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Pesquisa inédita no RS revela que jovens sabem pouco sobre efeitos das drogas

Especial para o UOL Notícias<br>No Rio Grande do Sul

30/06/2010 09h30

Realizada com 1.800 jovens de 12 escolas públicas e privadas do Rio Grande do Sul, uma pesquisa inédita da Brigada Militar revelou um dado preocupante: quase metade dos adolescentes ouvidos (47%) não tem informação suficiente sobre o efeito das drogas no organismo.

Outro contingente significativo de jovens (63%) diz que conhece apenas alguns efeitos dos tóxicos. Metade deles diz que aprendeu o que sabe com os amigos, na escola ou nas ruas. Apenas um em cada três admitiu que conversa sobre o assunto com os pais.

A pesquisa, de iniciativa do Comando de Policiamento de Porto Alegre, tenta identificar possíveis formas de combate ao crescente consumo de drogas entre adolescentes no Estado.

O autor do levantamento, major Alexandre Thomaz, sintetiza que os vínculos dos jovens com a família não estão se concretizando, o que pode significar uma porta aberta para as drogas.

“Eles [os jovens] até querem conversar sobre o assunto com os pais, mas acabam mesmo recorrendo a colegas e amigos quando o assunto é esse. Em geral, a família só entra em cena quando o assunto é tratado de forma massiva pela mídia”, diz o oficial.

A informação é ainda mais alarmante porque mais da metade dos pais não sabe quem são os amigos dos filhos e não conhecem seus responsáveis legais, além de também desconhecerem os ambientes sociais frequentados pelos próprios filhos.

“Essa alienação dos pais é um sintoma grave. Quando a família toda se informa, a família toda se protege”, diz Thomaz. A escola, segundo o levantamento, também está devendo: apenas 1% dos entrevistados disse que se informou sobre drogas em palestras educativas.

Nas 2.600 escolas estaduais do Rio Grande do Sul, desde maio estão sendo distribuídas 20 mil cartilhas educativas explicando os efeitos do uso de drogas na saúde e no comportamento de jovens e adultos. O material foi distribuído pela Assembleia Legislativa.

O secretário da Educação, Ervino Deon, reconheceu que o esforço é insuficiente. “Precisamos orientar os professores para dar um sentido pedagógico às informações. Não adianta apenas dizer que é ruim. Isso tem que sensibilizar os jovens”, recomendou.

Adolescentes de uma escola pública noturna de Porto Alegre reforçam o discurso do secretário. Segundo a estudante M. R. P., 17, palestras sobre os efeitos das drogas em geral são enfadonhas e pouco atraentes. “Já assisti aqui na escola, mas só porque valia nota. É difícil prestar atenção porque são coisas chatas”, diz.

Colega dela, Ivânia dos Reis, 18, diz que dificilmente conversa sobre esse e sobre outros assuntos com os pais. “Eles só me perguntam de provas e de estudo. Quando chego em casa já estão dormindo e quando eu acordo eles não estão. Então só sobram as colegas mesmo”, afirma a estudante.

A psicóloga Ana Lúcia de Souza diz que a falta de informação adequada prejudica as relações entre pais, filhos e escola quando o assunto são as drogas. Para ela, a simples transmissão de dados técnicos não pode substituir o diálogo.

“Os pais não sabem quase nada dos filhos que têm, nem a escola. Então se limitam a reproduzir visões estereotipadas da droga, como se esses slogans fossem suficientes. Não são”, aponta.

Para a psicóloga, é necessário qualificar o combate ao consumo de drogas e adotar um discurso adequado à idade dos adolescentes. Ela observa que, na maioria das vezes, os pais e a própria escola tratam jovens que são quase adultos como crianças indefesas. “As cartilhas em geral são vistas como caretice pelos jovens. E não são eles que estão errados”, justifica Ana Lúcia.