Maragogi (AL) convive com fama de "cidade minada"; minas serão retiradas em outubro
Divididos entre o medo e a indiferença, os moradores de Maragogi (130 km de Maceió), no litoral norte de Alagoas, passaram a conviver com um apelido pouco carinhoso: "cidade minada". No mês passado, a Marinha anunciou a descoberta de cinco minas --bolas metálicas com cerca de 1 metro de diâmetro e 100 kg, supostamente da Segunda Guerra Mundial-- enterradas em áreas do município, sendo três delas no centro da cidade. Uma sexta bomba ainda não foi confirmada, já que está localizada em uma área onde os detectores não conseguiram atuar com precisão. Todas elas serão retiradas em uma grande operação marcada para acontecer no mês de outubro.
Viviane Tenório, 22, presta serviço em uma escola que fica exatamente em frente a um dos locais onde foi descoberta uma das minas. "É alarmante. Essa descoberta deixou a população atônita. As pessoas não param de comentar sobre essas minas e a gente fica assustado", disse.
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Viviane Tenório aponta para local em frente ao seu trabalho, onde está enterrada uma mina
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Local onde foi encontrada a primeira mina em praia de Maragogi; hoje área está isolada
Já o vendedor de lanches José Alves da Silva, 38, que trabalha em frente ao local onde está enterrada outra mina, afirma que não tem “um pingo de medo”. “O povo aqui pergunta, mas não estou nem um pouco assustado”, afirma. “As minas estão enterradas há muito tempo e nunca explodiram. Por que explodiriam agora?”, questiona o cliente de José, Ricardo Nascimento, 25.
A fama nacional de “cidade minada” já traz prejuízos à principal atividade econômica do município, o turismo. A gerente-executiva da Associação de Hotéis, Pousadas e Trade Turístico do Litoral Norte de Alagoas, Mariana Gorenstein, afirma que a repercussão das minas já afasta turistas de outros Estados.
“Nós defendemos a retirada dessas minas porque é importante que o turista venha para Maragogi e sinta segurança. Estive em São Paulo e ouvi pessoas falando que não querem visitar a cidade porque estão com medo. Estamos preocupados com isso, mas a Marinha já disse que não vê risco à população. É importante ressaltar também que até a alta temporada essas minas já não estarão aqui, para que não haja cancelamentos de reservas já feitas”, disse. A organização afirma que ainda não tem dados contabilizando a perda no setor.
Diante do atual prejuízo à imagem turística da cidade, a ideia da associação é aproveitar a retirada das minas para divulgar mais um atrativo ao segundo maior pólo turístico alagoano. “Defendo que nós valorizemos o que essas minas têm de valor histórico. Podemos montar um museu, para contar a história dessas minas, da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial”, opinou Gorenstein.
As minas de Maragogi
As minas encontradas em Maragogi teriam sido colocadas no oceano Atlântico durante a Segunda Guerra Mundial para destruir os navios que tentavam se aproximar da costa brasileira. A confirmação do uso só poderá ser feita por exame da Marinha, após a retirada das seis minas. Segundo relatos de alguns moradores, na década de 40, sete minas encalharam na praia do município. Com receio de acidentes, pescadores enterraram as minas em áreas desocupadas à época. Com o passar dos anos, as minas caíram no esquecimento da população e as construções foram tomando conta das áreas onde elas foram enterradas. Das sete minas, cinco foram enterradas em uma área hoje urbana da cidade (uma já encontrada e detonada) e outras duas estão em uma praia a poucos quilômetros do centro.
O pescador Ronaldo Fernandes da Silva, 30, confirma que o número de turistas diminuiu nas últimas semanas, mas duvida da existência de riscos. “A gente escuta a história que tem perigo, que vão tirar as minas, mas acredito que não seja preciso esse alarme. Mas, de verdade, o número de turistas está menor. Talvez também porque o povo esteja sem dinheiro”, disse.
Minas serão retiradas
A Marinha anunciou que, a partir do dia 4 de outubro, deve dar início à operação de retirada das minas. Uma equipe do Rio de Janeiro virá a Alagoas especialmente para montar a estrutura necessária, sem oferecer riscos à população.
Segundo o capitão dos Portos em Alagoas, André Pereira Meire, a operação deve durar 25 dias e será comandada por uma equipe do Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais.
"Vários órgãos vão participar dessa operação, como prefeitura, Secretaria de Saúde, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, já que precisaremos interditar uma área a 150 metros de cada uma das minas e, claro, precisamos estar prontos se algo der errado", explica.
O capitão afirma ainda que a operação é necessária porque as minas estão localizadas em áreas de grande concentração de moradores e precisam ser retiradas, transportadas e detonadas em segurança.
Primeira mina detonada
No dia 11 de maio desse ano, funcionários que trabalhavam em uma obra de saneamento encontraram uma mina marítima enterrada a menos de dois metros de profundidade na areia da praia, no centro da cidade. Militares do esquadrão antibombas da Polícia Militar foram até o município, retiraram e detonaram a bomba em uma área deserta.
Porém, devido à força dos explosivos, estilhaços da bomba foram arremessados a quase 1 km de distância e atingiram casas, hotéis e estabelecimentos comerciais, que protestaram contra a detonação em uma área próxima aos prédios.
À época, os militares explicaram que escolheram o local por conta da dificuldade em remover a bomba para mais longe. Segundo eles, não havia um lugar completamente seguro para a detonação.
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