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Três vítimas de deslizamentos no AM continuam desaparecidas; porto que desabou não tinha licença

Barcos no leito seco do rio Negro, a 120 km de Manaus; VEJA MAIS FOTOS - Euzivaldo Queiroz/AFP
Barcos no leito seco do rio Negro, a 120 km de Manaus; VEJA MAIS FOTOS Imagem: Euzivaldo Queiroz/AFP

Guilherme Balza

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

25/10/2010 19h18Atualizada em 10/04/2015 14h08

O Corpo de Bombeiros do Amazonas ainda procura três vítimas dos deslizamentos que atingiram Manaus e Manacapuru no domingo e na terça-feira da semana passada, respectivamente. Continuam desaparecidos Silvio Barbosa, 31, Pedro Paulo da Silva, 63, e Silvana Leite, 5.

Silvio e Pedro trabalhavam no porto Chibatão, em Manaus, no momento em que houve o desmoronamento de uma área onde estava sendo feita uma obra de terraplanagem, na noite de domingo (17). Já Silvana morava na comunidade Terra Preta, em Manacapuru, atingida por um deslizamento na madrugada de terça-feira (19). Os corpos de seus irmãos, Anderson da Silva Leite, 1, e Beatriz da Silva Leite, 10, já foram localizados. Mais de 120 famílias foram atingidas pelo deslizamento na comunidade.

No deslizamento do porto Chibatão, cerca de 100 contêineres, baús e carretas afundaram no rio Negro, mas ainda não há uma estimativa do prejuízo. Até o momento, a Defesa Civil não divulgou as causas do acidente e os impactos ambientais causados na região. A Polícia Civil iniciará uma perícia nos próximos dias.

Segundo o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), o trecho do porto Chibatão que deslizou não possuía licença de funcionamento, apenas de instalação. Isso significa que só estava autorizada a implantação de obras de infraestrutura, e não as operações de carga e descarga.

O Ipaam não informou por quanto tempo o porto funcionou sem autorização, nem por quais motivos o local estava funcionando sem autorização. O órgão disse que “já implantou o Sistema Estadual de Informações Ambientais (Seiam) e, no momento, estava fazendo ajustes e testes para que o programa comece a funcionar".

Rios da Amazônia devem voltar a subir até novembro, avalia ANA

A vazante (seca) nos rios da Amazônia deve ser revertida até o próximo mês, seguindo o ciclo hidrológico da região. Segundo o superintendente de Usos Múltiplos da Agência Nacional de Águas (ANA), Joaquim Gondim, nos pontos de observação em Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira já é possível perceber aumento no volume dos rios Solimões e Negro. Os dois rios, que sofreram este ano a maior seca desde 1902, formam o Rio Amazonas, o maior em volume de água de toda a Terra.

O instituto disse que o sistema vai dar maior publicidade e celeridade aos processos de licenciamento, monitoramento e fiscalização. A reportagem do UOL Notícias não conseguiu localizar os responsáveis do porto Chibatão para comentar o caso.

Seca nos rios

A estiagem que atinge os rios do Amazonas favorece a ocorrência de deslizamentos de terra por conta do fenômeno das “terras caídas”, no qual as margens dos rios que normalmente ficam submersas passam a ficar expostas e sofrem erosões. Além dos deslizamentos em Manaus e Manacapuru, nas últimas duas semanas foram registrados outros casos em São Paulo de Olivença, Iranduba e Careiro.

Também por conta da seca que atinge o Amazonas, os rios Negro, Solimões e Amazonas registraram, nos últimos dias, os menores níveis desde que as medições começaram a ser feitas, segundo o Serviço Geológico do Brasil em Manaus (CPRM). A seca no Amazonas atinge pelo menos 62 mil famílias e obrigou 38 municípios a decretar situação de emergência.

Segundo o CPRM, o rio Negro alcançou a marca de 13,63 m em Manaus, o menor nível desde que as medições começaram a ser feitas, em 1903. O recorde anterior havia sido registrado em 1963, quando o rio mediu 13,64 m.

Já o rio Solimões alcançou o menor nível da história nos três principais pontos de medição: Tabatinga, na divisa com a Colômbia; Itapeua, ponto situado no centro do Estado, no curso médio do rio; e Careiro, a 24 km a leste de Manaus.

Em Itapeua e Careiro, os recordes foram alcançados na terça (19) e na quarta-feira (20), respectivamente, quando os níveis chegaram a 1,32 m e 1,68 m. O recorde anterior em Itapeua --onde as medições são feitas desde 1970-- foi de 2,30, em 1998, e, em Careiro --com medições desde 1970-- de 2,14 m, em 1997. Já em Tabatinga o menor nível foi observado no dia 11 de outubro, quando o nível chegou a -86 cm. O local mede o nível desde 1982.

No rio Amazonas --formado a partir do encontro dos rios Negro e Solimões--, o recorde foi quebrado também na quarta-feira (20) no principal ponto de medição, que fica em Parintins (a 315 km a leste de Manaus). O nível do rio chegou a -162 cm, superando em 10 cm a marca anterior, registrada em 1997. As medições são feitas em Parintins desde 1970.

Nos três rios o nível deverá continuar diminuindo nos próximos dias, de acordo com a previsão da CPRM.

 “O maior impacto da seca é na navegação. Há lugares em que as balsas não chegam, e os moradores ficam sem combustível para gerar luz. O preço dos alimentos sobe porque, com a seca, as embarcações precisam fazer mais curvas, o que eleva o tempo de viagem”, afirma o engenheiro Daniel de Oliveira, gerente de hidrologia do CRPM.