Topo

Advogado de ex-namorado de Mércia diz que reconstituição foi "dirigida"

Arthur Guimarães<br>Do UOL Notícias

Em Nazaré Paulista (SP)

17/09/2010 22h37

Um dos advogados de defesa de Mizael Bispo de Souza, acusado pelo Ministério Público de ter matado sua ex-namorada Mércia Nakashima, afirmou na noite desta sexta-feira (17) que a reconstituição do crime realizada na noite de hoje foi “dirigida”.

Ivon Ribeiro criticou o trabalho dos peritos e disse que as autoridades não permitiram que ele se aproximasse do pescador que narrou os fatos, ao contrário do promotor Rodrigo Merli, que teve livre acesso ao delator. “A reconstituição foi dirigida”, disse, também reclamando que os trabalhos não simularam os tiros que teriam sido disparados na noite do crime.

O promotor, por sua vez, rebateu as críticas dizendo que o advogado “mais uma vez” estava dando declarações “de má-fé” para conturbar os trabalhos. O promotor afirmou que foi dada autorização para a defesa se aproximar do pescador. Merli também argumentou que os tiros não foram simulados porque a reconstituição de hoje era baseada apenas na narrativa do pescador, que em seu depoimento não cita ter ouvido tiros.

A reconstituição aconteceu na represa de Nazaré Paulista (Grande São Paulo) onde o corpo de Mércia foi encontrado. A operação foi coordenada pelo perito Renato Patolli e pelo delegado do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Antonio de Olim. O "narrador" da simulação foi um pescador que teria presenciado o crime. Ele afirma ter ouvido gritos de uma mulher e diz ter visto um carro igual ao de Mércia na beira da represa e um “vulto” atrás do veículo.

Olim afirmou à imprensa que a simulação foi positiva e que foi possível fazer a montagem de toda a dinâmica do assassinato. Segundo o delegado, duas questões-chave sobre o contexto do crime foram esclarecidas na noite de hoje. A reconstituição, segundo ele, provou que o pescador  tinha condições de ver o carro da vítima do barco em que estava pescando. “Também mostramos que ele conseguiria ouvir os berros dela”, disse.

Histórico
Mércia foi vista pela última vez no dia 23 de maio na casa dos avós em Guarulhos. Foi encontrada morta em 11 de junho na represa de Nazaré Paulista. Segundo a perícia, a advogada foi agredida, baleada, teve a mandíbula quebrada e morreu afogada dentro do próprio carro no mesmo dia em que sumiu.

Para o Ministério Público, Souza matou a ex-namorada movido por ciúmes, e o vigilante Evandro Bezerra Silva o ajudou na empreitada criminosa. O promotor alegou que as provas determinantes para o convencer da autoria do crime foram a quebra do sigilo telefônico e os depoimentos contraditórios de Souza. O ex-policial tinha um celular, registrado em nome de terceiros, em que conversou 16 vezes com o suposto comparsa no dia estimado do crime. Além disso, a polícia descobriu que, sempre que falava com o vigia, voltava a ligar para a ex-namorada.

Laudos periciais reforçam a suspeita sobre Souza. Um deles, divulgado nesta sexta-feira, mostra que horários registrados pelo rastreador do carro dele não são compatíveis com seu depoimento. Outro apontou a presença de uma alga, que seria semelhante a algas presentes na represa, no sapato de Souza. Além da alga, foram encontrados na sola do sapato resíduos de chumbo compatíveis com a bala que feriu Mércia, uma mancha de sangue e um pedaço de osso. Souza nega as acusações.

O promotor do caso, Rodrigo Merli, também não descartou a possibilidade de um terceiro envolvido, que seria o irmão de Souza, Altair Bispo de Souza. “Mas até o momento não temos elementos suficientes para incriminá-lo”, disse.

O Ministério Público pede que a polícia, em procedimento separado, prossiga as investigações sobre eventual envolvimento de Altair. A promotoria pretende que seja esclarecido o motivo das 27 ligações telefônicas mantidas entre ele e Mizael.