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Depois de recorde de seca, níveis dos principais rios amazônicos sobem nessa semana

Vítimas da estiagem na comunidade de Bacuri, em Tefé (a 575 km de Manaus) recebem comida; como o local está isolado, a ajuda chegou por meio de helicópteros da FAB; VEJA MAIS FOTOS - Alberto César Araújo/AE - 26.out.2010
Vítimas da estiagem na comunidade de Bacuri, em Tefé (a 575 km de Manaus) recebem comida; como o local está isolado, a ajuda chegou por meio de helicópteros da FAB; VEJA MAIS FOTOS Imagem: Alberto César Araújo/AE - 26.out.2010

Guilherme Balza <BR> Do UOL Notícias

Em São Paulo

27/10/2010 18h32

Após terem alcançado a maior seca da história, os níveis dos principais rios amazônicos começaram a subir nessa semana, segundo dados do Serviço Geológico Nacional em Manaus (CPRM). Entre a última terça-feira (19) e domingo, os rios Solimões, Negro e Amazonas (formado pela junção dos dois primeiros) registraram a marca mais baixa desde que as medições começaram a ser feitas.

O rio Negro subiu 7 cm desde o domingo --quando o nível foi o menor desde 1903-- e alcançou 13,70 cm em Manaus nesta quarta-feira (27).

Já o rio Solimões subiu em dois dos três principais pontos. Em Itapeua, ponto situado no centro do Estado, no curso médio do rio, a marca registrada hoje foi de 1,68 m, 37 cm a mais do que o verificado no último dia 19, quando a vazante bateu recorde. Foi a menor marca desde 1970, quando as medições começaram a ser feitas.

Em Careiro, a 24 km a leste de Manaus, o rio também subiu e está com 1,37 m, contra 1,25 m da semana passada, quando a menor marca desde 1970, quando a mediação passou a ser feita.

Em contrapartida, o ponto de medição situado no Alto Solimões, em Tabatinga, sofreu uma leva queda e está em 0,68 m acima da marca estabelecida como parâmetro.

O valor é bem superior ao recorde histórico de 0,86 m negativos, registrado no dia 11 de outubro. As medições em Tabatinga são feitas desde 1982.

O rio Amazonas também subiu no ponto de Parintins, de -182 m na sexta-feira, para -176 m,, nesta quarta. A marca de sexta também foi a menor da história do rio, em cujas medições são feitas desde 1970.

Apesar da elevação dos rios, ainda não é possível determinar se isso representa o fim do período das vazantes, segundo o engenheiro Daniel de Oliveira, gerente de hidrologia da CRPM, já que é comum acontecer os chamados “repiquetes”, movimento que ocorre quando a chuva nas partes mais baixas do rio eleva o nível na parte mais alta.

57 mil famílias atingidas

Dos 62 municípios do Amazonas, 37 decretaram situação de emergência e um, São Paulo de Olivença, decretou estado de calamidade pública em razão da estiagem que atinge o Estado. Cerca de 57 mil famílias (ou aproximadamente 250 mil pessoas) estão isoladas ou tiveram suas atividades prejudicadas por conta da seca, segundo dados da Defesa Civil Estadual.

Desde 7 de outubro, a Defesa Civil e a Força Aérea Brasileira (FAB) montaram quatro pólos de atendimento em Tabatinga, Cruzeiro do Sul (no Acre, na divisa com a Amazonas), Tefé (no Médio Solimões) e Manaus. Já foram distribuídas 600 toneladas de ajuda humanitária para mais de 40 mil famílias. A ajuda contém alimentos, kits de higiene e produtos de limpeza. Helicópteros da FAB estão sendo usados para transportar os produtos.

De acordo com Oliveira, “o maior impacto da seca é na navegação”. “Há lugares em que as balsas não chegam, e os moradores ficam sem combustível para gerar luz. O preço dos alimentos sobe porque, com a seca, as embarcações precisam fazer mais curvas, o que eleva o tempo de viagem”, afirma o engenheiro.

Decretaram situação de emergência os municípios de Alvarães, Anamã, Anori, Atalaia do Noite, Autazes, Barreirinha, Benjamin Constant, Beruri, Boa Vista do Ramos, Boca do Acre, Borba, Caapiranga, Careiro da Várzea, Carauari, Coari, Envira, Fonte Boa, Guajará, Iranduba, Ipixuna, Itacoatiara, Itamarati, Juruá, Jutaí, Manaquiri, Manicoré, Manacapuru, Novo Aripuanã, Nhamundá, Parintins, Rio Preto da Eva, Santo Antônio do Iça, Silves, Tabatinga, Tefé, Tonatins e Uarini.

Previsão climática

Segundo o meteorologista Gustavo Ribeiro, do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), a elevação do nível dos rios depende da quantidade de chuva nos próximos meses e não sofre influência das condições do tempo nos próximos dias. “A previsão do tempo nos próximos dias não interfere nos rios, por mais que chova muito. Para que modifique a situação, é preciso que chova nos próximos meses.”

O prognóstico do Sipam para os próximos meses indica que o volume de chuvas tende a aumentar do final de outubro até dezembro, sobretudo na faixa que vai do Noroeste da Amazônia, no Alto Rio Negro, até o Mato Grosso, passando pelas regiões mais afetadas pela seca atualmente.

“Terras caídas”

A estiagem favorece ainda o fenômeno das “terras caídas”, que provocam deslizamentos de terra nas margens dos rios. Foram registrados, nas últimas duas semanas, ao menos quatro deslizes em São Paulo de Olivença, Manaus, Iranduba e Manacapuru.

O Corpo de Bombeiros do Amazonas ainda procura três vítimas dos deslizamentos que atingiram Manaus e Manacapuru no domingo e na terça-feira da semana passada, respectivamente. Continuam desaparecidos Silvio Barbosa, 31, Pedro Paulo da Silva, 63, e Silvana Leite, 5.

Silvio e Pedro trabalhavam no porto Chibatão, em Manaus, no momento em que houve o desmoronamento de uma área onde estava sendo feita uma obra de terraplanagem, na noite de domingo (17). Já Silvana morava na comunidade Terra Preta, em Manacapuru, atingida por um deslizamento na madrugada de terça-feira (19). Os corpos de seus irmãos, Anderson da Silva Leite, 1, e Beatriz da Silva Leite, 10, já foram localizados. Mais de 120 famílias foram atingidas pelo deslizamento na comunidade.

No deslizamento do porto Chibatão, cerca de 100 contêineres, baús e carretas afundaram no rio Negro, mas ainda não há uma estimativa do prejuízo. Até o momento, a Defesa Civil não divulgou as causas do acidente e os impactos ambientais causados na região. A Polícia Civil iniciará uma perícia nos próximos dias.

Segundo o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), o trecho do porto Chibatão que deslizou não possuía licença de funcionamento, apenas de instalação. Isso significa que só estava autorizada a implantação de obras de infraestrutura, e não as operações de carga e descarga.

O Ipaam não informou por quanto tempo o porto funcionou sem autorização, nem por quais motivos o local estava funcionando sem autorização. O órgão disse que “já implantou o Sistema Estadual de Informações Ambientais (Seiam) e, no momento, estava fazendo ajustes e testes para que o programa comece a funcionar". O instituto disse que o sistema vai dar maior publicidade e celeridade aos processos de licenciamento, monitoramento e fiscalização.