Alagoas vive cenário de guerra após enchentes que destruíram 15 cidades
A desolação diante da destruição causada pela enchente do rio Mundaú, em Alagoas, é um sentimento que salta aos olhos dos moradores das cidades castigadas pela força da água. Milhares de famílias perderam tudo na sexta-feira (18), quando o nível do rio subiu seis metros, invadiu ruas e causou estragos inéditos na região do Vale do Mundaú.
Vinte e seis cidades foram atingidas, e 15 municípios decretaram estado de calamidade pública, segundo último balanço da Defesa Civil Estadual. Além disso, 26 pessoas morreram, 607 estão desaparecidas e 73 mil, desabrigadas.
O UOL Notícias foi até os três municípios mais atingidos (União dos Palmares, Rio Largo e Branquinha) e encontrou um cenário que mais lembra o de uma guerra: centenas de casas destruídas e uma população desabrigada tentando entender o que aconteceu, para só então tentar recomeçar a vida.
Em União dos Palmares (80 km de Maceió), o mais atingido, a primeira impressão de quem chega às quatro ruas às margens do rio Mundaú, onde a cidade "nasceu", é de que uma bomba foi lançada sobre o local.
Prefeitura e 23 prédios públicos destruídos
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Rio Largo, na região metropolitana de Maceió, onde a barragem que abastece a usina da cidade se rompeu
Somente na região conhecida como Jatobá, próxima à ponte que liga a cidade a Serra da Barriga (onde existiu o maior quilombo brasileiro e que consagrou Zumbi dos Palmares como herói nacional), cerca de mil casas foram completamente destruídas.
"Sempre teve enchente, mas sempre a água baixava logo, não cobria casa aqui. Só que dessa vez só deu tempo de sair com a roupa. Foi rápido demais, perdemos tudo", afirmou José Izidoro, 56. "Só não foi pior porque foi de dia. Se fosse à noite, e não víssemos a água, teriam morrido milhares", completou José Amauri, 37, que viu a oficina de veículos se transformar em destroços.
O prefeito da cidade, Areski Freitas, informou à reportagem que o número de mortos chegou a 14, enquanto 15 mil estão desabrigados e desalojados. "Temos 10 mil somente nas escolas, fora os que foram para casa de parentes e amigos", afirmou. Segundo Freitas, três escolas e dois postos de saúde foram destruídos pela enchente e as estimativas dão conta de que entre 30 e 40 pessoas possam estar desaparecidas.
Rio Largo tem 23 prédios públicos destruídos
Em Rio Largo, na região metropolitana de Maceió, toda a parte baixa da cidade, onde está o centro comercial e principais prédios públicos, foi inundada e destruída pela enchente. Uma barragem que abastece a usina da cidade se rompeu, e os trilhos do trem que ligam a cidade a Maceió foram destruídos. O principal acesso aos municípios também está interditado.
"Perdi minha casa, meu bar, meu dinheiro que estava na vitrola e ainda estou sem documentos. Só não estou passando fome porque estão me dando comida", disse a comerciante Izabel Cristina, 42. “Sou criada e nascida aqui, vi a cidade crescer e nunca imaginei isso. Nunca que o rio chegou a um ponto desse. Destruiu tudo, passou pelo centro e chegou até a feira”, afirmou a feirante Maria da Conceição, 74, que perdeu toda a mercadoria e, ontem, tirava a lama da rua onde vende frutas e verduras no centro.
Segundo a Defesa Civil municipal, 23 prédios públicos, entre eles a prefeitura, foram destruídos com as enchentes. Quatro pessoas morreram, 33 estão desaparecidas e 4.159 estão desabrigadas. A sede administrativa e de coordenação dos trabalhos de apoio às vítimas foi transferida para uma escola na parte alta da cidade.
Branquinha 80% inundada
Em Branquinha (61 km de Maceió), o cenário de destruição também impressiona. Todo o centro da cidade e principais bairros foram alagados e, no fim da tarde, todas as casas e prédios foram abandonados. "A cidade não tem mais nenhum prédio público inteiro. Todos foram destruídos", disse o secretário de Estado da Saúde, Herbert Motta, que visitou a cidade na tarde de ontem.
Logo na entrada do município, a lama toma conta da rua principal e impede o acesso por meio de carros de passeio. Lojas, repartições públicas, banco e agência dos Correios foram destruídos. Nas ruas, carros completamente destruídos foram abandonados. Até o fim da tarde, a cidade continuava sem energia elétrica, e o fornecimento de água era feito apenas por carros-pipa.
"Só Deus explica uma coisa dessas. A água destruiu tudo. Meu filho e minha nora vieram para minha casa e não acreditei. Tive que vim ver para crer", disse Maria da Conceição, 61.
Diante de uma cidade inteira inundada, a dúvida dos moradores agora é: vale a pena construir casas no mesmo local? "Eu não quero mais. Acho que, se o rio veio um dia, virá de novo", profetizou Valéria Silva, 53, que abandonou sua casa e está em um abrigo público da cidade.
Cidades que decretaram calamidade pública em Alagoas
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