bia ouviram gritos, foram ao quintal, e começaram a conversar com Cadu. Ele era conhecido da família por já ter frequentado a igreja Céu de Maria, que segue os princípios do Santo Daime e foi fundada por Glauco.

Segundo o relato das testemunhas, Cadu delirava e queria levar todos para a casa de sua mãe, em São Paulo, com o objetivo de afirmarem à mulher que ele era Jesus Cristo. Ele estava armado com uma pistola automática e uma faca. Glauco tentou negociar com Cadu para ir sozinho, e chegou a ser agredido. De acordo com o delegado Archimedes, Glauco não reagiu.

No meio da discussão, porém, Raoni chegou ao local de carro. Em seguida, Cadu atirou contra pai e filho, mas os motivos ainda não foram esclarecidos. Os dois chegaram a ser atendidos no hospital, mas não resistiram e morreram.