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Seca eleva para 38 os municípios em emergência no AM; nível do rio Negro se aproxima do recorde histórico

Imagem do dia 15 mostra trecho seco do igarapé do Tarumã, um afluente do rio Negro, em Manaus - Raimundo Valentim/EFE
Imagem do dia 15 mostra trecho seco do igarapé do Tarumã, um afluente do rio Negro, em Manaus Imagem: Raimundo Valentim/EFE

Guilherme Balza

Do UOL Notícias* <BR> Em São Paulo

21/10/2010 18h50

Dos 62 municípios do Amazonas, 38 (mais de 60%) decretaram situação de emergência em razão da estiagem que atinge o Estado. Cerca de 62 mil famílias estão isoladas ou tiveram suas atividades de subsistência prejudicadas por conta da seca, segundo dados da Defesa Civil Estadual. O nível do rio Negro se aproxima da menor marca da história.

A Força Aérea Brasileira e a Defesa Civil já distribuíram 600 toneladas de kits com cestas básicas, produtos de higiene e medicamentos para 38 mil famílias. A distribuição foi feita a partir de três pólos, localizados em Tabatinga, que fica no Alto Solimões, na divisa com a Colômbia; Tefé, no Médio Solimões, região central do Estado; e Cruzeiro do Sul, localizado no Acre, na divisa com o Amazonas.

Foram atendidas 10 mil famílias nos municípios de Tabatinga, Atalaia do Norte, Benjamim Constant, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Iça e  Tonantins. Outras 12 mil famílias receberam ajuda em Tefé, Alvarães, Coari, Fonte Boa, Jutaí, Uarini e Juruá. Na região de Cruzeiro do Sul, foram atendidas 5.200 famílias nos municípios de Boca do Acre, Envira, Guajará, Ipixuna e Itamarati, todas na calha do rio Juruá.

A Defesa Civil e a Força Aérea já deram início à segunda fase de distribuição de ajuda humanitária. O foco agora serão 22 mil famílias que residem em 17 municípios às margens do curso Médio e Baixo Solimões, rio Madeira e no Baixo Amazonas, incluindo a região de Manaus.

Os municípios em situação de emergência são: Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Iça, Tabatinga, Tonantins, Caapiranga, Boca do Acre, Envira, Guajará, Ipixuna, Itamarati, Juruá, Borba, Alvarães, Coari, Fonte Boa, Jutaí, Tefé, Uarin, Beruri, Manacapuru, Itacoatiara,Barreirinha,Parintins, Rio Preto da Eva, Iranduba, Anamã, Carauari, Manaquiri ,Altazes,Boa Vista do Ramos, Anori,Manicoré,Nhamundá,Silves, Novo Aripuanã e Careiro da Várzea.

Nível dos rios
O período de seca na Amazônia começa em junho e termina em outubro. Nesse ano, contudo, choveu menos do que o normal. “Nesse ano houve menos precipitações, sobretudo na margem direita dos Solimões. As calhas dos rios estão bem secas”, diz Daniel de Oliveira, gerente de hidrologia do Serviço Geológico do Brasil em Manaus (CPRM).

O rio Negro --que se transforma em rio Amazonas após o encontro com o rio Solimões --está perto de alcançar o menor nível desde que as medições começaram a ser feitas em Manaus. A marca medida nesta quinta-feira (21), de 13,93 m, é menor do que o segundo recorde histórico, registrado em 1906 (14,20 m). O recorde ocorreu em 1963, quando o nível chegou a 13,64 m, de acordo com o CPRM. De ontem para hoje, o nível do rio diminuiu 16 cm. Nos últimos dias, a média diária de redução do nível foi de 20 cm.

Já o rio Solimões alcançou no último dia 14 a marca de -86 cm, o menor nível desde que as medições começaram a ser feitas em Tabatinga, em 1982. Foi a terceira quebra de recorde no ano. O nível do rio, no entanto, está subindo e já chegou na merca de 64 cm. Os rios Purus e Juruá também estão com níveis mais baixos do que a média para o período de vazante.

