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Sob tensão, moradores da Vila Cruzeiro, no Rio, enfrentam dificuldades de acesso e de transporte

Blindados da Marinha chegam à Vila Cruzeiro, no Rio, para ajudar no operação da polícia - Júlio César Guimarães/UOL
Blindados da Marinha chegam à Vila Cruzeiro, no Rio, para ajudar no operação da polícia Imagem: Júlio César Guimarães/UOL

Daniel Milazzo<br>Especial para o UOL Notícias

No Rio de Janeiro

25/11/2010 14h11Atualizada em 25/11/2010 15h40

Sob clima de forte tensão e medo, os moradores do bairro da Vila Cruzeiro, onde a Polícia Militar realiza uma megaoperação contra traficantes no Rio de Janeiro, enfrentam várias dificuldades de acesso e de transporte, mas algns deles moradores da região apoiam a intervenção no local.

O comércio está fechado e há pouco movimento nas ruas. Motoristas e cobradores da Viação Nossa Senhora de Lourdes, empresa de ônibus que faz o serviço até a Vila Cruzeiro, tiveram que voltar para a garagem porque os ônibus não estão subindo até lá. Os poucos ônibus que passam pela avenida Brás de Pina passam vazios.

William Cristiano, 31 anos, funcionário de um supermercado da região, diz que tem familiares que moram na Vila Cruzeiro e que eles não estão conseguindo sair de lá, por causa dos tiroteios. Segundo ele, até o contato pelo telefone está complicado. "Está 'brabo' até de trabalhar. A operação veio na hora certa. O certo seria o Exército na rua de novo", disse ele.

Rogério de Brito, 41 anos, é motoboy de uma farmácia da Penha, perto da Vila cruzeiro. Ele não foi trabalhar hoje e também apoia a operação: "Já estava na hora. Os caras [traficantes] são muito abusados, tem muito vagabundo na pista", disse. Ele é de Pernambuco e mora na Penha há 21 anos e só neste ano, teve duas motos roubadas no bairro.

O diretor do Instituto Brasileiro de Inovações em Saúde Social (Ibiss), o holandês Namko van Buuren, disse que o clima na favela está muito tenso. “Os moradores tentam se esconder atrás do cimento das casas com medo de bala perdida”, afirmou. O Ibiss atende até 5.400 crianças por semana, dentro da Vila Cruzeiro.

Segundo ele, muitos moradores já saíram da comunidade por causa do confronto. Van Buuren vê com reticência a ocupação da polícia na favela. “A gente não apoia porque muita bala perdida atinge mais os moradores.

Preocupado, o diretor do Íbis lembrou que os traficantes “têm um total controle de tudo que está acontecendo. Eles têm várias câmeras”.

Entenda os ataques

Uma onda de violência assola o Rio de Janeiro desde o último domingo (21), quando criminosos começaram uma série de ataques e incendiaram veículos –mais de 50 casos já foram registrados no Estado até esta quinta-feira (25).

Na segunda-feira, as autoridades fluminenses consideraram os ataques uma resposta à política de ocupação de favelas por UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e à transferência de presos para presídios federais. A intenção seria colocar medo na população. 

A polícia investiga se os ataques estão sendo orquestrados pelas facções criminosas Comando Vermelho e ADA (Amigos dos Amigos). Na quarta-feira, oito presidiários foram transferidos do Rio para o presídio de segurança máxima em Catanduvas (PR).

Desde o começo da semana, uma megaoperação está sendo feita em diversas comunidades da capital, sendo a Vila Cruzeiro, no subúrbio do Rio, o local com combates mais intensos.

Uma determinação do comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte, obrigou todos os policiais de folga a retornar para seus batalhões. A Marinha foi enviada para ajudar no combate e o governo federal enviou reforço da Polícia Rodoviária Federal.

Mais de cem pessoas já foram presas e mais de 30, mortas durante os combates. Grande quantidade de armas e drogas estão sendo apreendidas diariamente. A operação em resposta aos crimes não tem data para acabar, informam as autoridades. .