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Estiagem deixa quase metade dos municípios do Amazonas em situação de emergência

Guilherme Balza

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

16/10/2010 07h00

Em razão do baixo nível dos principais rios do Amazonas, causado pela estiagem que atinge a região, 29 dos 62 municípios do Estado decretaram situação de emergência. Pelo menos 44 mil famílias estão isoladas por conta da seca, de acordo com a Defesa Civil Estadual. A situação é mais grave nos municípios do Alto e Médio Solimões, como São Paulo de Olivença, Tabatinga e Tefé.

A Defesa Civil Estadual começou a distribuição de 44 mil kits de ajuda humanitária para as famílias atingidas. Os kits incluem cestas básicas, produtos de higene e medicamentos. Moradores de Tabatinga, Cruzeiro do Sul (no Acre, perto da divisa com o Amazonas) e Tefé já receberam os produtos.

Os municípios em situação de emergência são Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Iça, Tabatinga, Tonantins, Caapiranga, Boca do Acre, Envira, Guajará, Ipixuna, Itamarati, Juruá, Borba, Alvarães, Coari, Fonte Boa, Jutaí, Tefé, Uarin, Beruri, Manacapuru, Itacoatiara, Barreirinha, Parintins, Rio Preto da Eva, Iranduba, Anamã e Carauari.

Em São Paulo de Olivença, 25 casas foram totalmente destruídas e 39 ficaram danificadas por deslizamentos de terra provocados pelo baixo nível do rio Solimões. Com a seca, o solo arenoso cede após a água baixar, o que provoca o deslizamento.

O período de seca na Amazônia começa em junho e termina em outubro. Nesse ano, contudo, choveu menos do que o normal. “Nesse ano houve menos precipitações, sobretudo na margem direita dos Solimões. As calhas dos rios estão bem secas”, diz Daniel de Oliveira, gerente de hidrologia do Serviço Geológico do Brasil em Manaus.

Nível dos rios
O rio Solimões --que se transforma em rio Amazonas após o encontro com o rio Negro--alcançou na última segunda-feira (11) a marca de -86 cm, o seu menor nível desde que as medições começaram a ser feitas pelo Serviço Geológico do Brasil, na estação de monitoramento hidrológico em Tabatinga, em 1982. Foi a terceira quebra de recorde em 34 dias.

Ontem, o nível do rio subiu 16 cm, mas ainda não é possível determinar se isso representa o fim do período das vazantes. Segundo Oliveira, o aumento do nível do rio pode ter sido causado pelo fenômeno do “repiquete”, quando a chuva nas partes mais baixas do rio eleva o nível na parte mais alta.

“O maior impacto da seca é na navegação. Há lugares em que as balsas não chegam, e os moradores ficam sem combustível para gerar luz. O preço dos alimentos sobe porque, com a seca, as embarcações precisam fazer mais curvas, o que eleva o tempo de viagem”, afirma Oliveira.

O rio Negro também passa por forte vazante. De ontem para hoje o nível do rio desceu 18 cm e alcançou a marca de 15,13 m --o recorde histórico foi registrado em 1963, com 13,64 m. Os rios Purus e Juruá também estão com níveis mais baixos do que a média para o período de vazante.

Previsão climática
Segundo o meteorologista Gustavo Ribeiro, do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), a elevação do nível dos rios depende da quantidade de chuva nos próximos meses e não sofre influência das condições do tempo nos próximos dias. “A previsão do tempo nos próximos dias não interfere nos rios, por mais que chova muito. Para que modifique a situação, é preciso que chova nos próximos meses.”

O prognóstico do Sipam para os próximos meses indica que o volume de chuvas tende a aumentar do final de outubro até dezembro, sobretudo na faixa que vai do Noroeste da Amazônia, no Alto Rio Negro, até o Mato Grosso, passando pelas regiões mais afetadas pela seca atualmente.