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Polícia afirma que "Madoff mineiro" não agiu sozinho em suposto golpe a 2.000 pessoas em MG

Rayder Bragon<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Belo Horizonte

14/12/2010 21h56

Os delegados da Polícia Civil de Minas Gerais Islande Batista e Anselmo Gusmão, que cuidam das investigações sobre o caso do empresário Thales Emanuelle Maioline, 34, acusado de prejudicar 2.000 investidores mineiros em ao menos R$ 50 milhões, disseram nesta terça-feira (14) que ele teve ajuda de outras pessoas no suposto golpe, apesar de o acusado querer assumir sozinho a autoria da fraude.

Após se entregar à polícia no último domingo, ele depôs ontem e hoje na Delegacia de Defraudações, em Belo Horizonte. A prisão havia sido decretada em agosto deste ano, mas ele estava desaparecido.

Maioline está preso no Ceresp São Cristóvão, anexo ao Departamento de Investigações de Minas Gerais, na capital mineira. Ele ganhou o apelido de “Madoff Mineiro” em alusão ao ex-investidor americano de Wall Street Bernard Madoff, condenado a 150 anos de prisão por ser acusado de operar um esquema bilionário de pirâmide financeira nos EUA.

“Apesar de ser um cidadão de extrema inteligência, os termos técnicos e a forma como foi montado o esquema, sozinho ele não dava conta de fazer. Nós estamos investigando, mas isso leva tempo e é o que nós temos mais trabalhado nos últimos meses”, disse Gusmão. Ele revelou que familiares do suspeito já foram ouvidos.

Segundo as investigações, Maioline convencia investidores a aplicar dinheiro em esquema análogo ao conhecido como “pirâmide financeira” e intitulado “Clube dos Vencedores”, operado pela empresa Firv Consultoria e Administração de Recursos Financeiros Ltda. A empresa era uma espécie de clube de investimentos, mas não tinha autorização da CMV (Comissão de Valores Imobiliários) para atuar no mercado financeiro.

“Na medida do possível, ele está tentando eximir algumas pessoas de envolvimento, principalmente os familiares. [A fraude] era uma arapuca muito bem orquestrada. Nós estamos tentando apurar quem estava por trás dele. Foi um golpe muito bem feito. Era o golpe clássico da pirâmide, mas com [o chamariz de] uma pílula dourada”, explicou o delegado.

Maioline prometia rendimentos mensais de 5% sobre o montante aplicado e bônus semestrais de 30%. No entanto, segundo os delegados, havia a necessidade de atrair novos investidores para saldar os compromissos assumidos com os sócios mais antigos. A propaganda para atrair novos clientes era feita prioritariamente pelos próprios investidores.

O inquérito policial tem 32 volumes, com quase 11 mil páginas, segundo a polícia. Até o momento, foram ouvidas mais de 350 pessoas vítimas da suposta fraude.

“O amigo falava para um amigo que, por sua vez, falava para outro amigo e, assim, foi se criando uma bola de neve. Eles diziam: ‘Olha, o Thales não deixa de depositar [mensalmente] os 5% na conta dos investidores”, disse o delegado Batista.

Segundo os policiais, foi pedido o bloqueio da maioria dos bens conhecidos de Maioline.

Entre os prejudicados, distribuídos em 14 cidades mineiras, estão pessoas que investiram a partir de R$ 2.500, de acordo com as investigações, mas há comprovação de investimento individual de R$ 2 milhões. 

De acordo com as investigações, o acusado se escondeu boa parte do tempo na Bolívia, durante os 140 dias em que esteve foragido da Justiça.

O delegado Islande Batista afirmou que Maioline será indiciado por estelionato, uso de documento falso, falsidade ideológica e falsificação de documento público, além de haver a possibilidade de ser enquadrado no crime de formação de quadrilha.

Se for considerado culpado em todos os crimes e receber pena máxima, Maioline poderá ficar preso por 27 anos.

O suspeito disse a um jornal local, antes de se apresentar à polícia, ter resolvido se entregar ao tomar ciência de que a irmã e um amigo, que respondiam pela empresa na ausência dele, estavam sendo ameaçados pelos investidores e que ainda poderiam ser presos. Segundo os delegados, a prisão temporária expira na próxima quinta-feira (16).

Depressão

Conforme o delegado Islande Batista, algumas vítimas do golpe se apresentaram à polícia “depressivas”, “doentes” e “desesperadas”. Os delegados ainda relataram a possibilidade de ao menos um investidor ter tentado o suicídio após ter investido seu dinheiro no fundo.

“Tem pessoas que perderam tudo. Não tem nada. Tem pessoas que venderam imóveis, carros para fazer as aplicações acreditando nesses 5%. Só que esses 5% não iriam perdurar a vida toda”, relata Batista.

No entanto, ele afirmou que algumas vítimas do suposto golpe não deverão procurar a polícia. “Alguns investidores não vão nos procurar porque temem ser indiciados por crime contra a ordem tributária. Várias pessoas que faziam esse tipo de investimento não declaravam imposto de renda”, explicou. Porém, ele adiantou que a relação dos investidores identificados será repassada à Receita Federal.