 “O maior impacto da seca é na navegação. Há lugares em que as balsas não chegam, e os moradores ficam sem combustível para gerar luz. O preço dos alimentos sobe porque, com a seca, as embarcações precisam fazer mais curvas, o que eleva o tempo de viagem”, afirma Oliveira.

Previsão climática
Segundo o meteorologista Gustavo Ribeiro, do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), a elevação do nível dos rios depende da quantidade de chuva nos próximos meses e não sofre influência das condições do tempo nos próximos dias. “A previsão do tempo nos próximos dias não interfere nos rios, por mais que chova muito. Para que modifique a situação, é preciso que chova nos próximos meses.”

O prognóstico do Sipam para os próximos meses indica que o volume de chuvas tende a aumentar do final de outubro até dezembro, sobretudo na faixa que vai do Noroeste da Amazônia, no Alto Rio Negro, até o Mato Grosso, passando pelas regiões mais afetadas pela seca atualmente.

“Terras caídas”
A estiagem favorece ainda o fenômeno das “terras caídas”, que provocam deslizamentos de terra nas margens dos rios. Foram registrados, nas últimas duas semanas, quatro deslizes em São Paulo de Olivença, Manaus Iranduba e Manacapuru.

Em Manacapuru, os bombeiros localizaram, na manhã de hoje, o corpo Beatriz da Silva Leite, 10, vítima do deslizamento, que ocorreu na madrugada da última terça. O corpo do bebê Anderson da Silva Leite, 1, irmão de Beatriz, já havia sido encontrado ontem. As equipes procuram ainda Silvana Leite, 5, irmã das outras crianças já localizadas. Cerca de 70 casas foram atingidas na comunidade de Terra Preta.

Os bombeiros também procuram Silvio Barbosa, 31, e Pedro Paulo da Silva, 63, que trabalhavam no Porto Chibatão, onde uma porção de terra deslizou na noite do último domingo e afundou 60 contêineres e 40 baús de carga. Ainda não há uma estimativa do prejuízo. No local, estava sendo feita uma obra de terraplanagem.

O geólogo Antonio Gilmar Honorato, do Serviço Geológico Nacional em Manaus, afirmou que há uma espécie de “caminho d’água” que passa embaixo da porção de terra que deslizou. “É possível que esse caminho d’água tenha causado uma ruptura, e o muro de contenção não tenha resistido à carga”, diz. De acordo com ele, não é possível dizer se havia alguma irregularidade na obra de terraplanagem.

Até o momento, a Defesa Civil não divulgou as causas do deslizamento e os impactos ambientais causados na região. A Polícia Civil iniciará uma perícia nos próximos dias. Também não há uma estimativa do prejuízo causado.

O porto Chibatão é o maior complexo portuário privado do Amazonas e está localizado à margem esquerda do rio Negro, com uma área de 217 mil metros quadrados. Os equipamentos que afundaram carregavam insumos para o comércio e polo industrial de Manaus. De acordo com os bombeiros, não houve derramamento de produtos químicos no rio.

Na terça-feira, um outro deslizamento atingiu o município de Iranduba (a 22 km de Manaus), que fica na margem direita do rio Negro. Segundo o Corpo de Bombeiros, não houve vítimas e danos materiais. Há duas semanas, em São Paulo de Olivença, 25 casas foram totalmente destruídas e 39 ficaram danificadas por deslizamentos de terra provocados pelo baixo nível do rio Solimões.

Segundo o geólogo Antonio Gilmar Honorato, também do Serviço Geológico do Brasil, é comum o fenômeno das terras caídas na região Amazônica durante o período de estiagem. “O rio vai provocando seguidas erosões nas margens e, quando o nível da água diminui, as encostas ficam expostas. Como não há mais a água para segurar [as encostas], a terra desliza”, explica.

*Com informações da Agência Estado